segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Não há atalho para a felicidade

Sabe aquele filme que todo mundo já assistiu, menos você? Pois é, eu tinha essa relação com O Julgamento do Diabo, por isso tratei de assisti-lo neste final de semana.

A trama aborda a vida de um escritor que não consegue nenhuma editora que publique seus livros. Em um dia particularmente ruim, quando o protagonista está desesperado e sem dinheiro, eis que surge o Diabo.

Em troca da alma imortal do homem, o Diabo lhe oferece sucesso.

Anos depois, o que se vê é um escritor rico, bem sucedido, com milhares de leitores,  e...infeliz. Infeliz sim, porque descobre que todo o dinheiro, sucesso e reconhecimento do mundo não podem comprar uma roda de amigos verdadeiros, nem a convivência com quem se ama, nem a satisfação de se saber dono das próprias conquistas, sejam elas do tamanho que forem.

O filme repete uma frase várias vezes, mas ela ficaria martelando na sua cabeça, ainda que tivesse sido dita uma única vez: não há atalho para a felicidade.

Li certa vez que, se um marciano desavisado chegasse à Terra, se perguntaria o que as pessoas fazem trancadas, num escritório ou na fábrica, em um dia tão dourado de sol. As pessoas responderiam, então, que estão "ganhando a vida", e aí sim o marciano ficaria embasbacado de vez, afinal a vida está ali, se oferecendo, de graça.

Talvez aquele marciano tentasse fazê-las enxergar a vida onde a vida está.

Seria em vão.

Porque na luta pelo sucesso, as pessoas se transformam em inimigas. Aí, acontece tal como no filme. Só depois que se conquista tudo, é que se percebe o nada que se tem. Então, vem a verdade incômoda: não há atalho para a felicidade.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O poder da rotina

Quando chego no restaurante, o garçom já nem pergunta mais.

Durante o almoço, bebo todos os dias a mesma coisa: suco de laranja.

Não é por acaso. Sei que as pessoas têm de saber a hora certa de fazer grandes mudanças, que não podemos nos acomodar com o que não funciona; mas também sei que é preciso que se estabeleçam certas rotinas.

Afinal, é a rotina das pequenas coisas o que faz com que um homem se sinta seguro.

Em um time de futebol, não é diferente. Vejam o caso do Inter: um dos melhores plantéis do Brasil, uma direção séria, um técnico compenetrado, uma torcida que nunca deixa de apoiar.

Por que não vence, então!?

Simples: porque não tem rotina. A torcida não sabe quem é o lateral esquerdo do time, não sabe quem é a dupla de D’Alessandro na armação, não sabe nem mesmo qual é a dupla titular de volantes.

Assim, não há Barcelona que consiga emplacar.

Primeiro, se define um time. Depois, esses jogadores devem jogar juntos; uma, duas, dez vezes. Só então, quando aquela escalação se torna rotina, aí sim o caminho para o gol fica mais curto.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

O homem que viveu cem vidas

Nos momentos finais de O Senhor Embaixador, obra de Erico Veríssimo, há uma conversa marcante entre um homem, que está prestes a ser julgado por um inclemente tribunal; e seu advogado.

Trata-se de um caso perdido, uma audiência de cartas marcadas. Gabriel Heliodoro sabe que será condenado à morte no dia seguinte.

Os dois conversam em uma cela fétida e quase vazia. O leitor imagina que Heliodoro esteja abalado por profundas reflexões acerca de sua vida, seus erros, acertos e arrependimentos.

Bom, pelo menos é isso que eu sempre imaginei que deveria acontecer com as pessoas quando elas sabem que estão na iminência de morrer.Mas não. Na conversa com o advogado, Heliodoro está calmamente resignado, e tasca a seguinte pergunta:

Vivi cem vidas. Quantos podem dizer o mesmo?”.

Heliodoro podia até ser um criminoso, mas nesse ponto estava certo.

Afinal, um homem que aproveitou tudo aquilo que a vida pode lhe oferecer, que teve inúmeras aventuras amorosas, bebedeiras inenarráveis, que soube valorizar um amigo leal, que sorveu cada sopro de vida com intensidade; este é com certeza um homem que viveu cem vidas.

É um homem que, mesmo nas derrotas mais retumbantes, cai com a cabeça erguida. Com arrependimentos, claro que sim, mas arrependimentos pelo que fez; não pelas oportunidades que deixou passar.

