Ontem,
no mesmo dia em que Ariano Suassuna morreu, ontem meu avô completou 84 anos. Há
uma característica que os iguala, ou igualava: o insistente bom humor. Na
filosofia de vida de ambos, há sempre espaço para um gracejo, mesmo que seja
para tratar dos assuntos mais espinhosos e delicados.
Meu
avô é um homem de histórias. De causos, como ele mesmo diz. Sei que cada vez
que ele conta uma anedota antiga, está na verdade trazendo para aquele momento
resquícios de outros tempos, e como uma particularidade: são sempre causos felizes.
Raramente você o ouvirá se lamentando. Vejo nisso uma estratégia inteligente: se
você não pode rir do presente, ria do passado.
Afinal,
o importante é sorrir, porque a realidade que vale é a realidade que nós
criamos.
Certa
vez, Suassuna cravou a seguinte frase: “Os mentirosos são parecidos com os
escritores que, inconformados com a realidade, inventam outras”. É uma frase
que desnorteia o leitor, e depois o faz refletir. Na verdade, toda a
literatura de Suassuna foi assim, desconcertante, como o ataque da Alemanha
Em
outra oportunidade, o eterno imortal ainda diria o seguinte: "Tenho
duas armas para lutar contra o desespero, a tristeza e até a morte: o riso a
cavalo e o galope do sonho. É com isso que enfrento essa dura e fascinante
tarefa de viver."
O
riso.
O
sonho.
É de
pessoas assim que o mundo precisa. São essas as que realmente fazem falta.
Quem
não se conforma com o que está posto, quem reinventa a realidade.
São
essas as pessoas que nunca morrem.