Todos os dias, uma moedinha.
Já fazia várias tardes que eu observava aquela menina,
sempre com o mesmo gingado ao andar, e sempre jogando uma moeda na velha fonte
de pedra. A moça tinha um ar angelical, com o cabelo a agitar-se melodiosamente
sob o efeito do vento. Uma moeda na fonte...Que desejos perpassariam sua mente?
E assim, tentando adivinhar seus pensamentos secretos, eu
a observava se afastar lentamente, até desaparecer na curva de uma esquina
qualquer. Era como um ritual: ela passava, lançava uma moeda, e desaparecia. E
eu? Eu observava.
Então, numa tarde inquieta, caiu sob o concreto
escaldante da cidade uma dessas chuvas de verão. Abriguei-me debaixo de uma
marquise, sentindo as meias encharcadas dentro dos sapatos.
O relógio, - implacável! -, fazia os minutos escorrerem
rapidamente.
Ela não virá, concluí, desanimando-me.
Percebi-me como um jovem apaixonado, que espera ansioso
pela namorada que insiste em retardar sua chegada. Namorada. Gostei de ter
pensado nessa palavra. Namorada, repeti baixinho; inúmeras vezes, talvez para me
distrair e espantar aquela aflição pueril.
Quando eu já quase desistia da espera, ela surgiu. Com um
vestido azul anil, protegida por um pequeno guarda-chuva, as gotas d’água
salpicando seus tornozelos delicados.
Parou um instante diante da fonte, contemplou-a, e jogou
ali uma moedinha, para, em seguida, continuar seu caminho.
Suspirei. De amor ou de alívio?
E então, sorri: ela sempre vem.
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