quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Vontade de assistir desenho


Acordei hoje com saudade de assistir desenho.

Ainda meio nostálgico, lembrei logo de uma definição de saudade que está no livro infantil “Pequeno dicionário de palavras ao vento”, da escritora Adriana Falcão:

“Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança para acontecer de novo e não consegue”.

Cara, tão profundo isso, e extraído de um livro infantil!

O momento tenta acontecer de novo, diz o livro. E não consegue.

Nunca consegue.

Por isso a saudade aperta tanto: ela é carregada por grandes doses de aflição.

Afinal, a saudade está impregnada também da frustração que sempre experimentamos quando uma tentativa fracassa.

A saudade é frustrante. Ponto final.

O que me parece ser muita reflexão para uma simples vontade de assistir desenho. Será que não me conformei em crescer e ainda não sei? Será que meu inconsciente não aceita deixar morrer a criança que um dia fui?

Preocupante. Vou ter que pensar nisso. Mas não agora.

Porque agora que eu cresci, preciso trabalhar; e adultos não devem assistir desenho.

Que sem graça ser adulto!

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O som da perturbação




Depois de ler tantas reclamações nas redes sociais sobre a barulheira de ontem no Parque da Oktoberfest, não posso deixar de refletir que não aprendemos a respeitar os outros. O que é muito preocupante, pois o respeito pelo bem-estar das outras pessoas é essencial para se viver bem em qualquer sociedade, ainda mais em tempos de superpolução do planeta.

Existe um pensamento de que até as dez horas da noite, as pessoas têm o direito de fazer o barulho que quiserem. Isso não é verdade. Igrejinha, assim como a maioria das cidades, possui uma legislação que determina o volume máximo do som a qualquer hora do dia, principalmente em áreas residenciais.

E Igrejinha, assim como a maioria das cidades, tem uma fiscalização ridícula para exigir o cumprimento dessa lei, ou talvez não tenha fiscalização alguma. É bem provável que nem exista um regulador de decibéis por aqui.

Alguém pode dizer que o Parque da Oktoberfest é um lugar amplo, um espaço não-residencial. Então, coloque-se o som no volume que se quiser colocar, e azar dos vizinhos incomodados.

Ou seja, no lugar do bom senso, usa-se uma justificativa burocrática.

É sempre assim: quanto menos bom senso, mais burocracia. e assim você descobre que, realmente, ainda não aprendemos a viver em sociedade.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A morte que dói mais


Gosto de futebol porque assim como na vida, as vitórias; mais do que merecidas, devem ser conquistadas.

Só no futebol o pequeno vence o grande com tanta freqüência.

É o esporte provando que a luta e a determinação podem fazer a diferença quando os recursos técnicos são poucos ou já foram esgotados.

Uma partida de futebol é sempre um jogo de surpresas e superação.

Assim como também deve ser a vida.

E o futebol, assim como a vida, às vezes nos coloca diante de cenas que não gostaríamos de assistir.

Aconteceu nesta semana em Oruro, uma cidade nas alturas da Bolívia, que antes só era “famosa” por causa do seu Carnaval. O que não deve ser grande coisa, já que as bolivianas nunca foram lá muito bonitas.

A questão é que depois do jogo entre San José e Corinthians, a cidade passou a ser conhecida pela morte de um garoto de 14 anos, atingido por um fogo de artifício disparado por um torcedor brasileiro.

Poderia ser qualquer outra pessoa, mas o fato de ser um menino ainda tão jovem parece tornar o fato ainda mais grave. Sei que há muitos jovens sendo assassinados todos os dias em qualquer lugar do planeta, mas o que me comove neste caso é que um adolescente gritando em um estádio de futebol para incentivar o seu time do coração é um dos retratos mais simples e puros de como a vida deve ser vivida.

E de repente, o grito silencia para nunca mais ser ouvido.

Nem vou falar sobre culpados; não me cabe e também não repararia o mal que foi feito e também não restituiria uma vida que foi interrompida tão precocemente

Parece que aquela tragédia em Santa Maria nos ensinou isso.

A morte que dói mais é sempre a dos jovens.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Primeiro dia



Este ensolarado 2O de fevereiro marca o inicio de mais um ano letivo.

O que me faz pensar que já se passaram dois anos desde a primeira vez em que assisti a uma aula na Feevale, e que, sim, o tempo voa.

