Eu estava ontem nas cabines de imprensa no instante em que
começou o show de João Neto e Frederico aqui em Igrejinha, e lá do alto vi algo
que me chamou a atenção: escorados perto
do estande de mini pizza, um casal discutia.
Sei que há casais discutindo em todos os lugares e momentos
possíveis, por qualquer motivo que se possa imaginar, mas o que me prendeu naquela cena foi o fato de que a menina chorava.
Ela era muito bonita, ou assim me pareceu de longe; e aquelas lágrimas de
alguma forma a tornavam ainda mais bela.
Aliás, a tristeza
quase sempre é bela.
E bom, as pessoas geralmente evitam chorar em público, a não
ser que estejam acometidas de uma emoção realmente muito forte.
Por isso a cena me chamou atenção. Aquela menina chorava. O namorado gesticulava, parecia querer
convence-la de algo. Por vários minutos observei os dois, ela sempre triste,
ele sempre falando; e eu curioso, pensando: qual será o motivo de eles estarem
assim em uma festa?
Então, quando o show já passava da metade, desci para comprar
algo e passei perto do casal. Foram instantes breves, não mais do que alguns
segundos, mas que foram suficientes para que eu ouvisse a voz magoada da menina perguntando:
-Mas e agora, como eu
vou confiar em ti?
Apenas uma frase, e tudo se fez luz. Agora eu já sabia o que
havia acontecido. O cara traiu a menina, e ela, apaixonada que estava, aceitava
perdoa-lo. Mas como voltaria a confiar
nele?
Me compadeci do cara. Um
homem, quando trai a companheira, trai por apenas um motivo: fraqueza. O
homem que trai é frágil porque quer provar a si mesmo do que é capaz. Ele
acredita que a vida é uma eterna conquista, e para isso ele precisa ser um
eterno conquistador.
Me compadeci porque sei também que o homem que trai é um
perdedor. Alguém que derrotou a si mesmo,
e essa é a pior derrota que pode existir.
Com as mulheres é diferente. Uma mulher quando trai, também o faz por apenas um motivo, só que
diferente: vingança. É um gesto frio, minuciosamente calculado. A mulher se
vinga de tudo, desde a apatia ou ausência do companheiro até uma traição do
passado que ela fingiu engolir.
Por saber disso tudo, é que me compadeci do rapaz aflito na
festa de ontem. A menina que chorava
jamais poderá confiar nele novamente, e nisso reside todo o mal da história. Um relacionamento pode funcionar até mesmo
sem amor, mas jamais sem confiança.
Não há mais o que fazer, senão começar outra história.
Insistir é mais do que perda do tempo; é autoilusão. As mulheres são mais
frias do que os homens, tolos que são, supõem. Perdoam, mas não voltam a confiar.
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