Lembro
bem da primeira e única vez em que apanhei na minha infância. Eu tinha uns sete
ou oito anos e estava assistindo TV quando a minha mãe veio em minha direção,
furiosa.
Alguns
dias antes eu havia pegado um de seus utensílios de cozinha para brincar, não
lembro o que era. E agora o objeto havia sumido, mesmo que eu tivesse certeza
que o tinha guardado no lugar. Sem nada temer, resmunguei:
-
Eu guardei onde estava.
E
então, para minha surpresa, levei duas rijas palmadas na bunda. Lembro bem o
que minha mãe falou:
-
Eu não to te batendo porque o objeto sumiu, mas porque tu mentiu. Mentir é
muito feio!
Bem
assim ela falou.
E
eu lá, segurando as lágrimas. Doeram as
palmadas, mas a injustiça doeu mais.
Não
conto essa história por mágoa ou algo assim, nada disso. Sei que de um modo
meio torto, minha mãe naquele dia quis me ensinar um valor, um princípio muito
importante, que é até raro nos dias atuais.
Mas
o resultado foi um pouco diferente do planejado: naquele dia eu aprendi que o mundo é
injusto. Mesmo que você esteja certo, mesmo que você fale a verdade, é
possível que as coisas dêem errado, é possível que o julgamento que façam de
você seja ruim.
Aliás,
existem situações em que é melhor nem falar a verdade mesmo.
Se
uma mulher lhe perguntar se está gorda, ou quando ela entrar naquela discussão
interminável sobre o futuro do relacionamento, ou ainda quando ela quiser saber
o que você acha de ela mudar o cabelo e fazer umas mechas; desconverse, mas
jamais dê a sua opinião.
As
mulheres falam mais do que os homens, falam quase o tempo todo, e isso acaba as
expondo mais àquilo que elas pensam. E nós homens pensamos que sabemos mais do
que elas, que temos sempre todas as respostas, o que também acaba nos expondo
ao que pensamos, mesmo que de modo mais imperceptível.
Ou
seja: elas não querem opinião, querem ser ouvidas. Se quisessem opinião sobre
um cabelo novo, não perguntariam para nós, que usamos o mesmo corte a vida
inteira. Falar a uma mulher aquilo que se pensa é tiro no pé. Melhor mesmo é
falar o que elas querem ouvir.
Isso evita brigas, evita choros, evita dor de
cabeça e evita que você durma no sofá.
Pode parecer errado, mas é a lei da sobrevivência
Agora,
se preferir falar a verdade, prepare-se: a vida é injusta.