Na semana passada eu já cheguei na Feevale me martirizando: havia esquecido o dinheiro em casa e bateu aquela fome. Fui até o Tiririca com uma mísera moeda de um real, já sabendo que lá ela não poderia me ajudar muito.
Por fim, comprei uma dessas rapadurinhas de 75 centavos, que são baratinhas e enganam bem o estômago. Olhei para o relógio: 19h15. Sim, dava tempo. Resolvi dar uma folheada no Correio do Povo, e por ali fiquei, e enquanto lia as amenidades da vida, a absolvição da Jaqueline Roriz e a resistência do Kadafi, enquanto eu lia essas coisas leves eu baixei a guarda e também a mão que eu segurava a rapadurinha.
De repente, senti algo molhado e ao mesmo tempo meio áspero na minha mão. Olhei pra baixo e não acreditei: um cachorro desses bem peludões tinha dado uma lambida na minha rapadura, mas uma lambida vigorosa, cheia de saliva.
Que desgraçado! #$%@#! Tive ímpetos de falar pro tal cachorro umas verdades bem no fuço dele, dizer que a mãe dele é uma baita de uma cadela e dizer-lhe todos os palavrões que me viessem à cabeça, mas me contive, você sabe, os defensores dos animais estão em toda parte, e há boatos de que muitos deles são perigosos.
Quando eu levantei pra colocar a rapadurinha lambida no lixo, o cachorro me olhou com uns olhos que não têm como descrever de outra forma: olhos de cachorro pidão. Eu encarei ele, ainda irritado, e ele continuou com aqueles olhões arregalados, olhos suavemente tristes, olhos de quem já foi muito maltratado.
O olhar dele me desarmou. Me abaixei e dei o que restava da rapadurinha pro cão esfomeado, que só teve um abano de rabo para me agradecer, mas juro que isso tudo conseguiu melhor a minha noite.
Na Feevale, os cachorros fazem parte da vida acadêmica |
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