Eram
quatro amigos.
Cresceram
juntos, estudaram na mesma escola, moravam perto um do outro; e ali naquelas
ruas esburacadas da pequena cidade do interior, formaram aquele laço de cumplicidade que só os jovens conseguem formar.
O
quinto do grupo era Tupã, um desses cachorros grandões de raça indecifrável, com
pêlo espesso e orelhas tristemente caídas,
que aparecera ninguém sabia de onde e se instalara nos fundos da casa de Pedro.
Pedro era o mais velho do grupo, e apesar da relutância inicial, apegou-se ao
cão rapidamente.
Fazia
calor na tarde de janeiro em que Pedro apareceu na casa de Renato, sem seu fiel
escudeiro do lado.
- Cadê o Tupã? –
estranharam os amigos.
- Não vi ele hoje ainda. Deve estar
atrás de alguma cadelinha por aí...- maliciou Pedro.
Mas,
para desespero do grupo e comoção de todo o bairro, Tupã não voltou mais naquele dia, e nem nos dias mormacentos que se
sucederam naquele mês claro e ao mesmo tempo terrível.
Tupã sumiu.
Não
deixou carta de despedida, desapareceu sem dar o seu latido de adeus, sua
lambida derradeira, sua última fungada no canto da casa.
Com
o tempo Tupã foi esquecido, virou uma daquelas lembranças boas, mas distantes; daquelas que a gente se pergunta se
realmente aconteceram, como um amor de verão.
Todos esqueceram Tupã, menos Pedro.
Em
cada um dos milhares de cachorros que Pedro via em sua vida, todos tinham pelo
menos algum traço de Tupã, todos eram
também, de alguma forma, o seu Tupã, o seu amigo leal que havia
desaparecido para nunca mais voltar.
Foi
assim por muito tempo, até o dia em que a namorada chegou em casa mais cedo,
sorridente. Trazia consigo uma surpresa. Um
pequeno poodle preto, com ar amedrontado, que parou na entrada, aflito.
Pedro
levantou-se trêmulo, e assim trêmulos - ele e o poodle-, os dois se encararam
por alguns segundos, até que perceberam
que podiam confiar um no outro.
Então, Pedro abaixou-se lentamente e
afagou o pêlo do cão com ternura.
- Tupã...
– murmurou.
- Não, amor –
quis corrigir a namorada – o nome dele é Fred.
E
Pedro sorriu para si mesmo, como quem
compreende algo que está muito além do que a namorada pode compreender.
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