Não, ninguém jamais adivinharia.
Pois eu ouvia a música “Eu Deixaria Tudo”, evolada
em uníssono nas vozes de Leandro e Leonardo. E digo mais: enquanto ouvia,
sentia que essa era uma canção cantada com alma, uma canção feita para ser
ouvida em uma manhã chuvosa de março.
Estou caindo no seu conceito, eu sei. Sertanejo,
francamente!
Será que gostar de uma música do Leandro e Leonardo
significa que meu intelecto é menor? Não sei, mas isso me preocupa um pouco.
O que me consola é saber que aprecio também os
clássicos. Sobretudo, na literatura. Agora mesmo, enquanto escrevo estas linhas,
estou pensando que preciso terminar logo a leitura de Madame Bovary, obra de
Gustave Flaubert, porque estou ansioso para descobrir até onde vão as angústias
e infidelidades da melancólica camponesa que dá nome à obra.
Mas, não esqueçamos da música. Gosto em especial do
trecho em que o intérprete canta com lamúria:
Fiquei perdido sem você no meio de um deserto,
Me perguntando se
ainda sobreviverei.
Meu sentimento sem você ficou tão triste e vazio.
Já
percebi que sem o seu amor eu não renascerei.
Porque a saudade está quebrando
o que resta da minha ilusão...
A angústia do amor frustrado é o que dá alma à canção.
A dor, a tristeza, o desalento; aí estão sentimentos humanos que têm mais
profundidade do que a alegria ou o riso. Afinal, como disse Oscar Wilde, a dor
não tem máscara. Também por isso, Os Sofrimentos do Jovem Werther se tornou uma
obra eterna. Se houvesse final feliz, a poesia estaria extinta, seria apenas
mais uma novela comum, como as que a Globo produz, e você assiste antes de
dormir.
Estou
fazendo todas essas voltas apenas para dizer que gosto disso; de pessoas que
vivem com paixão, que cantam aos quatro ventos as dores que lhes afligem, por
mais melosas que pareçam aos demais. É uma forma boba de viver, eu sei; mas ao
menos é uma forma sem máscaras. Por isso, permito-me confessar de que gosto da
música Eu Deixaria Tudo. Pode até ser clichê, mas naquelas notas
melodiosas, percebe-se que o amor só existe pela dor.
O amor. A
dor. Verso e reverso de uma mesma moeda: a vida. Me parece um bom pensamento
para uma manhã chuvosa de quarta-feira.
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