Uma das lembranças vivas da
minha infância é lembrar do meu avô cantarolando, a beira do fogão à lenha, uma
cantiga já muito repetida:
A mesma praça,
o mesmo banco
As mesmas flores
As mesmas flores
o mesmo jardim...
Eu não entendia porque, mas aquele trecho me transmitia uma certa tristeza. Afinal, é muito melancólico um lugar que nunca muda. Ele fica lá, como se tivesse parado no tempo, mas o tempo não parou para você.
O primeiro beijo, os temores da adolescência, a felicidade do primeiro emprego, a lealdade reconhecida no olhar de um amigo. Todas essas coisas passam. Seria um contraponto cruel que o banco daquele jardim permanecesse sempre o mesmo, e que até as flores já fossem velhas conhecidas que jamais se renovam.
É triste deixar para trás pedaços importantes da nossa vida, mas mais triste ainda é nunca mudar.
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