sexta-feira, 31 de maio de 2013

Olhares cúmplices


Olhares cúmplices.

A fogueira entre eles lançava uma luz avermelhada que distorcia vagamente as suas feições, enquanto tentavam espantar aquele ar gelado de mar. Era uma noite sem lua.

Se tivesse lua seria perfeito, pensou Mariana.

Se tivesse lua seria clichê, Pensou Pedro.

Poderiam continuar a madrugada inteira conversando apenas por olhares, como estavam conversando; e ainda assim aquela seria a conversa mais bonita que Mariana já tivera em toda sua vida, como estava sendo.

Eu poderia chegar mais perto, pensou Pedro.

Eu poderia encostar minha cabeça no ombro dele, pensou Mariana.

Ficou com medo de que ele achasse que ela estava sendo oferecida e não se aproximou, ainda que já estivessem grudados por aqueles olhares demorados. Só depois de muitas latinhas jogadas a um canto, quando a fogueira entre eles era apenas um enorme braseiro e o frio começava a vencer, eles enfim se abraçaram. 

Os dedos de Pedro deslizavam lentamente entre os fios de cabelo de Mariana, e a garota sentiu que se o mundo acabasse naquele momento ela morreria muito infeliz, porque, mais do que nunca, ela queria viver, viver, viver. Os pensamentos giravam em sua cabeça e um sorriso bobo invadiu seu rosto: estou bêbada ou apaixonada? E pensou consigo mesma que talvez naquele momento isso já não fizesse mais muita diferença, porque estava feliz, feliz, feliz.

Adormeceram até que o sol lhes despertasse. O calor aconchegante e a claridade incômoda de um novo dia. Era fogo, novamente o fogo a iluminar suas caras cansadas, caras de álcool, caras de ressaca. 

À sua frente, as brasas eram como testemunhas de um sonho bom.

O tempo precisa parar, pensou Mariana. Precisa parar para que aquela felicidade que preenchia todo o espaço ao seu redor, aquela felicidade que fazia seus pelos se eriçarem; jamais se esvaísse com o tempo.


E sabendo que isso era impossível, sabendo que nada seria para sempre, sabendo que todas aquelas coisas um dia iriam passar, ela experimentou pela primeira vez a angústia que a felicidade traz consigo.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

As lágrimas do Neymar



Não vou dizer aqui que Neymar é um herói nacional; até porque acredito que os verdadeiros heróis do nosso país jamais se viram diante de câmeras e holofotes, nem foram convidados para dar entrevista em programas de televisão.

Não, ele não é um herói. Mas vou dizer que Neymar é sim um símbolo do Brasil, e símbolos sempre falam muito daquilo que eles representam.

Primeiro, porque Neymar é um perseguido dentro das quatro linhas. Os jogadores que o enfrentam sentem que não podem desarmá-lo sem dar um carrinho mais forte ou um pontapé, e então fazem-no cair ao solo diversas vezes em uma única partida.

Neymar, como qualquer símbolo, parece inatingível, alguém que não deve ser de carne e osso. Afinal, ele é o melhor desta geração. Ele marca gols que encantam a torcida e o mundo, ele participa de campanhas publicitárias que engordam sua conta bancária, ele é convidado para o programa do Faustão e ainda tem ao seu lado uma Bruna Marquezine.

Por isso suas lágrimas antes do jogo de ontem, justamente seu jogo de despedida, tiveram um valor simbólico tão grande. Ali, ele não foi o Neymar inatingível que faz coisas que mais ninguém faz. Ali, enquanto derramava aquelas lágrimas, ele foi tão humano, e tão de carne, osso e sentimentos quanto pode ser um filho que olha para trás antes de sair de casa pela última vez.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

O grande problema do Rio Grande do Sul



Leônidas foi um grande homem.

Não falo do Leônidas que foi jogador de futebol nos tempos de Pelé e inventou a linha do impedimento; ainda que eu considere este um dos grandes feitos do século passado.

Falo do Leônidas que liderou os espartanos naquela batalha contra os persas que entrou para a história e que virou um filme com orçamento de 70 milhões de dólares.