Lembro que quando passava pela primeira vez por entre os prédios coloridos, estava pensando no conselho de um professor do ensino médio, dado meses antes:

- Na faculdade, o professor tem que saber o teu nome.

Durante a aula, eu refletia sobre como fazer isso. Teorias Linguisticas. Aliás, era muito legal dizer "hoje eu tenho aula de Teorias Linguisticas". Você se sente importante, como se estivesse participando de algo muito reservado.

Era o primeiro dia dessa disciplina, meu primeiríssimo dia de aula na Feevale, e eu me perguntava como faria para que a professora decorasse meu nome, afinal, eram umas 40 pessoas naquela sala.

 Já estava ficando desolado. Então, na chamada:

- Luís Felipe!

Gritei lá do fundo, em resposta.

A professora então parou:

- Luís Felipe...Tive um namorado que se chamava Luís Felipe... Bem assim. Com acento agudo no I.

Todos resolveram me olhar. E eu lá, sem saber o que responder.

- Vou exigir ainda mais de ti com esse nome - finalizou ela rindo, enquanto continuava me olhando. E ainda repetiu - Tinha até acento no I mesmo!

E foi assim que, pela primeira vez, já no meu primeiríssimo dia de aula no ensino superior, a professora decorou meu nome.

Depois eu descobri que nem precisava ter o mesmo nome do ex, eu iria me destacar de qualquer forma, mesmo no primeiro semestre.

Aliás, só tirei 10 naquela disciplina.

Que saudade de Teorias Linguisticas! 

sábado, 16 de fevereiro de 2013

No Facebook, todos são felizes

Li agora um estudo que revela algo muito interessante. Vou colar aqui:

''Mais de um terço dos usuários do Facebook enfrenta sentimentos negativos, como frustração, depois de visitar os perfis dos amigos. Os pesquisadores concluíram que a exposição a cenas explícitas de sucesso e lazer transformou a inveja em moeda corrente na rede social, conduzindo a um clima de insatisfação com a própria vida."

Agora, vou lhe contar um segredinho: as outras pessoas não são assim, tão felizes. O que acontece é que em uma rede social os usuários podem peneirar exatamente aquilo que querem que os outros vejam. Por isso, no perfil do Facebook ninguém passa por problemas, ninguém é solitário; todos vivem uma época dourada na sua vida.

Suspeite sempre. Quem está feliz não precisa gritar ao mundo o quanto sua vida é perfeita, não precisa convencer ninguém sobre suas alegrias e conquista, porque a felicidade em si já lhe bastaria.

A tal felicidade, quando gritada ao mundo, quando esbanjada em fotos cheias de sorrisos, é mais uma necessidade de afirmação. Como o chefe que sublinha ao subordinado:

- Quem manda aqui sou eu.
Ora, quem tem autoridade não precisa lembrar isso; manda e pronto. Se ele precisa afirmar isso, é porque está inseguro em seu posto.

Mas voltando ao assunto felicidade...o problema é que ela é buscada apenas nos grandes acontecimentos. É claro que é inesquecível a alegria do nascimento de um filho ou o orgulho de pegar o diploma, mas esses são momentos raros na vida.

Felicidade mesmo é a música que sai melodiosa do rádio do carro, é a xícara fumegante na manhã gelada de inverno, é ir comprar roupas com uma mulher que tudo experimenta, mas nada compra. Felicidade é como disse o mestre Quintana:

"Quantas vezes a gente, em busca da felicidade,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda a parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!".

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Bilhetes antigos

Até acho legal guardar fotografias e essas coisas, mas o que entrega mesmo quem fomos no passado é aquilo que escrevemos.  Se esse blog ainda existir daqui a alguns anos, será como um álbum de fotos, porém mais indiscreto e...mais público.

Voltemos à questão da escrita: bilhetes antigos, por exemplo.

Bilhetes antigos de amor são relíquias de nós mesmos.

O que somos hoje foi forjado em cada letra cuidadosamente desenhada no passado.

Mudamos muito durante a vida, e como um animal que renova a pele a cada estação, trocamos de convicções; deixamos sentimentos para trás.

Mas o que escrevemos, fica.

Escrever uma declaração é tornar eterno aquilo que é efêmero.

É barrar o esquecimento.

As palavras gravadas no papel não deixam dúvidas: aquilo realmente existiu.



segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Ele, o coitadinho


Eu tinha decidido que nem ia mais escrever sobre este assunto, mas não tem como deixar passar algumas coisas.

