Era
uma noite sem lua nem poesia. No ar parado, reinava um silêncio de morte. Sentado
em um banco encardido, incrustado naquela praça quase vazia, eu observava uma
figura a poucos metros de mim.
Era
uma mulher. Estava escorada em um muro vulgar, o cigarro pendendo entre os
dedos finos. De tempos em tempos, ela levava o cigarro aos lábios, e depois
soprava para cima uma fumaça branca e preguiçosa, dando àquele gesto ares de ritual.
Na
penumbra, seu rosto parecia decidido, endurecido pelo tempo, mas, ainda assim,
de feições delicadas. Tinha um ar de cansaço, de derrota talvez. Estava com roupa demais para ser uma puta.
Estava solene demais para ser incomodada.
E
eu, pobre diabo, observava a cena com miradas indiscretas. Eu poderia ser um
estuprador, um ladrão, um maníaco; e nada disso faria com que a minha presença
deixasse de ser dolorosamente ignorada. A cada baforada, eu tinha mais certeza:
a mulher sabia que eu não era ninguém.
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