quinta-feira, 27 de junho de 2013

Eu odiava tomar sadol


Algumas coisas simplesmente desaparecem das nossas vidas, e isso quase sempre é bom.

Quando eu era criança, por exemplo, minha mãe me obrigava a tomar uma colherada cheia de um líquido cor de terra, que tinha gosto enjoativo: sadol. Era para aumentar o apetite, ela me dizia. E eu, que nunca fui assim tão magrinho, não conseguia entender aquelas sessões de tortura. Céus, por quê?!

As crianças de hoje não sabem o que é passar por isso. Sorte a delas que o mundo evoluiu. Um mundo em que os pequenos não são forçados a tomar uma colher de sadol antes de cada refeição é certamente um lugar melhor para se viver.

Outra coisa que desapareceu: o CD de música. Hoje em dia ninguém mais compra isso.

Mesmo aquele baratinho, que era vendido nos bazares, ele também sumiu de nossas vidas. Concluo que, assim como ocorria com o sadol, as pessoas não gostam muito de CD’s.

O que é uma coisa lógica: ninguém quer levar para casa 20 músicas de um mesmo cantor, quando na verdade gosta só de duas ou três das suas canções.

Por isso, sou a favor do poder de escolha.

Quero poder escolher a música que vou ouvir, não um CD inteiro.

Quero um autógrafo do meu ídolo, não de toda a banda.

Aquele iogurte do supermercado vendido em bandeja também me ofende. Quero levar para casa só o que vou consumir hoje.

Ah, e Dilma, quando for feita a reforma política, quero escolher meu candidato. Não vários, mas apenas um.

Eu não quero votar em lista.

terça-feira, 25 de junho de 2013

O lugar em que vivemos

O que mais me deixa feliz nessas manifestações que eclodiram em todo o país em 2013, mesmo que no fim elas não resultem em nada muito concreto; é que elas mostram que, de alguma forma, ainda nos preocupamos uns com os outros.

Por isso queremos melhorar o lugar em que a gente vive: para as pessoas.

E é justamente para elas - para as pessoas -, que um país deve existir.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Fogo em Brasília. Por quê?


As pessoas sempre elegem símbolos. Brasília, por exemplo.

Quando ouvimos o nome dessa cidade, qual é a palavra que vem primeiro à nossa mente? Não é "decisão", ou "democracia", nem nada parecido. O que vem na nossa cabeça é a palavra CORRUPÇÃO.

Por isso, entendo o desejo inconsciente de queimar Brasília. É a lógica da renovação. De queimar a plantação antiga que venho pasto novo.

A questão é que fazer isso não resolve nada - aliás, provavelmente piore.

Por isso é que esse ato é ainda mais lamentável e ingênuo. O problema não é Brasília. O problema são as pessoas que estão sendo colocadas lá, eleição após eleição.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Manifestações: palavra de especialista

Para analisar as manifestações que estão tomando conta do Brasil, conversei com José Carlos Martines Belieiro Júnior, professor de Ciências Políticas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

- Os partidos estão enfraquecidos no nosso país? 
- Como o mundo está nos vendo neste momento? 

- O que vai acontecer a partir de agora?

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Dilma vaiada: o que isso significa

Um presidente, um rei, um primeiro-ministro; essas são figuras muito importantes dentro das nações que governam, não só porque são eles que tomam as decisões mais importantes, mas também porque esses líderes são como símbolos do próprio POVO que eles representam, são símbolos da nação que está submetida às suas decisões.

Por isso é que as vaias dirigidas à presidente Dilma são simbólicas. Não são contra a Dilma mulher, ou contra a Dilma presidente. Essas vaias na verdade são contra a própria nação brasileira. Significam que as pessoas não estão satisfeitas com a forma com que as coisas têm acontecido no lugar que elas vivem.

Essas pessoas só querem arrumar a própria casa. Nada mais.



sexta-feira, 14 de junho de 2013

As manifestações que viraram o jogo

Embora eu nunca tenha chegado a brigar fisicamente com ninguém, já fui ameaçado algumas vezes. Coisas de colégio, você sabe. O que importa é que não serei eu, jamais, a escrever uma linha sequer defendendo a violência, em nenhuma de suas muitas formas, como fator que possa solucionar algum problema.

