Fazia frio naquela manhã chuvosa de
segunda-feira.
Fred
chegou na parada de ônibus, com os pés encharcados, xingando palavrões para si
mesmo e pensando com raiva: pode acontecer
algo bom em uma manhã assim?
Como
uma resposta dos deuses do Universo, ele a viu.
Morena clara, os longos cabelos
cacheados, um ar de vago desinteresse, sentada a um canto,
provavelmente também esperando o ônibus.
O
mundo, afinal, não é tão ruim assim, pensou, enquanto contemplava aquela
mulher. O que ela tinha que o deixava tão fascinado? Encolhida de frio, ela não
poderia ser tão bonita assim...
Mas
havia algo mais, algo subentendido por trás de seu semblante delicado, um ar de...
de mistério talvez... Era isso! Ali estava uma mulher misteriosa, uma
mulher diferente de todas as outras, uma mulher que pedia para ser desvendada,
para ser explorada em todas as suas possibilidades, uma mulher com conteúdo!
E aqueles olhos? Fred
tinha a impressão de que aquele olhar que fitava o vazio era tão profundo que
poderia afogar quem o contemplasse por muito tempo.
Era
preciso agir, mas como se aproximar dela, sem sequer saber seu nome? O que dizer
para não assustá-la?
Os minutos se sucediam, e Fred
naquela muda expectativa de quem não sabe se terá ou não coragem de fazer aquilo
que deseja, molhava-se cada vez mais, agora já não se
importando com isso, não se importando com o que quer que fosse.
E
então, ele viu horrorizado o alvo de seu encantamento levantar-se lentamente e
entrar no carro que acabara de encostar. Um baque surdo da porta se fechando, e com o baque a percepção súbita de que jamais a veria novamente.
Era o fim.
Um
final doloroso, porque acabava com algo que sequer havia acontecido, e o amor que dói mais é aquele que não se
realizou.
O
ônibus de Fred enfim chegou, e ele partiu, agora
mais derrotado do que nunca, pensando desolado: pode acontecer algo bom em uma manhã assim?
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