“O bb vai nascer”.
Vai
nascer! Meu Deus, talvez já esteja nascendo! E ele ali, com dificuldades para
girar a maldita chave na maldita ignição do maldito carro. Consulta os bolsos antes de arrancar: talão de cheques, molho de
chaves, celular, uma balinha de um centavo. Beleza. Tudo o que pode ser
necessário.
O
trânsito se agiganta. Como é possível ter tantos carros na rua a essa hora da
noite? Josué se impacienta. Buzina.
Grita com o cara do carro eu lado. Que abaixa o vidro, irritado. Irritado
não. Irritada. É uma mulher.
- Só podia ser... –
resmunga.
E
segue. Acelera. Quase atropela um menino de bicicleta. Resmunga um palavrão.
Que tipo de pai deixa o filho brincar na rua até tão tarde?
E
seus pensamentos viajam em direção ao filho, o filho que ele esperou com tanta
ansiedade, e que finalmente está chegando. Ah,
quanta coisa ele vai ensinar, quantos causos ele vai contar! Já decidiu até o nome: César, como um
dos imperadores romanos.
Sim,
um nome de respeito. César não vai ser
qualquer um. Vai ser o maior camisa 9 da história do Grêmio. Pegador,
sempre com muitas namoradas, sempre fazendo festas, sempre contente...
As
divagações de Josué se dissipam rapidamente.
Acaba de passar o sinal vermelho. Menos mal que não tem ninguém no caminho,
menos mal que o hospital já está perto, menos mal que César está chegando.
Sim,
que beleza! Ele já sabe que vai ser um pai coruja. Mas sem encher muito de mimos e frescuras, que é pra não abichornar o
guri. Já está tudo planejado. O primeiro passo é colocar o pequeno César na
natação. Tem que ser cedo, desde bebê. Josué lera em algum lugar que os bebês
são excelentes nadadores.
O
estacionamento do hospital. Finalmente, finalmente! Josué está pronto para
descer do carro, com o coração a mil, quando recebe mais uma mensagem de texto
no celular:
“Não vai vir?”
E
ele estaca, petrificado. Esquecera de
pegar a mulher em casa.
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