Não, violência definitivamente não resolve. Esse é o lado negativo das manifestações que têm ocorrido nas principais cidades do nosso país desde segunda-feira. A violência ocorre de todos os lados, desde a parcela de manifestantes que depredam o patrimônio público até a parcela de policiais que fere inocentes de forma truculenta.

Mas não é sobre a violência que eu quero falar. Isso a imprensa já tem noticiado o tempo todo. Quero falar do lado bom disso tudo. Sim, porque tudo na vida tem um lado bom, a gente aprende isso nas derrotas. Ou pelo menos é o que deveria aprender.

O lado bom dos protestos é ver que o brasileiro resolveu, enfim, levantar de sua poltrona confortável. O brasileiro saiu para as ruas com gritos, com faixas, com indignação, sim, mas principalmente, com atitude.

É justamente o que estava faltando. O brasileiro se indigna quando lê que os estádios para a Copa já estão custando mais do que o dobro do valor previsto inicialmente, o brasileiro se irrita quando ouve no noticiário que o político condenado ainda está solto, o brasileiro fica incrédulo com as declarações homofóbicas soltas por aí, mas sempre agüenta tudo passivamente.

Nesta semana, o jogo virou. Afinal, os protestos são contra os aumentos nas passagens de ônibus. Vamos pensar: quem utiliza o transporte público no Brasil? Não é a parte mais rica da população, não é o empresário, não é nem mesmo o prefeito da sua cidade. É o cidadão de bem, esse que trabalha o dia inteiro; que devolve a carteira que encontrou na rua, que não nasceu em berço de ouro e precisa pegar ônibus; é esse cidadão que não aguenta mais.

E é também esse cidadão quem descobriu que uma mudança pode ser motivada pelos mais variados sentimentos, mas só se faz com atitudes. 

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Como surgiu o Dia dos Namorados

O Dia dos Namorados surgiu na Roma Antiga, por volta do século 3.

Naquele tempo a vida era muito mais complicada, pois ainda não existiam coisas que devem fazer muita falta na vida de qualquer pessoa, como a energia elétrica, as mensagens de texto e os shortinhos diminutos, aqueles de tecido fininho que as mulheres usam para dormir.Claro que nem tudo era pior no passado, pois estamos falando também de uma época em que ainda não haviam inventado a Zorra Total e a Banda Calypso.

Enfim, foi nessa época distante que o Imperador Cláudio II resolveu proibir uniões entre homens e mulheres durante as guerras. Segundo ele, os solteiros eram melhores combatentes. Nesse ponto, sou obrigado a fazer outro aparte: o imperador estava certo.

Afinal, o combatente casado provavelmente já estava com alguns quilos a mais, todos adquiridos depois do casamento. E na hora do combate talvez ele fosse menos cruel. Talvez ele lembrasse do olhar triste da mulher que abanava para ele na hora da sua despedida, talvez lembrasse do filho que ela carregava em seu ventre. E talvez, talvez ele concluísse que seu oponente também deixara em casa uma esposa que aguardava ansiosa por sua volta; e isso tudo lhe amolecesse o coração.

Em uma guerra, porém, não há espaço para sentimentalismos. Por isso, acredito que o imperador estava certo.

Mas há outro personagem na história, alguém que não estava assim tão preocupado com os resultados das guerras naquela Roma antiga do século 3. Era o padre Valentim, que se negou a obedecer as ordens do imperador. O padre não só continuou celebrando casamentos como ele mesmo casou-se às escondidas.

Não demorou muito, e o padre Valentim foi condenado à morte. Você sabe, naquela época não existia o Supremo Tribunal Federal, então ele sequer teve a chance de recorrer da decisão e responder ao caso em liberdade. Enquanto aguardava dentro de uma cela até que sua sentença fosse executada, ele apaixonou-se pela filha do carcereiro. Antes de morrer, ele escreveria uma carta a ela assinando com "seu namorado".

