"Como é que o Papai Noel não esquece de ninguém? Seja rico ou seja pobre, o velhinho sempre vem...".
Maldita música de natal.
E o pior é que ela sempre volta. Todo ano, a mesma cantiga. Até gosto da parte do "sapatinho na janela do quintal", porque evoca uma certa pureza, uma capacidade que apenas as crianças têm de acreditar que o mundo pode ser um lugar mágico, em que um velhinho generoso chega lá do outro lado do mundo, com um presente nas mãos e um largo sorriso no rosto.
Chego a entrar no clima. Imagino aquela cena clássica, o trenó sendo puxado por renas voadoras, a lua cheia ao fundo. Tudo muito bonito. Então, quando chega o trecho que fala do rico e do pobre, e a magia se acaba. O encantamento, invariavelmente, se transforma em desalento.
Porque desconfio que há sim crianças esquecidas pelo senhor Noel. Desconfio que, ao contrário do que prega a cantiga, o natal não seja exatamente o mesmo para meninos ricos e pobres.
Aliás, desconfio que todos saibam disso. Por que, então, tentamos nos convencer do contrário?
Seria uma tentativa de negar o problema para nos sentirmos menos culpados? Afinal, como apontar responsabilidades para algo que sequer existe? Sim, só pode ser isso. Fica mais confortável pensar que o "Papai Noel não esquece de ninguém". Mas a verdade é que a música está lá, mais forte a cada ano, para me lembrar, sempre que é entoada, que não, as coisas não são bem assim.
Maldita música de natal.
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