Tirei um tampão do joelho uma vez.
Eu tinha uns cinco anos se muito, estava
jogando bola no pátio, e quando percebi
estava no chão. Quando percebi,
estava doendo.
Minha avó me fez lavar o machucado, me fez
suportar um merthiolate ardido – naquela época o merthiolate ardia, que
infância difícil! – tudo sobre a promessa de que, com aquilo, a ferida ia parar
de incomodar.
Lembro que esperei uns segundos fazendo
careta de dor, porque não gostava de chorar. E o machucado lá, ardendo e ardendo.
- Quando para de
doer? – perguntei, choramingando.
Minha avó me olhou, com cara de pessimismo.
- Tu vai ter que
esperar sarar. Isso demora. – sentenciou ela.
Aprendi com meu joelho ensanguentado que as
feridas do corpo precisam de tempo pra cicatrizar. Precisam de remédio,
precisam ser cuidadas com um zelo quase maternal, para que então, lentamente,
dia após dia, a pele se restabeleça no local.
O mesmo ocorre com as feridas da alma. Você
está lá, abatido, sangrando pela queda inesperada, prensado pelas vicissitudes e
parece que a dor nunca vai passar, que aquela é uma página interminável que
nunca será virada.
Mas com o tempo, a dor passa.
Disso, você pode ter certeza: um dia, a dor
passa.
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