sábado, 27 de julho de 2013

Quanto vale a minha saúde

Peguei um resfriado forte nos últimos dias. Desses com direito a febre e tudo, mas que bá. Tudo bem, nada de anormal em uma virose, ainda mais por aqui, onde faz calor insuportável em uma semana e frio glacial na outra. O que eu não pude deixar de notar foi a forma como me comporto quando meu organismo está, digamos, debilitado.

É como se mais nada importasse. Nem meus compromissos, nem as coisas que planejo para o futuro. Aliás, nem as brincadeiras mais divertidas me fazem rir. Tudo o que me importa é o vírus que aflige o meu corpo, e o que preciso fazer para melhorar logo.

Por que deixo um resfriado qualquer me dominar? Afinal, sou um homem racional, deveria conseguir me concentrar no que acontece ao meu redor, sobretudo sendo um problema de saúde tão simples. Mas não. O centro do meu mundo, quando estou fisicamente mais frágil, é justamente aquilo que me fragiliza.

Pensando bem, talvez eu saiba o motivo. Talvez seja natural que qualquer debilidade, por simples que seja, me deixe dessa forma. Nós, os jovens, nos julgamos mais fortes do que realmente somos. Problemas físicos são coisas de velhos. Queremos realizações, queremos mudar o mundo, queremos algo que vá além do que a vida comum e pacata pode nos oferecer.

Daí o motivo pelo qual tantos jovens buscam as drogas. Eles querem alcançar algo que os leve além dos próprios sentidos. Assim, pagam pouco a pouco, de forma quase imperceptível, com a própria integridade física. Temo que quando perceberem o que fizeram consigo mesmos, seja tarde demais.

Por isso, não uso drogas. Essas sensações, por melhores que possam ser, não podem valer mais do que a minha saúde.

Os segredos de Francisco


A famosa entrevista concedida por Sigmund Freud, já no final da sua vida, quando não só a velhice, mas também um terrível câncer lhe sugava as forças; essa entrevista termina com uma frase espetacular.

Ele diz o seguinte:

"Não, eu não sou um pessimista, não enquanto tiver meus filhos, minha mulher e minhas flores! ".

Aí está uma frase para ser lida e sentida.

Mesmo estando à beira da morte, Freud sabia exatamente quais são as coisas que mais importam na vida de um homem, justamente aquilo que pode trazer a tão almejada felicidade: a simplicidade - representada pelas flores - e, claro, as outras pessoas.

Aí está o segredo do Papa Francisco, que está encantando os brasileiros desde ontem, quando pisou com suas santas botinas no solo do Rio de Janeiro.

A simplicidade de gestos sem pompa e um sorriso afável.

Gostar do contato com os outros seres humanos; e por isso viajar em um carro aberto, mesmo que isso desagradasse os agentes preocupados com sua segurança.

Algumas pessoas podem achar que o título de 'Sua Santidade" torna um homem grande. Mas o Papa Francisco sabe que, como Jesus disse um dia, só pode ser grande quem se faz pequeno.

terça-feira, 16 de julho de 2013

A equipe que era uma lenda

Adolf Hitler era um gênio, pena que a serviço do mal.

Porque só um gênio poderia mobilizar multidões com seu discurso, como ele motivou; só um gênio poderia fazer com que exércitos inteiros fossem fiéis a qualquer uma de suas ordens, por mais absurdas que fossem.

Hitler mostrou ao mundo que a genialidade não significa sabedoria.

Se fosse sábio, ele não teria o triste fim que teve; atormentado por fantasmas criados durante toda uma vida de preconceitos.

Certa vez, Hitler disse a seguinte frase:

Uma mentira dita cem vezes, torna-se verdade um dia.

A lógica de Hitler é simples, mas genial: não é a verdade que importa; e sim aquilo que as pessoas aceitam como sendo verdade.

Um dia, quando eu estudava no ensino médio, alguém disse que havia uma equipe de gincana na nossa escola que era uma lenda.

Era uma brincadeira, claro. Como escrevi dias atrás, não existem invictos no mundo. O que aconteceu é que algumas pessoas fora da equipe passaram a acreditar nisso. E assim o nome pegou. Elas criaram o próprio mito que queriam combater, porque como Hitler disse um dia, as massas são fáceis de serem manipuladas.

Afinal, são as massas que escolhem seus monstros e seus heróis. Mesmo que eles não existam. Nesse ponto, Hitler estava certo: de tanto se acreditar neles, em algum momento eles passam a existir.


segunda-feira, 15 de julho de 2013

O que um fondue pode ensinar

Comi fondue no sábado, em  Canela.

Gostei muito, mas mesmo que tivesse odiado, sinto que não poderia morrer sem fazer isso.

O que me preocupa é que ainda há muitas coisas que eu quero fazer antes de morrer, e nem todas são assim tão fáceis de serem conseguidas. Comentei isso um dia com um professor do ensino médio, e ele me disse o seguinte:

- Não é conseguir as coisas o que nos motiva. O importante é nunca deixar de querer. 

E está certo. Isso se aplica também aos jogos da dupla Grenal neste último final de semana. Grêmio e Inter venceram, apesar de jogarem menos do que os cariocas Botafogo e Fluminense, porque QUISERAM muito sair de campo com essas vitórias debaixo de braço.

Para isso abdicaram de jogar bonito e preferiram a luta, o empenho, a obstinação.

