quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Como deve ser o Grenal

  Nós, gaúchos inteligentes que somos, não nos deixamos levar pelos favoritismos que a mídia apronta. Nós sabemos que um Grenal não tem favorito, pelo simples fato de que...é um Grenal. Mas esse clássico do próximo domingo é tão diferente de qualquer outro que quase dá para se apostar em um resultado.

 O Grêmio encerra melancolicamente um ano em que quase nada deu certo. Vem jogando mal. O técnico já avisou que está de saída. Os únicos motivados são os torcedores, que estão babando para tirar do Inter a chance de ir para a Libertadores. O problema é que o jogo é  no Beira Rio, longe da torcida tricolor.

 Já vi times inferiores tecnicamente vencerem o Grenal, já vi favoritos caírem do cavalo, mas nunca vi uma equipe desmotivada vencendo um jogo desses. Por isso aposto no Inter. O Inter terá a faca, o queijo, a motivação, o estádio lotado. Pode dar Grêmio? Só porque é Grenal, pode. Mas isso só acontecerá se o Inter deixar.

Não seriam os primeiros pontos óbvios perdidos pelo colorado no campeonato. Vai ser um jogaço em uma tarde de muitos jogaços.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O terror de Luzia

Luzia entrou silenciosamente na sala, andando na ponta dos pés. Havia muito que estava decidida a fazer o que faria, mas naquele instante seu corpo inteiro tremia. No momento em que colocou o pé delicado no primeiro degrau do lance de escadas pensou em desistir, em recuar, mas como se fossem independentes, suas pernas ignoravam esses pensamentos pusilânimes.

Um leve ranger de madeira na forma de um estalo sucedeu seus primeiros passos na escada, em ruídos quase imperceptíveis. Imperceptíveis para quem estava ocupado em fazer coisas melhores e mais importantes, concluiu Luzia com raiva.

Havia decidido que aquele seria o dia do basta. Fazia dois meses que havia descoberto as infidelidades do marido, e a forma como a traição acontecia lhe doía mais do que o ato em si. Todas as quartas-feiras, no início da manhã, o quarto do casal se transformava na alcova de sexo entre Marcos e amante.

A pior parte da descoberta de Luzia fora descobrir que a amante de Marcos era Ana, sua melhor amiga. A traição dupla a fizera sentir-se desamparada no primeiro instante, apunhalada pelas duas pessoas em quem mais confiava. No entanto, esse sentimento foi rapidamente substituído por um frio desejo de vingança.

Luzia queria pegá-los no flagra. Queria humilhá-los, mostrar aos dois tudo o que o relacionamento adúltero deles tinha de sórdido, vergonhoso e traiçoeiro. Com as batidas do coração ecoando em sua cabeça, chegou ao fim da escada girou a maçaneta da porta de seu quarto, que estava apenas encostada.

A cena que viu a seguir causou um estremecimento em Luzia. De quatro na cama, com o corpo já totalmente despido, Ana tinha a cabeça mergulhada no corpo de Marcos, provavelmente fazendo sexo oral. Luzia já sabia o que poderia ver naquele flagra, mas era como se registrar aquelas cenas impressas em suas retinas tornasse o ato mais real, mais nojento.

Perdendo o que restava de seu sangue frio, Luzia avançou com ódio em direção à cama. Marcos a viu primeiro, num arregalar assustado dos olhos. Ana reagiu mais rapidamente, apanhando as roupas que conseguia e correndo até o corredor, como se pressentisse a presença indesejada da amiga . Não importava. Mais tarde Luzia se entenderia com a falsa amiga.

- DESGRAÇADOS! – bradou Luzia, alcançando com suas longas unhas o rosto do marido e arranhando-lhe a pele. Enquanto a raiva de Luzia aumentava sua força, a surpresa de Marcos parecia torná-lo frágil, fazendo-o capaz apenas de defender-se das investidas do joelho de Luzia contra seu baixo ventre, enquanto as furiosas unhas de Luzia desfiguravam seu rosto.

Quando finalmente conseguiu afastar a mulher com um empurrão, Marcos deu dois passos para trás, sem saber o que fazer ou dizer. Sentiu que havia deixado a grande janela aberta quando seus pés não sentiram mais o chão firme. Antes de desabar, ainda viu a expressão de horror no rosto da esposa e a formação de um grito que jamais saiu.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A oposição cega do CPERS

  Confesso que a baixa adesão dos professores do estado à greve declarada pelo CPERS na semana passada me deixou contente. Não sou contra as graves, inclusive penso que quando o diálogo se torna inacessível entre as partes esse pode ser um recurso muito importante para os funcionários de qualquer empresa ou segmento.