Leônidas foi grande porque, naquela batalha das Termópilas, em que ele liderava apenas 300 homens espartanos; não temeu o ataque de 300 mil persas e preferiu voltar morto a render-se em uma batalha.

Ainda que estivessem com um exército tão inferior numericamente, os espartanos conseguiram retardar por três dias os avanços do exército persa, mesmo que o preço tenha sido alto: suas próprias vidas. Alguém poderia dizer que a aniquilação daquele exército significa uma derrota, mas não é bem assim. Os persas tiveram tantas baixas, que por fim; enfraquecidos, acabaram sendo expulsos da Grécia.

Eram grandes os espartanos, eram nobres de espírito, claro que sim; mas o que os tornava ainda maiores era seu líder.

Seja uma tropa, uma equipe de futebol, uma empresa, uma sala de aula, e até mesmo uma família, todas essas instituições só conseguem ser realmente fortes quando são lideradas por alguém que não se entrega ao desânimo nem mesmo quando as maiores vicissitudes se apresentam.

Talvez seja esse o grande problema do Rio Grande do Sul. Não acredito que se possa apontar um grande responsável pela situação lamentável em que se encontra o Rio Grande do Sul no que tange à valorização dos seus professores, e sim uma sequencia ações desastradas; mas o fato é que faz muitos anos que o Rio Grande do Sul não elege um grande líder.

Neste caso, um grande governador.

Falo de um líder que represente os gaúchos justamente naquilo que sempre foi marcante na nossa personalidade: a indignação com aquilo que não está certo.

Este Tarso Genro que aí está é um grande estadista, é um homem desenvolvimentista; mas é apenas mais um. Quando ele tenta esquivar-se de pagar o piso salarial dos professores alegando inconstitucionalidade da lei, quando insiste em dizer que não há recursos financeiros e  nenhuma saída pode ser encontrada, ele mostra justamente isso: que é apenas mais um.

Hoje, nosso estado precisa de uma grande revolução na Educação, e grandes revoluções só são possíveis com grandes homens. É preciso alguém como Leônidas, rei dos 300, para arregaçar as mangas e mostrar que não existe; nem jamais existiu, uma batalha perdida.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Galera da literatura

Na foto abaixo, aula de literatura infanto-juvenil na noite de ontem na Universidade Feevale, com a Prof.ª Dra.ª Juracy Saraiva. 

Analisamos a obra "Fica Ficando", de Jane Tutikian, muito bacana!  

quinta-feira, 16 de maio de 2013

O pedido


 O anel posto sobre a mesa, entre os dois, exigia uma resposta.

 E agora?

 Fernanda gostava de João, claro que sim, mas...casamento? Casamento era um passo muito grande, significava transformar duas vidas em uma só. O namoro no início era um misto de contentamento e irresponsabilidade, mas há muito aquele relacionamento já havia perdido a cor, e só agora, com um anel reluzindo à sua frente, ela se dava conta disso.

 Sentiu falta dos tempos em que a vida era mais simples. Dos beijos roubados no corredor, do filme que passava esquecido na televisão enquanto eles transavam no chão da sala, das primeiras carícias, de dividir aquele pão de queijo, da voz rouca que sussurrava sempre alguma bobagem engraçada, do perfume que ficava na gola da camisa, de ler o mesmo livro que João estava lendo, de não conseguir comprar uma roupa sem antes pensar, “o que será que o ele vai achar?”.

 E naquele dia em que Fernanda sentiu falta de todas essas coisas, no dia em que sentiu falta de quando seu coração acelerava com a simples lembrança de uma cara de sono mal barbeada, no mesmíssimo dia em que foi pedida em casamento; Fernanda recusou o pedido.

 Foi para casa e deitou abraçada em um travesseiro qualquer.

 Esperou que as lágrimas sem sofrimento viessem, mas elas não vieram; e Fernanda censurou-se por isso. E assim, sentindo-se fria e ao mesmo tempo tão calma, tomou um banho e saiu de novo para a rua. 

 Saiu para um novo dia.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

A polêmica das faixas de segurança

  Criei um pequeno transtorno na semana passada ao postar um texto irônico falando que as faixas de segurança poderiam ser extintas em Igrejinha, já que para muitos motoristas elas são apenas um enfeite. O problema foi que dezenas de pessoas levaram isso a sério, e se mostraram indignadas com uma novidade dessas.

