quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

As minhas opiniões

Sou a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo, da legalização da maconha, sou contra a pena de morte e, mais do que qualquer outra coisa, sou contra os radares que ficam escondidos nas estradas para multar motoristas desavisados.

Qualquer uma dessas opiniões é capaz de gerar intensa polêmica e até o ódio de quem pensa diferente. Uma pena. Porque uma opinião deveria ser apenas isso: uma opinião. São questões que devem sim ser debatidas, mas não de forma extremista ou passional, e sim por pessoas capazes de ponderar, dialogar, e até de ceder em alguns pontos.

Não há nada novo debaixo do sol, neste início trepidante de 2015. As bandeiras ideológicas, muitas vezes, são encaradas como uma espécie de religião, como já aconteceu em outros momentos da história. E esse é um caminho perigoso, porque as religiões tendem a transmitir aos seus seguidores a falsa sensação de que só eles é que estão certos, e os outros, equivocados. É mínima a possibilidade de diálogo ou de argumento racional nestes casos.


Um mundo não se constrói a partir de certezas absolutas. Eu sei que seria mais confortável pegar um punhado de opiniões e lutar por elas como um desesperado que luta para sobreviver; mas não, a vida não é tão simples. Precisamos nos questionar, duvidar da nossa própria teoria, conjecturar que podemos estar errados. Pode ser que não resolva nada, mas ao menos escapamos do risco de nos tornarmos reféns da chatice ideológica.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Refém do silêncio

Quando Álvaro viu Fernanda sair de casa pela última vez, pensou em chamar seu nome. Pensou em pedir perdão, em dizer que estava disposto a mudar, e que, finalmente; havia descoberto alguém por quem valia a pena deixar de lado aquele jeito durão.

Quando Álvaro viu Fernanda sair de casa pela última vez, pensou em dizer que a amava. Mas seus lábios permaneceram inertes. Todas as verdades jamais confessadas, por medo e fraqueza, continuaram sepultadas em seu peito. Todos os beijos que havia deixado de roubar continuaram frios em sua memória; aquelas eram recordações de momentos que jamais existiram.

Álvaro sabia que estava preso, refém não de sua solidão; mas de seu silêncio. De seu vazio, do nada que o esmagava. Ninguém poderia testemunhar a seu favor. Estava condenado a morrer de forma lenta e impiedosa, sufocado por sentimentos que não podiam mais ser derrotados por longos goles de conhaque barato.


Quando Álvaro viu Fernanda sair de casa pela última vez, engoliu o choro, abriu as janelas, e continuou sobrevivendo. Ele sabia que aquelas lágrimas nunca seriam derramadas.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Aprenda com as mulheres

Tempos atrás, escrevi uma crônica sobre os perigos do biquíni de fio dental. Fui taxado de machista por alguns, o que me surpreendeu um pouco, porque o meu objetivo com aquelas linhas era apenas entreter, nada mais. Fui levado a sério demais em um texto com seriedades de menos.

Entendo o motivo dessa interpretação equivocada: na ânsia de se combater o preconceito, surgem também alguns exageros. Certa vez, uma amiga me disse que não gostava de ser chamada pelo diminutivo do seu nome. Por quê?, indaguei. Ao que ela respondeu: “é uma forma de diminuir a pessoa. Acho machista”. Paralisei. Gosto de chamar as mulheres pelo diminutivo, como Marcinha ou Amandinha; e, ao que eu saiba, nunca tive o objetivo de ofender, e (muito menos!) de diminuí-las.

Fui pesquisar, preocupado.
Seria eu um machista que desconhece o próprio preconceito?

Depois, respirei aliviado. O machismo pressupõe que as mulheres sejam inferiores aos homens, algo de que discordo totalmente. Aliás, me atrevo a dizer que as mulheres é que são o sexo forte. Leia O Tempo e O Vento, de Erico Veríssimo, e você entenderá do que estou falando.

Está lá um retrato fiel de como a vida é, através de várias gerações. Os homens são corajosos e valentes, mas deixam-se levar por paixões cegas, sejam elas amorosas ou políticas, e acabam por matar-se em guerras, ou brigar por motivos banais. Já as mulheres, elas é que têm a força e a sabedoria de compreender que, como cantaram os Titãs, nenhuma ideia vale uma vida. São as mulheres que têm o desafio de extrair o melhor e garantir que a vida siga seu curso, mesmo com tantas revoluções, tanto sangue e tanta dor


Admiro a fibra e a obstinação de Ana Terra, Bibiana, Maria Valéria; e até mesmo da abnegada Sílvia. Admiro demais a força das mulheres. Foi o que concluí ontem, enquanto velava o sono da minha avó, que está no hospital. Podem até parecer frágeis, mas não se engane. São elas que sabem o que realmente importa na vida. Temos muito a aprender com as mulheres que nos cercam.