Meu
Nome é Paulo.
Tenho
17 anos.
Gostaria
de ter mais o que falar sobre mim mesmo, sobre sonhos, perspectivas, sobre o
meu emprego e, quem sabe, sobre uma namorada. Mas não tenho sonhos, nem
perspectivas, nem emprego e muito menos namorada.
Aliás,
existe apenas uma coisa da qual eu tenho certeza que eu possuo.
Dúvidas.
Eu
sei que isso deve ser normal em um adolescente, mas a minha situação não é nada
normal, pelo menos para mim. A verdade é que não tenho vontade de fazer nada.
Meu pai bebe e quase nunca fala com a gente. Quando está bêbado, ele se torna
mais falante.
Na
verdade, ele grita.
E
depois, chora.
É
horrível ver ele nesse estado, mas mais horrível é a vergonha de sair na rua
depois de mais um dos espetáculos dele.
A
minha mãe só sabe fazer duas coisas na vida: trabalhar e reclamar. Admiro ela,
que dá um duro danado por mim e pelo meu irmão. Talvez um dia eu consiga dizer
isso pra ela. Talvez.
Ah,
e tem o meu irmão, o Andrei. Ele é mais velho e mais vadio do que eu, e está
sempre metido em confusão. Ele vende drogas, e vive dizendo que vai parar, mas
nunca para.
Por
causa desses problemas todos é que eu não tenho vontade de fazer nada. Porque
parece que vai ser sempre assim, parece que por mais que eu me esforce, as
coisas sempre vão dar errado, e que pobre nasceu mesmo pra se fuder. Talvez
sejam desculpas de uma mente preguiçosa e de um corpo vadio.
Pode ser.
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Sempre
fui inteligente, mas nunca bom aluno. Por preguiça mesmo. Mas passando de ano
já está bom pra mim, que tenho certeza que nunca vou precisar usar metade das
coisas que se ensinam por aqui.
Sento
ao lado do Piolho, que é como um irmão para mim. O apelido dele é Piolho porque
uma vez, acho que na 6ª série, ele apareceu na escola com a cabeça toda
raspada. E como ele odiou o apelido, acabou pegando. Hoje eu acho que ele já
nem se importa mais.
A
aula de agora é muito chata.
Poliedros.
Eu
nem acredito que daqui há uns seis meses vou me formar no ensino médio.
E
depois, como vai ser?
Mais
uma vez, tudo o que eu tenho são dúvidas.
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