quarta-feira, 18 de setembro de 2013

O homem que viveu cem vidas

Nos momentos finais de O Senhor Embaixador, obra de Erico Veríssimo, há uma conversa marcante entre um homem, que está prestes a ser julgado por um inclemente tribunal; e seu advogado.

Trata-se de um caso perdido, uma audiência de cartas marcadas. Gabriel Heliodoro sabe que será condenado à morte no dia seguinte.

Os dois conversam em uma cela fétida e quase vazia. O leitor imagina que Heliodoro esteja abalado por profundas reflexões acerca de sua vida, seus erros, acertos e arrependimentos.

Bom, pelo menos é isso que eu sempre imaginei que deveria acontecer com as pessoas quando elas sabem que estão na iminência de morrer.Mas não. Na conversa com o advogado, Heliodoro está calmamente resignado, e tasca a seguinte pergunta:

Vivi cem vidas. Quantos podem dizer o mesmo?”.

Heliodoro podia até ser um criminoso, mas nesse ponto estava certo.

Afinal, um homem que aproveitou tudo aquilo que a vida pode lhe oferecer, que teve inúmeras aventuras amorosas, bebedeiras inenarráveis, que soube valorizar um amigo leal, que sorveu cada sopro de vida com intensidade; este é com certeza um homem que viveu cem vidas.

É um homem que, mesmo nas derrotas mais retumbantes, cai com a cabeça erguida. Com arrependimentos, claro que sim, mas arrependimentos pelo que fez; não pelas oportunidades que deixou passar.

Viver, viver intensamente, viver sem tirar o pé; esse é o segredo para construir um final no qual poderemos olhar para trás e sorrir com satisfação daquilo que produzimos. É preciso viver não uma, mas cem vidas.

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