Viver, viver intensamente, viver sem tirar o pé; esse é o segredo para construir um final no qual poderemos olhar para trás e sorrir com satisfação daquilo que produzimos. É preciso viver não uma, mas cem vidas.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Os dias quentes estão de volta


Vantagens

Os termômetros voltaram a ultrapassar a marca dos 30 graus nesta semana, e quando saio na rua tenho a nítida sensação de que estamos no verão. Os sintomas são claros: o calor escaldante subindo do asfalto, o sorveteiro passando suado enquanto aperta uma buzina estridente, as mulheres exibindo longas pernas em shorts curtíssimos.

Sim, o verão tem suas vantagens.

Mas apesar desse veranico de setembro, ainda há um bocado de dias antes de começar a estação mais quente do ano.


Noites mais curtas

Um dos sinais de que o verão está chegando é a mudança do horário. Geralmente ocorre em um dos finais de semana da Oktober, o que acaba nos sonegando uma hora de festa. Aliás, no ano passado eu recebi uma declaração de amor no celular, às seis da manhã, justamente em um domingo de Oktober.

Isso prova que está correto o ensinamento que diz que, se você vai beber; deve desligar o telefone.


Vida despretensiosa

No verão os dias são longos, por isso pedem uma cerveja gelada no final da tarde e uma conversa animada com os amigos. Quem sabe um futebolzinho, assim, só pra brincar. Nada de muita seriedade onde o sol se despede depois das oito da noite.

É assim que o verão deve ser. Despretensioso. Leve. Nada muito profundo. Como este texto que estou acabando de escrever.

Às vezes, me atrevo a pensar que a vida também deveria ser assim, mais descompromissada. Penso que a vida deveria ser mais verão e menos inverno.

Desfile cívico de Igrejinha

Após o desfile cívico de Igrejinha, ouvi muitas pessoas dizendo que no tempo delas as coisas eram melhores. Que hoje as crianças passam pelas ruas em total desordem e com rostos desmotivados, mas em outras épocas elas marchavam alinhadas e talicoisa.

Posso não ter vivido em outros tempos que não estes, mas discordo.

Não acredito que as coisas eram melhores. Talvez fossem mais organizadas, talvez os alunos realmente marchassem, afinal havia mais comando e rigidez; mas n
ada disso era motivado por causa de um sentimento cívico.

Esse amor pela pátria, tão defendido pelos saudosistas, ele não existe nas crianças de hoje porque
jamais existiu nas crianças de qualquer época. 

E não pode existir por um motivo simples: a pátria é uma abstração.
Por que alguém que nasceu no Brasil seria melhor do que alguém que nasceu no Haiti? Só acredita em Pátria quem aprende a acreditar nisso. Não raro, o patriotismo vira xenofobia, vira preconceito.

Definitivamente,
a pátria falhou como razão de existência.
As crianças entendem, de forma inconsciente, que o que importa são as pessoas, e que elas, as pessoas; podem ser de qualquer pátria. Que a bandeira não importa. Como disse Markus Zusak: seríamos todos a mesma coisa em qualquer outro lugar.

Por acreditar em tudo isso, é que pouco me importa se eram desmotivados os rostos das crianças na tarde de sábado. Elas são o futuro, são muito inteligentes, e percebem facilmente que protocolos e cerimônias tem pouca importância na vida.

Acreditem, elas sabem o que realmente importa.
Elas sabem que passaram calor à toa. 

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Lixo no lixo. Precisa de uma lei?

Está sendo debatida em Porto Alegre uma medida que propõe cobrança de multa para quem jogar lixo nas ruas. De acordo com o “tamanho” do material descartado, a multa aumenta. Uma bituca de cigarro, por exemplo, custaria cerca de 300 reais.

É uma lei já implantada em outros lugares; que talvez torne a cidade mais limpa, talvez não. O que se pode concluir neste momento não são os resultados que a lei deve trazer, e sim a necessidade da sua implantação.

Eu preferiria acreditar que não precisamos de uma lei que nos obrigue a pensar no espaço dos outros, que é, afinal, o nosso próprio espaço. Eu preferiria acreditar que a conscientização das pessoas para algo tão simples a ponto de beirar o  ridículo não precisasse gerar um debate tão intenso.

Mas não. As pessoas precisam ser fiscalizadas até mesmo para usar o cinto ao embarcar no carro, algo que está ali para garantir sua própria segurança, quem dirá o que precisa ser feito para que elas cuidem do espaço em que vivem.

A cada projeto como esse, pode-se pensar que estamos evoluindo. É uma ilusão. Quanto mais evoluída é uma sociedade, de menos leis ela precisa.