Oscar mal havia conseguido dormir naquela noite. Conversara
longamente com Marina, haviam falado besteiras, ela ria de tudo. Como um casal de apaixonados. Já no
final da conversa, a jovem havia sussurrado:
-Adoro homens
experientes...
E ele bebia aquelas palavras, com os olhos fechados, já
imaginando todas as possibilidades que aquela mulher jovem lhe oferecia.
Marcaram de sair na
noite seguinte.
Quando chegou ao trabalho, Oscar quase perdeu o ar. No
bebedouro, para ser vista e admirada e desejada, lá estava Marina, com um vestido justo que destacava seu corpo
curvilíneo e suas pernas longas, que na certa eram sustentadas por
delicados pezinhos trinta e cinco...
Mhmhm... – gemeu Oscar
baixinho, antes de ir para o seu lugar.
E lá passou o dia mais uma vez contando as horas para que
chegasse o final do expediente. Marina não devia imaginar, pensou Oscar, que o que mais lhe fascinava não era o seu
corpo esguio e insinuante, e sim os olhares que ela lhe lançava e que se
derramavam pela sala, cheios de promessas.
Sim, aquele olhar trazia promessas. O que queria dizer,
Oscar não sabia. Mais de uma vez chegou a pensar que se fitasse por muito tempo
aqueles olhos seria capaz de se afogar no mar de mistério que eles sugeriam.
E então, Oscar
compreendeu.
Não estava apaixonado por Marina, e sim por seus olhos. Mais
exatamente pelo mistério daquele olhar,
por tudo o que eles não diziam, mas deixavam subentendido.
Não aguentava mais. Era preciso declarar aquela paixão súbita
e arrebatadora. No horário combinado, Oscar olhou nos olhos de Marina e tascou:
- Eu amo os teus olhos, sabia? – e suspirou,
apaixonado.
- Juura? – ciciou a
moça – eu uso lentes de contato, a cor
original nem é essa...
Oscar paralisou.
Sentia-se enganado, reduzido ao mais idiota dos homens. Apaixonara-se por
olhos falsos! Como pudera ser tão tolo?
Sem explicar nada, rosnou, sem encarar a moça:
-Não me procure mais.
E virou-lhe as costas, decidido.
Marina, incrédula e injustiçada como uma Desdêmona, não
podia compreender o que havia feito de errado.
E Oscar, caminhando sempre, sentiu a cidade mais triste naquele
seu retorno para casa, e concluiu, amargurado, que não se pode mesmo confiar nas
mulheres.