Vi bem o rosto do marginal de 17 anos que estava junto com a quadrilha que nos assaltou no mês passado. Vi bem também quando alguém que estava na Delegacia na hora da ocorrência perguntou ao delegado o que ele iria fazer com o menor. Mandar para a Fase ou liberar?

- Vou liberar – respondeu o delegado.

E hoje li a seguinte notícia:

“Na madrugada de quarta feira, por volta da 1 hora da madrugada, o Pelotão de Operações Especiais foi informado que haveria uma entrega de armas na rua da Laje, em São Francisco de Paula. Ao realizarem a averiguação, os policiais militares visualizaram um veículo Vectra e na tentativa de abordá-lo, este fugiu em alta velocidade. Na fuga, o carro chocou-se contra um poste e capotou. Os quatro homens que estavam no veículo, desceram atirando contra a guarnição e entraram em uma mata próxima.Foram presos em flagrante três homens com antecedentes por furtos, roubo e tráfico de entorpecentes;e apreendido um adolescente infrator de 17 anos portando um revólver calibre 38. Este menor já havia sido detido na noite de 19 de janeiro, quando o POE prendeu uma quadrilha que se preparava para realizar um assalto na região. Naquela ocorrência ele foi apreendido junto com outros dois adolescentes e quatro homens que foram presos com drogas, armas e muita munição em uma residência também em São Francisco de Paula. Com eles, na época, estava um veículo Peugeot 207 roubado em Igrejinha que foi recuperado”.

O mesmo sem-futuro, pego pela segunda vez em menos de um mês.

Sabem o que vai acontecer?

Nada

De novo.

Porque a lei brasileira entende que o delinqüente de 17 anos é um coitadinho. Ele não pode responder pelos seus atos em uma cela, de onde não poderia ameaçar a sociedade, porque ele ainda não completou 18 anos.

Ou seja, o Estado de leis ridículas protege o coitadinho criminoso, mas tem sido incompetente para me proteger de quem assalta, rouba, sequestra e mata.

Muito incompetente.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Lóbulo


Trabalho na produção de um noticiário que começa às 7h da manhã. Temos de aprontar tudo pouco antes dos apresentadores entrarem no ar, o que significa que tenho que acordar muito, muuito cedo.

Já me acostumei a encarar as ruas vazias no trajeto de ida para a Rádio. Até as pedras da rua parecem dormir enquanto eu já estou desperto.  Faz parte. Aliás, é até bom.

Porque tenho pensamentos de madrugada que não me ocorreriam em qualquer outra hora do dia.

Aconteceu ontem mesmo: 5h25 da manhã, e eu refletindo enquanto caminhava: “Lóbulo! Quem inventou a palavra lóbulo!?”. Que palavra engraçada e misteriosa!

Lóbulo, você sabe, é aquela parte mais mole e redonda da orelha, que as mães puxam quando os filhos aprontam, ou ainda, que os casais de namorados mordem quando estão excitados.
Lóbulo!

Que nome incrível. Falei em voz alta, bem devagar, para perceber a sonoridade da palavra:

LÓ-BU-LO!

E nisso percebo que não estou assim tão sozinho nas ruas do centro de Igrejinha, porque me encara um desses limpadores de rua que, assim como eu, acordam muito, muuito cedo para trabalhar.

Percebo sua expressão de estranheza. Ele me acha um louco, mas volta a varrer, e eu sigo andando.

A madrugada também segue, como se a sua tranqüilidade não tivesse sido interrompida, mas eu não paro de refletir: LÓBULO!

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Jogo na chuva



As melhores coisas da vida são as que acontecem despretensiosamente. Porque a expectativa é sempre uma vilã. Você espera muito por algo, você passa um tempo incontável imaginando como vai ser e na hora as coisas não são tão boas assim.

Você se divertiu ou se emocionou tanto por antecipação que não há mais espaço para ser surpreendido na hora H.

Por isso que é tão bom jogar bola na chuva com os amigos.

Ninguém espera nada de um jogo na chuva, a finalidade é o jogo em si.

E então...gol do Brasil! Você se diverte.

Um jogo na chuva é simples, é irresponsável, e principalmente, quando é entre amigos; é também sem maldade.

Assim é jogar bola na chuva.

Assim deveria ser a vida.