Olhares cúmplices.
A fogueira entre eles
lançava uma luz avermelhada que distorcia vagamente as suas feições, enquanto
tentavam espantar aquele ar gelado de mar. Era uma noite sem lua.
Se tivesse lua seria perfeito, pensou Mariana.
Se tivesse lua seria clichê, Pensou Pedro.
Poderiam continuar a madrugada inteira conversando apenas por olhares, como estavam conversando; e ainda assim aquela seria a conversa mais bonita que Mariana já tivera em toda sua vida, como estava sendo.
Eu poderia chegar mais perto, pensou Pedro.
Eu poderia encostar minha cabeça no ombro dele, pensou Mariana.
Ficou com medo de que ele achasse que ela estava sendo
oferecida e não se aproximou, ainda que já estivessem grudados por aqueles
olhares demorados. Só depois de muitas latinhas jogadas a um canto, quando a
fogueira entre eles era apenas um enorme braseiro e o frio começava a vencer,
eles enfim se abraçaram.
Os dedos de Pedro deslizavam lentamente entre os fios de cabelo de Mariana, e a garota sentiu que se o mundo acabasse naquele momento ela morreria muito infeliz, porque, mais do que nunca, ela queria viver, viver, viver. Os pensamentos giravam em sua cabeça e um sorriso bobo invadiu seu rosto: estou bêbada ou apaixonada? E pensou consigo mesma que talvez naquele momento isso já não fizesse mais muita diferença, porque estava feliz, feliz, feliz.
Adormeceram até que o sol lhes despertasse. O calor aconchegante e a claridade incômoda de um novo dia. Era fogo, novamente o fogo a iluminar suas caras cansadas, caras de álcool, caras de ressaca.
À sua frente, as brasas eram como testemunhas de um sonho bom.
O tempo precisa parar, pensou Mariana. Precisa parar
para que aquela felicidade que preenchia todo o espaço ao seu redor, aquela felicidade que fazia
seus pelos se eriçarem; jamais se esvaísse com o tempo.
E sabendo que isso era impossível, sabendo que nada seria
para sempre, sabendo que todas aquelas coisas um dia iriam passar, ela experimentou
pela primeira vez a angústia que a felicidade traz consigo.
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