 Mas o que deve ser colocado acima de tudo, sempre, é o bom senso. Ninguém discute a legalidade da greve. Mas, nesse caso, a questão não é legal, é ética. Uma greve do magistério no final de novembro prejudica, e muito, a todos os alunos da rede estadual, principalmente aqueles que estão ansiosos para ingressar no ensino superior no próximo ano.

Então, a lógica dos professores grevistas é uma lógica egoísta. O que importa é a pressão que eles exerçam sobre o governo para que obtenham maior valorização. As conseqüências da forma como isso é feito são secundárias.

Essas são práticas dos mesmos professores que se dizem prejudicados pelo governo do estado. Para pressionarem, prejudicam a terceiros, no caso os alunos, e acabam cometendo o mesmo erro por eles condenado.

Os professores ganham mal e são extremamente desvalorizados, repito isso há tempo. Mas precisam saber como pressionar, como fazer suas vozes serem ouvidas. E isso não se consegue com um sindicato megalomaníaco e tão fechado ao diálogo e ao bom senso como é o CPERS, de oposição cega e inamovível a qualquer proposta do governo. 

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Dica de filme - Infância Roubada

  Tsotsi é o apelido de um jovem revoltado com a vida. Foi a sua infância que determinou  a vida que ele levaria. Hoje, Tsotsi lidera um quarteto que faz assaltos no metrô e bebe na favela.
 
 Porém, ao fugir certo dia de uma briga de bar, o rapaz vai parar na vizinhança endinheirada da cidade. Tenta roubar um carro e acaba atirando na motorista. No banco de trás há um bebê, que Tsotsi leva junto sem perceber.

 Durante o filme, Tsotsi  passa por um grande conflito interior ao tentar cuidar do bebê. Ele passa a nutrir um sentimento especial pela criança, o que fica evidente em alguns trechos, como quando ele diz ser a mãe do garoto. Outro conflito evidenciou-se quando ele teve de escolher entre a vida de seu amigo e a do pai do bebê.

 Com reminiscências de sua infância triste, o filme nos faz refletir. A sociedade é a grande culpada por tudo o que aconteceu. O filme se passa em Johanesburgo, na África do Sul, mas poderia se passar em qualquer lugar do mundo onde o caos e a violência se tornaram comuns.

 Após se desculpar com um de seus desafetos, Tsotsi decide entregar o bebê. Ele abre mão de ficar com o bebê, que já ama, para que ele não tenha também uma infância como a sua e amenizar o sofrimento dos pais. O amor às vezes brota nos lugares mais inesperados...

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Sarau Poético da Feevale

Reproduzo aqui um pouco da poesia de Chico Buarque, que declamei na semana passada no Sarau Poético do curso de Letras, no auditório da Feevale.


Pedaço de mim

Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Leva os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus.


quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Eu nunca simpatizei com o Neymar

Eu nunca simpatizei com o Neymar. Aquele jeito irresponsável de jogar, aquela marra toda, aquele ar esnobe de quem se sente o dono do mundo. Depois, quando Neymar brigou com o treinador por ser substituído, antipatizei ainda mais. Porque uma pessoa, seja ela quem for, deve saber respeitar quem está acima ou abaixo dela na hierarquia de qualquer empresa, escola, órgão público ou, como no caso, clube de futebol. Mesmo que essa pessoa seja um garoto de 17 anos.

Por isso, me surpreendi ontem com a noticia sobre o desfecho da disputa entre Barcelona e Real Madrid para contratarem o jogador. As equipes faziam ofertas cada vez mais altas, sempre em euro, a despeito da crise que vivem os países da zona do euro. Então, quando ouvi ontem a entrevista do Neymar, me surpreendi. Ele disse:

- Se eu apenas considerasse valores financeiros, não pensaria duas vezes e sairia do Brasil. Mas não é o dinheiro que me move. Por isso, vou ficar no Santos.

Não menos surpresos ficaram os espanhóis. E o mundo todo. É realmente de se admirar. Há poucos dias, um outro jogador, Ronaldinho, recebeu a maior vaia da história do estádio Olímpico, justamente o estádio em que foi revelado ao mundo, justamente no estádio em que ouviu os primeiros aplausos e gritos de incentivo.

