Ninguém tinha
tempo ou interesse para ouvir o que Susanita tinha a dizer. E eram tantas
coisas! As descobertas na escola, a discussão com a melhor amiga, a
inconformidade em ter que arrumar o quarto todo santo dia, a paixão secreta
pelo vizinho, um garoto bonito e dois anos mais velho. Pensando bem, algumas
coisas Susanita preferia que ninguém soubesse. Corava só de imaginar que seus
segredos pudessem um dia ser revelados ao mundo. Sentia-se boba de repente, e os pensamentos iam longe.
Pensou em ter um amigo
imaginário. Mas...muito sem graça! Além do mais, se era para falar com alguém
invisível, então ela poderia muito bem continuar apenas com os próprios
pensamentos. Foi a dinda Vitória, a mulher mais linda que Susanita conhecia,
quem encontrou a solução para o problema.
Sem necessidade
de data especial ou comemoração, em um desses almoços de domingo, a dinda lhe
trouxe um presente. Em um pequeno embrulho amarelo, havia um caderno, que
depois Susanita identificou como sendo, na verdade, um diário.
- Tu já está
ficando mocinha – disse a dinda Vitória – daqui uns tempos, vai querer lembrar
como pensava no passado – encerrou ela, piscando.
Radiante, a
menina desandou a escrever. Faltavam folhas para dar conta de tantas ideias.
Umas bem malucas, aliás. Mas não tinha problema, porque a garota jamais relia
aquelas linhas. Depois que a caneta feria o papel, era como se aqueles segredos
não fossem mais dela, e ela não tinha o direito de violá-los.
Era esse o
trato. Susanita não lia os segredos do diário, e o diário protegia os pensamentos
de Susanita.
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