segunda-feira, 22 de abril de 2013

A escolha de Antônio


Antônio sempre suspirara por Paula, desde os tempos do ensino médio. A verdade é que nem ele sabia explicar bem o porquê. Afinal, Paula não era exatamente o tipo de mulher que chama a atenção dos homens por onde passa. A garota sequer era inteligente. Mas havia algo nela que despertava o desejo de Antônio, algo oculto, algo...algo que nem mesmo ele sabia dizer o que era.

Paula jamais lhe dera esperanças. Nem mesmo as famosas "falsas esperanças", que viraram uma prática muito comum nos dias atuais. Funciona assim: a mulher começa a lhe dar sinais claros de interesse, você parte para o ataque, e então ela recua; dizendo que você é que não soube interpretar o tipo de relacionamento que ela queria.

Nem mesmo essas falsas esperanças Antônio recebia de Paula. Ela sempre lhe tratara com um desdém mortal, até que...

Já na faculdade, Antônio envolveu-se com uma moça chamada Amanda. E Amanda era perfeita. Sei que não existem mulheres perfeitas, mas esta era: cabelos longos e sedosos, pernas compridas e delineadas, um rosto de boneca. E somado aos atributos físicos, Amanda era ainda era uma das melhores alunas da universidade. Sempre tirava boas notas, gostava de ler, e inclusive; para perplexidade de Antônio - assistia futebol e sabia explicar a regra do impedimento.

O que Paula fez quando descobriu que essa Amanda perfeita estava se envolvendo com Antônio? 

Começou a dar bola ao pobre rapaz. Mandava-lhe mensagens insinuantes no celular, querendo que eles saíssem o quanto antes.

Antônio sabia que entre as duas havia um mar de diferenças que as tornavam incomparáveis, mas a ambição falou mais alto, e ele passou a manter um relacionamento paralelo com ambas.

O que - obviamente -, não deu certo. Daria certo em outros tempos, mas não em 2013. Não conseguindo conciliar as duas, tornou-se um companheiro frio e displicente com elas. Ganhava em quantidade, mas perdia em qualidade. 

Amanda sabia que merecia mais, que merecia alguém que se dedicasse exclusivamente a ela de corpo e alma, e logo abandonou Antônio.

Para encurtar a história, Antônio até hoje namora com a Paula, sem que ele mesmo saiba explicar o porquê. Arrependido, vê sua namorada descuidada assistindo ao Esquenta nas tardes de domingo, enquanto Amanda desfila por aí esbanjado beleza e inteligência.

O Grêmio, assim como o Antônio, não pode ambicionar duas ao mesmo tempo. A Libertadores exige exclusividade, e a disputa simultânea do mata-mata do Gauchão não permite isso. Por isso, o melhor é o que o Grêmio seja eliminado hoje na Arena pelo Lajeadense. Então, o time focará apenas na Libertadores. É isso que o Grêmio tem que priorizar. A Libertadores. A sua Amanda.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Crime e punição


 Esse rapaz de Santana de Livramento que ganhou as manchetes nos últimos dias por ter assumido o assassinato de seis taxistas em 72 horas no Estado, algumas pessoas disseram que ele tem um rosto muito parecido com o meu; mas provavelmente eu seja muito mais bonito e muito menos perigoso.

 Mas o que eu quero dizer é que, como era de se esperar, esses crimes geraram perplexidade e indignação, e junto com a indignação voltaram a ecoar mais uma vez os brados daqueles que defendem punições legais mais rigorosas, como a prisão perpétua ou até a pena de morte.

Cada caso é um caso, eu sei, porém acredito que nada disso sirva para mudar uma sociedade - como esperam os que defendem a pena de morte. Sei também que, onde impera a impunidade, o sentimento de revolta é gigante, mas é preciso analisar a questão friamente. Digo isso porque dados comprovam que a Justiça brasileira é preconceituosa e elitista.

No Brasil, os punidos com as penas mais duras são -em sua grande maioria - pobres ou negros.

Os crimes cometidos pela chamada elite social, como golpes financeiros, uso indevido do dinheiro público ou evasão fiscal ficam vergonhosamente impunes nesta terra adorada de encantos mil.

Por isso, sou contra a pena de morte. Se for para punir pobres e negros, prefiro dar-lhes uma EDUCAÇÃO mais digna, que lhes gere oportunidades melhores no futuro. A sociedade que souber investir na sua base, que é a Educação, não precisará mais de leis tão rigorosas.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Uma história curta


- Eu estou mal, Mariana.
- Para de drama, Eduardo - resmungou a namorada.
Estavam os dois no sofá, Eduardo com a cabeça no colo de Mariana:
- É serio. Não sinto vontade de fazer nada. De manhã cedo já acordo sem vontade de levantar para trabalhar.
- Isso é preguiça - resumiu Mariana.
- Não! - exaltou-se Eduardo - Não é preguiça, porque eu tembém não tenho vontade de ficar na cama. É como se as coisas tivessem perdido a graça. Tudo! Trabalhar, comer, olhar o jogo do Inter, ir para a praia no fim de semana. Será que...- ele pareceu receoso de concluir o pensamento - será que eu estou com depressão?
- Depressão! - repetiu a namorada, impaciente - agora tá na moda as pessoas dizerem que estão com depressão... Pois pra mim, é tudo falta de ter com o que se ocupar.
- Mas Mariana... - Eduardo já não sabia mais como argumentar - Será que tu não percebe que nem com o preço do tomate eu consigo fazer piada!?
A garota franziu o cenho, agora preocupada. Não fazer piada com o preço do tomate era algo que ela realmente não esperava ouvir. Não havia mais dúvidas: Eduardo estava mesmo com depressão.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

O problema do Brasil

 
Uma reportagem do Estadão publicada hoje traz a declaração de um apoiador do pastor e deputado Marco Feliciano, dizendo que ele "vai dobrar a própria votação em 2014".

