Os colegas de trabalho foram
os primeiros a perceber. Marcelo não era mais o mesmo. Passava horas calado, não
ria das piadas na rodinha do café, e nem do mau humor do chefe ele reclamava
mais.
- Deve ter levado um chifre –
opinou um.
- Ele está com depressão –
sentenciou outro.
Poucos dias depois, a verdade
apareceu:
- Meu celular pifou. Mandei
para a garantia - revelou, desesperado,
a um amigo, - Cara, eu não aguento mais viver sem twitter, facebook, whatsapp,
snap, tinder...
A lista era interminável.
Com o passar dos dias, Marcelo
só piorava. Além de se isolar ao máximo, fumava um cigarro a cada quinze
minutos, e exibia olheiras cada vez mais profundas.
Na segunda-feira, ele não
apareceu na empresa. Nem na terça. Ao meio-dia, os amigos chegaram à conclusão
de que algo grave poderia ter acontecido. Combinaram de visitar o colega no
final do expediente.
Foram até seu apartamento,
preocupados, e lá encontraram um cenário desolador. Roupas sujas por todos os
lados dividiam espaço com tocos de cigarro e restos de comida. Com a barba por
fazer, Marcelo os atendeu só de cueca e meias, os cabelos desgrenhados.
- Santo Deus, mas o que
aconteceu contigo!? –perguntou um dos colegas.
- Teu celular voltou! – disse
outro, apontando para o objeto em cima da mesinha de centro.
- Eu sei, eu sei... – respondeu, desanimado.
- Mas...e então?
- Não consigo ver tudo! –
grunhiu Marcelo.
Então, os amigos
compreenderam. Marcelo não conseguia dar conta de ver todas as atualizações no
Whatsapp. Eram muitos grupos: amigos, colegas de trabalho, o pessoal da
faculdade, a galera do futebol na quinta à noite. Todos tinham muito a
compartilhar: textos, frases, perguntas jamais respondidas, imagens engraçadas,
vídeos curtos, pornografia barata.
Os amigos se entreolham em
silêncio. Apreensão geral.
E agora, o que fazer?
Um bipe anuncia a chegada de
uma nova mensagem no aparelho.
Marcelo deixa o peso do
corpo cair sobre o sofá, desalentado.
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