Sempre imagino um início de história. Avô e neto caminham lado a lado, lentamente. É a hora da tardinha.
O sol está se pondo e proporciona um espetáculo alaranjado no céu.
O início é sempre
assim.
Na seqüência, os dois conversam.
- Vô, amanhã o pai vai trazê o meu play 3! – conta o menino,
entusiasmado.
Ah, esqueci! O neto
tem uns seis, talvez sete anos. Detalhe importante esse, e eu o esqueci.
Sou um péssimo narrador, mas vamos em frente.
Agora o avô começa a refletir. Eu só posso falar sobre a
reflexão do avô, porque não faço idéia de
como pensa uma criança de seis anos, e fico com medo de escrever bobagem. O
curioso é que eu já tive seis anos, já estive no lugar da criança, e no do avô ainda
não.
O avô reflete e não compreende. Compreende que é um desses
joguinhos que prendem as crianças por horas a fio em frente a um monitor ou a
uma tela de televisão. Isso ele compreende. O que ele não consegue entender é porque não poderia ser uma bola, um
pião, uma revistinha de figuras.
- No meu tempo – começa
o avô...
As pessoas mais velhas precisam dizer “no meu tempo”. É
certo que o tempo passado foi sempre melhor do que o atual para quem viveu
nele. E é certo que sempre vai causar espanto nos mais jovens.
- No meu tempo – diz o avô – nós brincávamos com uma bola
feita de panos velhos- sua voz vai ficando
mais baixa - A gente era tão feliz e não sabia...
O olhar do velho fita o horizonte, mas na sua cabeça
passeiam cenas muito mais distantes do que o horizonte. Um ar de nostalgia preenche a cena, mesmo que o neto não perceba.
O menino franze o cenho por um instante. Vai perguntar algo.
O que será?
Mas então, se distrai com um cachorro que passa cheirando
tudo o que encontra no caminho.
E esquece o que iria
perguntar.
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