Por quê? O que fez Ronaldinho para merecer tal tratamento? Simples: Ronaldinho desrespeitou sua torcida. Agiu de forma leviana, assinando com um clube enquanto dizia amar e fingia negociar com o Grêmio. Mostrou que seus valores são valores financeiros. É a diferença entre o craque e o ídolo. O craque Ronaldinho vai se aposentar e será enxotado para o hall do esquecimento e da fria indiferença. Ídolos como Renato e Felipão sempre serão lembrados. Lembrados por seu talento e, acima de tudo, pelo caráter que têm.

E essa atitude que tomou Neymar, uma atitude de ídolo, agora me faz respeitá-lo. Neymar – quem diria!- mostrou que ainda existe honra nos homens e é desse material que são feitos, mais do que os homens, os heróis.
Eu posso andar de cabeça erguida na terra em que eu nasci. Compra isso com teu dinheiro.

Oficinas literárias – Serão utópicas as primeiras palavras?

“(...) A pessoa que ama não se importa se receberá carinho ou não, mas sim em dar carinho, em compreender o desamor do outro. Ela quer amar o outro, sem se importar se será correspondida. O amor é eterno (...)”.

“(...) O que para mim agora é ruim, talvez depois, bem depois, possa ser aceito como melhor, como aproveitável. Espiral! Imagine idéias em espiral! Dá uma tontura... (...)”.

“(...) As telenovelas me fizeram pensar que eu não me encaixava em nenhum grupo: futebolista, riquinho, pobretão, mocinho ou vilão. Só depois eu descobri que não existem grupos. Quando finalmente parei de assistir telenovela (...)”.

“(...) Do que adianta uma pessoa ser rica, se ela não dá um abraço no seu filho, não sabe ser feliz? De que adianta, se só consegue ser rude, mal humorado, e não sabe apreciar um pôr do sol ou uma simples chuva, que cai tão bela sobre a grama, as flores... (...)”.

“(...) Eu gosto também de escrever como eu me sinto. Muitas vezes, desabafo com uma caneta e um pedaço de papel... (...)”.

“(...) Estou ávida pela vida
Pela vida que me espera
Tenho a pressa dos dias
Que se sucedem vorazes (...)”.

“(...) Eu acredito que é melhor viver um instante de vida do que passar uma eternidade sem poder dizer que encontrou o verdadeiro significado dessa palavra pequenina, tão curiosa e inconstante (...)”.

“(...) Não sei o que escrever neste momento. Estou pensando no que acabei de escrever. Simplesmente não sei o que escrever neste momento (...)”.

♪ Todo dia quando toco meu violão
Sempre penso em você
Mas eu sei que você
Não está nem aí pro meu coração ♫

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Eu não sou mocinho

  As telenovelas mudaram a forma do brasileiro encarar a realidade. É como se a vida fosse dividida em mocinhos ou vilões, certo ou errado, mansão ou favela.

 As telenovelas me assustaram por muito tempo, fazendo-me pensar que eu era um cara estranho. Porque eu não sou mocinho, nunca ajudei um cego a atravessar a rua, os problemas alheios me entediam e eu nunca enfrentei bandido nenhum.

 Mas também não sou vilão. Nunca roubei ninguém, não planejo acabar com relações e muito menos ser temido pelas pessoas.

As telenovelas me fizeram pensar que eu não me encaixava em nenhum grupo: futebolista, riquinho, pobretão, mocinho ou vilão. Só depois eu descobri que não existem grupos. Quando finalmente parei de assistir telenovela.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Nova novela antiga

Leio estupefato a manchete de capa de hoje do Correio do Povo, que diz que 13 questões do Enem 2011 foram anuladas em todo o país. Também estupefato acompanhei pela imprensa, dias atrás, um manifesto de estudantes em Santa Maria, que protestavam contra o Enem e exigiam a permanência do vestibular tradicional.

A minha surpresa se deu pelo fato de que o Enem é infinitamente superior a qualquer outro vestibular, tendo em vista que os vestibulares tradicionais prezam apenas pela decoreba inútil e sem sentido. Mas - e há um mas em tudo - talvez aquele grupo de estudantes que saiu às ruas esteja cansado de tantas falhas, de tantas polêmicas.

O vestibular é uma época conturbada para os adolescentes, que ano após ano têm visto quase sempre a mesma novela se desenrolar nos dias que sucedem ao exame.Portanto, a medida que propõe duas provas de Enem a partir do próximo ano é falha. Nos últimos anos, o governo não conseguiu fazer uma sem que houvessem erros gritantes, porque então haveria de conseguir fazer duas?

Aposto que a medida será derrubada e as questões validadas. Mas segue a novela...