sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Que tempos são estes?

“Que tempo são estes, em que é necessário defender o óbvio?”.

A frase do poeta alemão Bertolt Brecht cai como uma luva em tempos de estrutura deficiente das escolas e de professores mal pagos.

Vou explicar: hoje, no mesmíssimo dia em que li o desabafo de um professor da rede municipal de Igrejinha, que conta através das redes sociais que teve de dividir um mísero litro de iogurte entre trinta alunos na hora da merenda, hoje também é o dia em que será realizada uma assembléia geral em Porto Alegre, onde possivelmente os professores estaduais declarem greve.

O problema - não só de Igrejinha, mas do Brasil como um todo -, é os gestores acharem que se pode economizar na Educação. É uma ideia pouco inteligente, porque uma economia forte pode tornar-se fraca (como aconteceu recentemente na Europa), mas um povo a quem se deu dignidade jamais irá perdê-la.

E dignidade vem com Educação Básica de qualidade, com estrutura, com merenda a contento, com professores bem pagos e motivados.

Estou dizendo o óbvio, eu sei. Mas como disse Bertolt Brecht, vivemos tempos em que é necessário defender o óbvio.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Quando para de doer?

Tirei um tampão do joelho uma vez.

Eu tinha uns cinco anos se muito, estava jogando bola no pátio, e quando percebi estava no chão. Quando percebi, estava doendo.

Minha avó me fez lavar o machucado, me fez suportar um merthiolate ardido – naquela época o merthiolate ardia, que infância difícil! – tudo sobre a promessa de que, com aquilo, a ferida ia parar de incomodar.

Lembro que esperei uns segundos fazendo careta de dor, porque não gostava de chorar. E o machucado lá, ardendo e ardendo.

- Quando para de doer? – perguntei, choramingando.

Minha avó me olhou, com cara de pessimismo.

- Tu vai ter que esperar sarar. Isso demora. – sentenciou ela.

Aprendi com meu joelho ensanguentado que as feridas do corpo precisam de tempo pra cicatrizar. Precisam de remédio, precisam ser cuidadas com um zelo quase maternal, para que então, lentamente, dia após dia, a pele se restabeleça no local.

O mesmo ocorre com as feridas da alma. Você está lá, abatido, sangrando pela queda inesperada, prensado pelas vicissitudes e parece que a dor nunca vai passar, que aquela é uma página interminável que nunca será virada.

Mas com o tempo, a dor passa.


Disso, você pode ter certeza: um dia, a dor passa.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

O que a violência causa


Leio agora que o saldo de mortes no Egito não para de aumentar.

Os apoiadores do presidente deposto Mohamed Mursi promovem hoje o Dia da Ira, após o massacre de quarta-feira, em que mais de 600 cidadãos foram mortos pelo braço armado do governo.

Ao dar ordem de ataque ao seu exército, o governo egípcio esperava controlar as pessoas que protestavam usando uma forte repressão, que – dentro dessa lógica -, geraria o medo. E o medo, como sabemos, é um sentimento que paralisa as pessoas.

Mas não foi o que aconteceu.

Observe esta convocação: Dia da Ira.

As pessoas, que antes estavam indignadas, agora não estão com medo, e sim com raiva. Estão com ódio, estão com sangue nos olhos, porque assistiram impotentes outros filhos de sua pátria serem rojados ao chão por aqueles que deveriam garantir a segurança da população, e não gerar a violência.

A violência pode gerar medo, pode até acovardar algumas pessoas.


Mas o que ela causa quase sempre é o que estamos vendo no Egito: mais violência.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

O tempo e o vento: ouça meu comentário

Ouça meu comentário sobre a adaptação cinematográfica da obra imortal O Tempo e o Vento, de Erico Veríssimo.



terça-feira, 13 de agosto de 2013

Capitão Rodrigo: agora sim!