 Reitero que a "notícia" era apenas uma brincadeira; mas o problema é sério. Certa vez, tive a oportunidade de conversar com um alemão (com uma tradutora por perto, claro), e ele contou que teve muita dificuldade para se adaptar ao trânsito brasileiro. Isso porque, segundo ele, na Europa basta que o pedestre faça menção de colocar o pé na faixa de segurança para o motorista parar o carro, mesmo que já esteja quase em cima da faixa.

 Por aqui, no nosso trânsito ainda prevalece uma cultura um pouco mais, digamos...selvagem. É isso. Não importa que você tenha um IPhone 6 hiper moderno, leia os maiores clássicos da literatura universal, ou ainda que você goste de ouvir Chopin e Mozart nas horas vagas.

 Todas essas coisas vão por água abaixo quando alguém está com as mãos no volante. Ali, enquanto dirige pelas ruas caóticas repletas de outros veículos e de pedestres; que são justamente os seus semelhantes, ali ela revela quem realmente é.


sexta-feira, 10 de maio de 2013

Parar na faixa de segurança pode virar crime em Igrejinha


Um projeto que está tramitando na Câmara de Vereadores de Igrejinha pode alterar uma antiga lei do Código de Trânsito Brasileiro dentro da zona urbana do município. Alguns parlamentares defendem a criação da lei que proíbe aos motoristas pararem na faixa de segurança.
- Na prática, não teremos grandes alterações, - explicou José Abramolli, da Secretaria de Obras de Igrejinha - A grande maioria dos motoristas sequer reduz a velocidade quando se aproxima da faixa de segurança. Sendo assim, quando alguém resolve parar, pega de surpresa o motorista que está vindo logo atrás, e isso acaba gerando acidentes - concluiu.
Para o presidente da Associação dos Pedestres de Igrejinha, Fernando Marques Fonseca, o projeito de lei deve ser analisado com calma: "Estamos cientes de que a faixa de segurança é hoje apenas um enfeite na cidade, mas é triste ver que elas podem ser extintas", declarou Fonseca, visivelmente abalado.
O projeto de lei que proíbe os motoristas de parar na faixa de segurança em Igrejinha deve ser votado ainda neste mês.
(O IGREJINHENSE - Edição 2 - Notícia de humor)

quinta-feira, 9 de maio de 2013

O que eu não admito



Viver é perigoso.

Afinal, existem bactérias danosas por todos os lados, motoristas embriagados dirigindo pelas ruas, raios letais em dias de tempestade, existe o choque elétrico e a bala perdida.

Os riscos estão por todos os lados. Você está placidamente caminhando por aí, possivelmente com a mão no bolso; e de repente...paf! Cai um tijolo de uma construção. Até mesmo algumas enfermeiras têm se tornado um risco, elas que desatentas colocam o tubo da comida nas veias de indefesos pacientes.

É isso. Viver é muito perigoso e não há o que se possa fazer.Aceito todos esses riscos que a vida traz com resignação, com bom humor até. 

Só não posso admitir correr o risco de beber leite adulterado. Tudo tem limite.




terça-feira, 7 de maio de 2013

Despedida e nunca mais



Um solavanco na estrada desperta Júlio de seu cochilo.

Pensa em voltar a dormir, mas está desconfortável; e desconfortável ainda, desembaça a janela do ônibus com a manga do casaco e cola o rosto no vidro. 

Já é tarde da noite, as luzes ao longe fazem a cidade parecer tão pequena, tão frágil; que parece impossível conceber a ideia de que ali, nas entranhas daquelas ruas e becos, possa haver tanta criminalidade, tanta miséria, tantas pessoas sem esperança.

Júlio aperta com força o escapulário que sua mãe lhe dera de presente, presente recebido com lágrimas, no princípio tímidas, depois mais grossas. Lágrimas que para ele tiveram um gosto salgado de despedida e nunca mais. "O mundo é grande", dissera ela.

