- No meu tempo, quando as
pessoas ficavam nervosas, elas roíam as unhas... – disse o pai,
erguendo os olhos do jornal para encarar a filha.
- Já roí todas, agora só me resta essa
caneta – respondeu a garota.
- Ansiedade nessas horas só
atrapalha...
- Mas faltam só cinco dias, pai!
- E daí? Tu é tão inteligente...
- Mas é a UFRGS. E Medicina ainda!
- Exatamente – disse o pai, paciente –
Apenas uma prova, Mariana. Não é fim do mundo.
- E se eu não passar? Imagina pai, ter
que passar por isso tudo outra vez! E aí garanto que todos os meus amigos
passam, só pra eu ficar pior... Vou me sentir uma burra, e sei que o senhor vai
ficar decepcionado. Aliás, mais decepcionado do que aquela vez que o Inter
perdeu pro Mazembe...
- Isso não é verdade, filha. E tu tem
que ter pensamento positivo. Tu vai passar!
- E se eu passar e descobrir que não é
isso que eu quero?!
- Hoje não dá pra argumentar contigo –
desanimou o pai.
- Imagina – continuou Mariana – vou
acabar virando uma desempregada, uma sem-teto. Imagina, pai, se eu entro pro
MST? O senhor odeia esses movimentos...
- Já pensou em tomar algum calmante?
- Calmante não...mas e se eu tomasse um
desses remédios que dizem que aumenta o raciocínio? Imagina pai, se eu tomo uma
dessas pílulas e tiro o primeiro lugar? Poderia até escrever um livro!
O pai suspira. E tenta mudar de
assunto:
- O que tu vai querer jantar?
- Logaritmos e exponenciais! – exclama Mariana.
- Ahn?
- Quer dizer, quero só uma salada....
O pai resolve voltar a ler o jornal.
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