segunda-feira, 1 de julho de 2013

Ele usava óculos

Eram duas turmas de primeira série na escola em que eu estudava, e nós costumávamos chamar os alunos que não eram da mesma turma que nós de pessoal “da outra primeira”.

Pois bem. Em uma tarde quase chuvosa, estávamos todos perto da quadra, na hora do recreio, quando alguns meninos da Outra Primeira começaram a provocar um de nossos colegas. Como era mesmo o nome dele? Realmente, não lembro.

O nome dele não importa tanto, o que importa é que eu vi aquela cena, e me cresceu no peito uma indignação, mas uma indignação... Então, saí em disparada e fui em direção ao tumulto, berrando:

- Ei, larguem ele! Ele usa óculos!

E me embolei ali mesmo com um deles. Saí da briga todo embarrado e um pouco machucado, sendo conduzido pelas mãos gentis da Tia Teresa até a diretoria. Eu estava encrencado, sim senhor; mas estava me sentindo orgulhoso. Afinal, eu havia brigado contra uma injustiça.

Hoje, percebo que não. Meu colega não precisava ser defendido só porque usava óculos, nem isso fazia dele uma criança mais frágil.

Meu colega era como o povo brasileiro.

O povo brasileiro também, sempre foi visto como um coitadinho. Um indefeso que não podia se proteger da ação malévola dos corruptos e oportunistas que lhe sugavam as forças. Agora; não mais. Agora, o povo brasileiro descobriu que, na verdade, nunca foi um pobre indefeso. O povo brasileiro descobriu no último mês o quanto ele tem força frente ao inimigo que tenta lhe oprimir, e mais ainda, deixou esse inimigo desnorteado. O povo brasileiro não é um coitadinho.

Assim como aquele meu colega também não era.

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