quarta-feira, 16 de abril de 2014

O futuro repete o passado

Pierre de Bordieu foi um sociólogo francês que desenvolveu o conceito de habitus. Funciona resumidamente assim: o sujeito utiliza, de forma consciente ou não, as experiências que viveu no passado para analisar as situações do presente e definir quais serão suas decisões no futuro.

Esse raciocínio me pareceu óbvio, e, por isso mesmo, genial. Eu já tinha a impressão de que o passado é o mais importante, mas só agora entendi o porquê. É que geralmente damos muito valor ao futuro, aos dias vindouros. Lá sim; seremos melhores, teremos mais dinheiro, mais tranquilidade, as tardes serão douradas e as noites belas e puras como é belo e puro o primeiro amor da adolescência.

Mas a verdade é que nem tudo serão flores amanhã. Supervalorizamos o futuro, idealizamos um tempo que virá, quando na verdade o que importa mesmo é o nosso passado, as nossas vivências, o que sentimos e de que formas fomos abalados ou não pelo que aconteceu ao nosso redor.

Esse crime que hoje escandaliza o Rio Grande, a morte de um menino de tenros onze anos. Leio nos jornais que o principal suspeito do assassinato da criança é o próprio pai. Que habitus pode ter gerado pessoas tão violentas, tão brutais?

E aquele crime que ocorreu aqui mesmo, meses atrás, nas ruas outrora pacatas do bairro Viaduto, em Igrejinha, também contra um menino de onze anos? Terá sido esquecido? Em que momento nos acostumamos com a violência e o sangue das manchetes misturados ao café com leite matinal?
Nesse mundo em que o presente repete o passado, lamentamos sempre os mesmos fatos, compartilhamos sempre da mesma dor e da mesma revolta. Como um pesadelo que jamais termina.


Até quando?

O jogo que vale mais do que um campeonato

O retumbante 4 a 1 de ontem foi retumbante porque aconteceu em um Grenal, não porque aconteceu uma decisão de Gauchão. Frase do próprio D’Alessandro:

- Estou mais feliz de vencer o Gre-Nal desta forma do que com o título.

Não há nada de errado nisso. Qualquer torcedor de qualquer clube de futebol do mundo ama vencer um clássico, e odeia perdê-lo. Ainda mais se o campeonato em questão for o pífio Gauchão.

O que precisa ser pensado é o Campeonato Gaúcho como um todo, que encerrou ontem sua edição 2014 com uma das piores médias de público da sua história, e com Grêmio e Inter chegando a final com facilidade extrema, após usarem times reservas em pelo menos metade dos seus jogos.

Para se ter uma ideia, três jogos do campeonato tiveram público inferior a 30 pessoas. Até na várzea há maior interesse. A Federação Gaúcha de Futebol precisa perceber esses sinais o quanto antes.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

A importância do outro

Estava conversando ontem com o Joel Linden- que é a pessoa mais inteligente que eu conheço, - sobre um pensamento que tenho: “o homem está se afastando, às vezes imperceptivelmente, da sua essência. Precisamos nos humanizar mais”.

Parece paradoxal. Eis aí uma conversa que precisa de alguns copos de uísque, mas debatemos a questão mesmo sem álcool. Porque isso me atormenta: as pessoas (e quando eu falo as pessoas, estou generalizando) não veem o outro como seu semelhante, elas o veem apenas como “o outro”. Ora, se ele é o outro, ele não tem importância alguma. Ou, na melhor das hipóteses, ele até tem alguma importância, porque sendo “o outro”, ele está disputando o mesmo espaço que eu, as mesmas oportunidades. É um rival, portanto.

Talvez seja por isso que tantos motoristas ignorem os pedestres que esperam para atravessar em uma faixa de segurança. E, quem sabe, essa também seja a razão pela qual 65% dos entrevistados tenham dito em uma pesquisa que mulher com roupa curta merece ser estuprada. Afinal, quem é essa mulher? Na visão desses entrevistados, é uma qualquer, que não tem importância, que não merece respeito. 

As pessoas que não respeitam os demais, fazem isso porque também não se respeitam. O homem deste ou daquele partido, gremista ou colorado, negro ou branco, ele é acima de tudo um cidadão; e é isso que o torna importante, não a filiação partidária, o clube de futebol ou a cor. Aí é que está: somos cidadãos. Diferentes em tudo, mas iguais na essência. Se não compreendermos isso, vamos continuar nos “desumanizando”. E olha que nem foi difícil de se chegar a essa conclusão.