Tentara em vão iniciar uma conversa com o cabeludo que vai ao seu lado, mas ele não ouvira, por causa do fone de ouvido. Julio tinha a impressão de que se ele estivesse sem o fone, também não ouviria, tão absorto que estava em seus pensamentos, fitando a paisagem que passava veloz enquanto o veículo deslizava pela rodovia. Agora, o cabeludo apenas ressonava.

Júlio suspira. O rosto, ainda colado no vidro, começa a ficar dormente. O mundo é grande, pensa.

E acha engraçado como uma frase pode ecoar tantas vezes na mente de uma pessoa, a ponto de parecer não fazer mais sentido algum. Afasta a cabeça da janela, se acomoda no banco duro, fecha os olhos e pensa que sim, o mundo é grande; e pensar isso o faz de repente se sentir tão pequeno e tão frágil quanto antes lhe parecia a cidade vista de longe.

Encolhe-se dentro do casaco. De frio ou de medo? 

E assim, ignorando os solavancos da estrada, Júlio volta a dormir. A cidade está pequena, cada vez menor. Com a distância, vai ficando insignificante; até desaparecer completamente.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Novidade no blog!


A partir de hoje, toda sexta-feira será dia de ler O Igrejinhense aqui no blog.

A cada semana será postada uma notícia de HUMOR inspirada em fatos que repercutem na nossa querida cidade.




Ex-aluno ameaça invadir escola Olívia armado

No mês de abril, o caso de um ex-aluno do Instituto Olívia que ameaçou invadir a escola armado ganhou as rodas de conversa em Igrejinha. A revolta do adolescente de 19 anos teria surgido quando ele foi reprovado no primeiro ano do ensino médio, na época em que ainda estudava no local.

- Me disseram que se eu conseguisse rodar de ano no Olívia, eu ganharia um prêmio - contou o jovem em seu depoimento à Polícia Civil. - Me esforcei muito para ser reprovado, mas até agora ninguém quis me pagar.

A direção da escola não quis comentar o depoimento do garoto, mas uma professora ouvida pela nossa reportagem confirma o combinado: "Realmente, quem roda no Olívia merece um prêmio, pois são poucos que conseguem. Mas infelizmente estamos sem verba para realizar o pagamento neste momento", desabafou a professora.

O aluno promete levar a causa à Justiça:

- Foi só uma ameaça, não quero fazer mal pra ninguém - disse ele. - Só quero os "meus direito" - concluiu.

( O IGREJINHENSE – Notícia de humor)

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Ao mestre, com carinho


Notei que o que impressionou a muitos nessa conversa “picante” entre uma aluna e um professor de Joinvile - conversa que ontem acabou virando um dos assuntos mais comentados do Twitter - foi o fato de a menina ter namorado. E claro, há também os que considerem absurdo um professor se envolver com uma de suas alunas.

Não vou entrar nessas questões, até porque o que mais me impressionou nessa história toda foi a conversa em si.  Fiquei me perguntando como alguém consegue se deixar conquistar por um papinho tão piegas como o daquele professor.

Concluo que só pode ser pelo fascínio natural que uma mulher sente pelo homem no qual ela enxerga algum poder de dominação intelectual.  Ahá! Sim, querido leitor, aí está algo que tem muita força na hora de se conquistar uma mulher: poder intelectual.

As mulheres estão sempre desconfiadas com relação à fidelidade do homem. Mesmo que esteja lá no âmago mais profundo do seu ser, há sempre uma dúvida a inquietar as mentes femininas. Por isso uma mulher de verdade não se contenta com homens óbvios, afinal, se for para correr o risco de ser enganada, que seja por alguém que o faça de modo convincente. É isso. Tudo o que elas querem é ser convencidas, já que não conseguem jamais acreditar plenamente.

E um professor universitário, quando jovem ou solteiro, traz consigo a imagem de ser alguém intelectualmente bem-sucedido. Só pode ser essa a explicação para um papo tão fraco como o dele conseguir conquistar uma mulher. Só pode ser essa a explicação para um cara que usa termos como “beijá-la”, “abraçá-la” e “tamborilava”, termos que estão tão fora do contexto de uma conversa informal no chat do Facebook; conseguir conquistar uma aluna muito mais jovem.