Depois disso, o padre morto virou um mártir, e tornou-se São Valentim, um dos santos da Igreja Católica. Uma curiosidade: hoje em muitos países não se diz Dia dos Namorados, e sim dia de São Valentim.

Quando me contaram essa história, fiquei muito impressionado. Afinal, Valentim era um homem já no final de seus dias, com a angústia da morte anunciada a lhe torturar os pensamentos, sabendo que sua execução era questão de dias. O que um homem comum faria em seu lugar? Talvez se arrependesse de todas as oportunidades perdidas durante a vida. Talvez se revoltasse. Talvez pensasse em fugir ou até mesmo enlouquecesse.

Valentim, não.

Valentim se apaixonou. Que capacidade incrível a dele, de se permitir ser arrebatado por uma paixão quando não havia mais esperanças de continuar vivendo. Ele sabia que só existia uma forma de aproveitar o pouco de vida que lhe restava: estando apaixonado.
E assim, ele morreu. Um homem apaixonado.

Desconfio que tenha morrido feliz.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

13ª Feira do Livro de Igrejinha

Este é um evento muito importante, ainda mais porque na edição deste ano está se dando um merecido destaque aos nosso talentos locais por parte da organização da Feira.

Vou estar hoje no Sebo da Fundação Cultural, das 14h30 às 19h30.

Prestigie você também, e boa leitura!


terça-feira, 4 de junho de 2013

Certa tarde de domingo


Fazia frio na tarde em que Tiago morreu.

Era um desses domingos cinzentos em que as pessoas evitam sair de casa, e uma garoa fina começava a lavar as enormes janelas de vidro da acanhada sala de espera. Heitor achara melhor se sentar depois de ouvir a notícia da enfermeira.

A mulher estava bem, dissera, mas nada puderam fazer para salvar a criança. Lamento muito, ela disse, mas sua voz não expressava mais do que um gélido desinteresse.

Nada puderam fazer para salvar a criança... Heitor pega um copo d'agua, mas não bebe. Ninguém naquela merda de lugar, ninguém naquela merda de mundo pode lhe ajudar. Ninguém pode entender o que está acontecendo, nem ele mesmo. É como se a confusão de pensamentos tornasse sua cabeça vazia. Nada puderam fazer para salvar a criança...

Olha o relógio. Três e vinte da tarde. Nada puderam fazer para salvar a criança... O ponteiro se mexe lentamente, mas não para. É uma prova terrível de que a vida continua, apesar de toda aquela dor; apesar de aquela criança tão pequena, tão delicada, de ela ter morrido antes mesmo de berrar seu primeiro choro, antes mesmo de sentir os seus pequenos pulmões serem invadidos pelo ar que todas as pessoas sentem todos os dias, todas as horas, porque estão vivas, vivas!. Não, nunca, nunca! nada daquilo poderia acontecer, nem haveria segunda chance, porque nada puderam fazer para salvar a criança...

O tique-taque do relógio é um deboche.

A vida segue. A vida segue e Tiago está morto. A mulher, pálida naquela cama asquerosa, talvez morra também. Mas nem assim o ponteiro vai parar com aquele maldito barulho. Todo o tempo, tique-taque, sem parar, sempre na mesma velocidade, sempre tão odiável.

Heitor não aguenta, e arranca o relógio da parede. O objeto cai, e seu estrondo desfaz por um instante aquele silêncio de morte. Heitor está aliviado, a barulheira lhe traz uma paz já esquecida; e então ele grita. Grita que aqueles médicos são todos uns filhos da puta, que esse mundo é mesmo muito podre, que talvez tenha sido melhor que seu filho não conhecesse essa podridão.

Nada puderam fazer para salvar a criança...

E enquanto gritava, Heitor perdeu a paciência com as outras pessoas, "Vocês também são podres, por isso estão se afastando de mim com essas caras de medo! Cagões, é isso o que vocês são! ".

E sem poder continuar, o homem sente a visão escurecendo, as coisas se tornando difusas, o corpo amolecer todo de uma vez. Nada puderam fazer para salvar a criança...

Duas enfermeiras correm para socorrer Heitor, desmaiado.

No chão, o relógio tiquetaqueva seu ritmo fúnebre.