Nada contra o Tarcísio Meira, até porque ele é um baita ator, mas sinto que agora sim, com a atuação de Thiago Lacerda, o Capitão Rodrigo das telas faz jus ao personagem criado por Erico Veríssimo em O Tempo e o Vento.

Aqueles olhos de águia, insolentes e simpáticos.

Faltava ao Tarcísio Meira aquele ar desafiador, aquele ar que pode ser visto quase sempre nos jovens: de rebeldia, de negação às regras, mas, sobretudo, um ar de quem quer aproveitar a vida, porque sabe que ela tem muito a oferecer.


Era esse ar que faltava ao Tarcísio Meira. Um ar de capitão Rodrigo.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Mulheres: a importância dos detalhes


Sempre disse que gostava mais da revista Playboy pelas reportagens do que pelas fotos em si. Aquelas mulheres, ainda que todas muito bonitas em corpos esculturais, sempre me pareceram francamente sem sal.

Belas e atraentes, sem dúvida.

Mas todas iguais.

Sempre a mesma pose. Sempre a mesma dose de photoshop.

Não eram mulheres de verdade; com carne, osso e pequenas imperfeições. Eram mulheres artificiais.

A nudez para ser atraente precisa ser natural, caso contrário se torna pornografia banal.

Por isso tudo, estou adorando essa polêmica com as fotos da Nanda Costa.

Que atitude de personalidade, manter os pelos pubianos, enquanto todas as outras modelos os haviam abolido.

Um detalhe, apenas isso. Mas é o que diferencia uma mulher de outra: os pequenos detalhes. 

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

A oportunidade de Alberto


Alberto era um rapaz feio, desengonçado para seus 17 anos de idade. O problema é que ele sabia o quanto era sem graça aos olhos de qualquer mulher; e isso o tornava pessimista.

Um jovem que via a vida com amargor, e justamente a falta de confiança jogava fora qualquer possibilidade de engatar um relacionamento mais duradouro com quem quer que fosse.

Porque os feios até têm chances com as mulheres; mas aqueles que não possuem autoconfiança, esses têm de se contentar apenas com olhares desdenhosos ou de pena.

Pois certa noite, em uma festa qualquer, Alberto viu-se chamado por Juliana. A mais cobiçada do ensino médio. Olhou para trás, receoso de que o papo não fosse com ele, e então, quando não havia mais dúvidas, Alberto se aproximou.

- Me beija - disparou a garota.
- O..o quê? - gaguejou Alberto.
- Me beija agora. - repetiu Juliana, impaciente. - O canalha do Robson me traiu, quero me vingar antes que eu perca a raiva e acabe perdoando aquele idiota! 

Alberto estremeceu.

Uma chance daquelas não surgiria novamente nem em mil anos! Beijar a garota mais linda da escola em uma festa em que centenas de pessoas os cercavam. Talvez aquilo fizesse despertar nele um pouco de confiança em si mesmo, talvez as mulheres o olhassem de uma maneira diferente daquele dia em diante.

- E então? - Juliana perguntou, irritada.

Alberto voltou a si. Estava tremendo.

Se aproximou, finalmente, da garota.

Já podia sentir o calor de seu corpo.

Seu coração estava tão descompassado que parecia ressoar mais alto do que a batida da música que preenchia o ambiente...

Se aproximou mais, agora era o hálito quente dela que o fazia delirar, tão perto do seu, tão perto...

Foi quando Alberto desmaiou.

E jamais se perdoou por isso.

Algumas chances não podem ser desperdiçadas. O Inter teve ontem todas as possibilidades de se manter como líder do Campeonato Brasileiro e, mesmo enfrentando um time em frangalhos, conseguiu perder justamente em momento tão crucial. O Grêmio segue na mesma linha, e já deixou se esvaírem pontos que não poderiam ser perdidos.

Sei o que sentem e pensam os gremistas e colorados neste campeonato. Algumas chances, definitivamente, não podem ser desperdiçadas.