Vi ontem uma cena que me deixou nostálgico. Foi quando
a tarde já estava caindo, cedendo lugar à noite fria, e dois meninos jogavam
com uma velha bola, numa rua sem saída. Ali, naquele instante fugaz, nada
mais parecia importar: as guerras, as eleições, o aumento da conta de luz. Nem
mesmo o frio enregelante de junho era capaz de arrefecer a vontade com que
os meninos travavam aquela disputa.
Sei bem o que sentiam aqueles garotos, porque eu
também já abri a costura de muitos pares de tênis em jogos de fim de tarde. Já
esfolei o joelho, sem dar muita atenção pra isso; e incontáveis vezes voltei
para casa, todo sujo e suado, pronto para ouvir o ralhar da minha mãe. Sei bem
o que se pensa nestas horas, e sinto saudade de quando eu era imbatível, porque
sabia que nada poderia valer mais do que fazer a bola perpassar a linha
imaginária da goleira feita no improviso.
Por um instante, quis que fosse essa a imagem que o
Brasil vai passar ao mundo durante a Copa que se aproxima. As arenas, os
estádios de aço e concreto que foram erguidos de norte a sul, eles são
grandiosos e pulsantes; mas em nada se comparam ao grito de gol daqueles
meninos correndo; e sequer conseguem chegar perto da beleza que irradia da cena
singela que é o futebol na rua, os pés descalços, o sorriso de duas crianças.
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