E provavelmente, esse apoiador está certo.

O brasileiro pensa que o problema do Brasil são os políticos, mas aí está um pensamento que apenas transfere o problema para outra esfera, que obviamente não é a nossa. Apesar disso, a verdade é que nenhum parlamentar cai de para-quedas em Brasília.

O problema do Brasil não é o Renan Calheiros, não é o Paulo Maluff, não é nem mesmo a união de todos os fichas-sujas do Congresso. O problema do Brasil é o próprio brasileiro, capaz de eleger maus políticos em sucessivas oportunidades.

O brasileiro que diz ser vítima da Política é muitas vezes o mesmo eleitor que votou no Tiririca, ou votaria se morasse em São Paulo. Sabem por que Marco Feliciano deve dobrar a própria votação na próxima eleição? Porque há uma parcela significativa de brasileiros que pensa exatamente como ele, e que também se posicionaria de forma racista e homofóbica se tivesse espaço para fazê-lo.

O brasileiro é quem precisa evoluir. Os governantes, os parlamentares, os eleitos; eles nada mais são do que uma representação - muitas vezes cruel - do povo que os elegeu.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Quando a vida era despreocupada


Li ontem um poema do Quintana que diz que "o passado não conhece o seu lugar: está sempre presente".

Genial.

Afinal, tudo aquilo que somos hoje foi construído no passado, em cada alegria ou tristeza, em cada vicissitude, e mesmo nos momentos que nos pareceram mais insignificantes. Essas experiências e as pessoas ao nosso redor foram nos moldando imperceptivelmente a cada instante.

Na adolescência é quando esse processo de formação é mais intenso.E se for para falar em adolescência, nada melhor do que lembrar dos grandes momentos do nosso time de futsal, o TNT. 

No tempo não tão distante em que a vida era mais leve e despreocupada, tínhamos todos 16 anos e nos reuníamos para entrar em quadra com nosso uniforme verde limão no mínimo duas vezes por semana. 

Há um blog que conta as histórias de muitos dos nossos jogos (http://tnt-fa.blogspot.com.br/), e foi de lá que retirei um texto, de 12 de agosto de 2009:

Ei-lo:

"TNT vence com a garra esmeraldina

Em um jogo marcado por muita discussão e nervos à flor da pele, o TNT foi superior ao TDXV e venceu a partida por 12 a 4. Até a metade do jogo as jogadas eram muito disputadas e o placar apertado. Então o TNT aproveitou a instabilidade do adversário para empilhar gols.

Um atleta da equipe adversária e o pivô Rafael trocavam provocações desde o começo da partida. Mas a confusão começou em uma jogada na lateral de quadra, em que o jogador do TDXV partiu pra cima de Rafael, reclamando de um chute por trás. Vários jogadores se envolveram na discussão.

"TCHAU!", cortou Rafael, ao indignado jogador adversário. 

Após o incidente, ele ainda discutiu com o goleiro Luis e com um torcedor na beira da quadra. Melhor para o TNT, que aproveitou para definir o jogo.

Daniel, com 5 gols, foi o destaque da equipe. "É preciso saber ter sangue frio, quem errar menos, vence",frisou o ala.

O TNT foi escalado com: Luis, Juliéser, Éverton, Daniel, Vinicius, Rafael e Felipe".

quarta-feira, 3 de abril de 2013

O grande perigo



Se há algo que pode oferecer riscos a um homem é uma mulher que sabe, mesmo que de forma inconsciente, do poder que pode exercer um pé feminino.

Você observa aquele pé delicado, besuntado todas as noites com creme Nívea, aquele pezinho 35, tão frágil, tão delicado, tão lindo, tão...

Olha aí, o pé o enterneceu.

Aí reside o perigo. O pé amoleceu seu coração, lhe deixou sentimental como um adolescente descobrindo a paixão. Você deve ter muito cuidado nessa hora: mulheres com pés delicados tendem a ser muito, muito perigosas.

São perigosas porque são subestimadas. Você espera apenas os gestos mais tenros da pessoa que é sustentada por aquele pé, você talvez espere até mesmo uma beleza puramente doce e abnegada.

Grande engano. Não raro são essas as maiores desilusões na vida de um homem.

Afinal, não se deve jamais subestimar um risco, nem mesmo naquelas circunstâncias que parecem ser as mais inofensivas.

Foi o que aconteceu no caso da boate Kiss. Os proprietários, a banda, o poder público, e até os freqüentadores do local; todos  subestimaram o perigo a que poderiam estar expostos. É o que fazemos o tempo todo. Infelizmente, essa mania pode trazer conseqüências terríveis, como acabou acontecendo.

Agora, buscam-se culpados. Alguns até clamam por isso, querem punições a todo custo.

Enquanto isso, o verdadeiro culpado está em cada um de nós: a tendência a subestimar o perigo. Somos nós que deixamos de lado o cinto de segurança, nós que concluímos com freqüência que “não vai acontecer nada”, nós que nunca paramos para reparar as saídas de emergência.

Somos nós os culpados.

Inapelavelmente.