É assim que deve ser, não só no futebol; mas sobretudo na vida. Nem sempre significa que o resultado virá. Mas, muitas vezes, é o que mais importa: querer.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Onde está o segredo

"O Luis sempre tá bem", disse alguém outro dia.

Não era um comentário banal. Notei até um certo ar de indignação na voz da pessoa que fez essa observação.

O que é compreensível, afinal as pessoas estão todas cheias de problemas. E quando não são problemas; são medos. E quando não são medos propriamente ditos, são até mesmo inseguranças banais que lhes anuviam os pensamentos.

Seguindo essa lógica, alguém estar bem, com tantas pessoas padecendo ao seu redor, é como uma ofensa. Mas a verdade é que não é bem assim.

Até porque, tenho as mesmas angústias de qualquer pessoa. O que tento fazer, quase sempre com sucesso, é jamais deixar que os problemas pequenos asfixiem as alegrias, - também pequenas -, que se apresentam o tempo todo.

Porque a vida é feita de grandes momentos, claro que é; - como festas, casamentos ou formaturas-; mas ela acontece com mais intensidade nas pequenas coisas. O café fumegante nas manhãs sonolentas. Aquele jogo despretensioso com os amigos. A piada contada nos corredores da empresa. A revisão de última hora antes de se fazer uma prova fodida.

Assim, quando você consegue ser feliz nas pequenas coisas, com pequenas alegrias a lhe melhorar constantemente o estado de espírito, quando tudo o que importa é a  brincadeira que um colega acabou de fazer, então fica muito mais fácil encarar as vicissitudes, mesmo aquelas mais espinhosas.

É o que deveriam compreender certos chefes. Não é preciso ser mau para ser um gerente eficaz. Tudo aquilo que um funcionário precisa, muitas vezes, não é algo grande como uma promoção ou um aumento de salário. Às vezes, bastaria um elogio.


É algo pequeno, eu sei; quase imperceptível. Mas é aí que reside o segredo de se viver bem: nas coisas aparentemente pequenas.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Se eu fosse uma formiga


Existem mais informações interessantes sobre formigas do que sobre qualquer outro tipo de animal que habite o nosso planeta, com a possível exceção dos seres humanos. 

Ontem, por exemplo. Eu estava entediado, quando de repente um link me chamou atenção: "Mistérios do mundo com as incríveis formigas zumbis". Fiquei intrigado. Formigas zumbis? Não eram fotos exclusivas da Carol Portaluppi, mas cliquei mesmo assim. 

Então, descobri que há determinados tipos de fungos que invadem o organismo de uma espécie de formiga, as não muito famosas Camponotus leonardi. Esse fungo penetra por seus poros; que devem ser minúsculos poros, quase invisíveis, e, depois dessa invasão, começam a dominar o comportamento das formigas.

Por fim, depois de se desenvolverem, os fungos são ingratos - como são ingratos os torcedores de futebol que vão ao estádio e vaiam antigos ídolos-, e rompem a cabeça da formiga hospedeira, deixando apenas sua carcaça para trás.

É uma história triste, eu sei. Eu, se fosse uma formiga, viveria infeliz com a possibilidade de um fungo tão perigoso e mal intencionado invadir meu corpo, já tão pequeno e frágil.

A vantagem da Camponotus leonardi é que talvez ela saiba exatamente quem ela deve temer: o fungo usurpador. No caso do homem, essa análise é mais complicada. Afinal, é a sua própria espécie quem contamina o leite que ele vai beber, é a sua própria espécie que rouba por um tênis ou celular e que mata por um ciúme banal. O mal não está lá fora, mas nos ameaça através das pessoas que nos rodeiam todos os dias.

Melhor mesmo seria apenas temer ser dominado por um fungo.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Ele usava óculos

Eram duas turmas de primeira série na escola em que eu estudava, e nós costumávamos chamar os alunos que não eram da mesma turma que nós de pessoal “da outra primeira”.

Pois bem. Em uma tarde quase chuvosa, estávamos todos perto da quadra, na hora do recreio, quando alguns meninos da Outra Primeira começaram a provocar um de nossos colegas. Como era mesmo o nome dele? Realmente, não lembro.

O nome dele não importa tanto, o que importa é que eu vi aquela cena, e me cresceu no peito uma indignação, mas uma indignação... Então, saí em disparada e fui em direção ao tumulto, berrando:

- Ei, larguem ele! Ele usa óculos!

E me embolei ali mesmo com um deles. Saí da briga todo embarrado e um pouco machucado, sendo conduzido pelas mãos gentis da Tia Teresa até a diretoria. Eu estava encrencado, sim senhor; mas estava me sentindo orgulhoso. Afinal, eu havia brigado contra uma injustiça.

Hoje, percebo que não. Meu colega não precisava ser defendido só porque usava óculos, nem isso fazia dele uma criança mais frágil.

Meu colega era como o povo brasileiro.

O povo brasileiro também, sempre foi visto como um coitadinho. Um indefeso que não podia se proteger da ação malévola dos corruptos e oportunistas que lhe sugavam as forças. Agora; não mais. Agora, o povo brasileiro descobriu que, na verdade, nunca foi um pobre indefeso. O povo brasileiro descobriu no último mês o quanto ele tem força frente ao inimigo que tenta lhe oprimir, e mais ainda, deixou esse inimigo desnorteado. O povo brasileiro não é um coitadinho.

Assim como aquele meu colega também não era.