Quando penso no sentido da
vida, lembro da história de Noé. Você sabe quem foi Noé, claro que sabe. Pois
esse mesmo Noé, da arca e do dilúvio, ele viveu novecentos anos.
Deve ter sido uma vida chata.
E pior; triste.
Porque as coisas boas da vida
sempre carregam consigo uma sensação de brevidade, de algo passageiro. As
férias passam voando. Um riso ou um orgasmo duram poucos segundos. Logo, algo
longo demais parece algo ruim, interminável.
Uma vida de novecentos anos é
uma vida de despedidas, em que uma parcela muito pequena, quase insignificante,
representa a juventude. A infância e a adolescência, justamente as melhores
fases da vida, ficam pequenas demais em um período tão longo.
Um homem mais velho é
provavelmente mais sábio, mas sabe que a sabedoria lhe custou um preço alto: as
desilusões. Com o tempo, perdemos a ilusão do amor perfeito, do mundo pacífico,
das pessoas que jamais mentem. A desilusão ensina, mesmo que nem sempre
queiramos aprender suas lições.
Por saber de tudo isso, me
compadeço de Noé. Eu, se pudesse escolher, não quereria viver tanto. Mesmo que
estejamos sempre reclamando da falta de tempo, no fundo a gente sabe que é tudo
uma desculpa. Quem sabe amanhã, dizemos. E vamos deixando para depois. E, por
deixar para depois, nunca aprendemos a tocar aquele instrumento. Nunca ligamos
para ela. A viagem fica para outra hora. A brincadeira na chuva, para os mais
jovens. Até os erros são deixados para depois.
Não somos imortais. Não
vivemos novecentos anos. Mas, mesmo assim, adiamos tudo o que queremos fazer.
Deixamos de aproveitar o dia, a vida. Que bom que não vivemos tanto. Seria
ainda mais triste adiar a felicidade por tanto tempo.
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