Trabalho na produção de um noticiário que começa às 7h da
manhã. Temos de aprontar tudo pouco antes dos apresentadores entrarem no ar, o que significa que tenho que acordar muito, muuito cedo.
Já me acostumei a encarar as ruas vazias
no trajeto de ida para a Rádio. Até as pedras da rua parecem dormir enquanto eu
já estou desperto. Faz parte. Aliás, é
até bom.
Porque tenho pensamentos de madrugada que não me ocorreriam em qualquer outra hora
do dia.
Aconteceu ontem mesmo: 5h25 da manhã, e eu
refletindo enquanto caminhava: “Lóbulo!
Quem inventou a palavra lóbulo!?”. Que palavra engraçada e misteriosa!
Lóbulo, você sabe, é aquela parte mais
mole e redonda da orelha, que as mães puxam quando os filhos aprontam, ou ainda,
que os casais de namorados mordem quando estão excitados.
Lóbulo!
Que nome incrível. Falei em voz alta, bem devagar, para
perceber a sonoridade da palavra:
LÓ-BU-LO!
E nisso percebo que não estou assim tão sozinho nas ruas do
centro de Igrejinha, porque me encara um
desses limpadores de rua que, assim como eu, acordam muito, muuito cedo
para trabalhar.
Percebo sua expressão de estranheza. Ele me acha um louco,
mas volta a varrer, e eu sigo andando.
A madrugada também segue, como se a sua tranqüilidade não
tivesse sido interrompida, mas eu não paro de refletir: LÓBULO!
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