segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O (baixo) salário dos vereadores

Li, agora pouco, que um vereador em Igrejinha recebe mensalmente R$2.950,00. Sei que talvez eu seja apedrejado após este texto, mas acontece que considero este valor baixo. Muito pouco para um membro do legislativo.

Alguém dirá, e com toda a razão, que os aposentados brasileiros são obrigados a sobreviver com míseros 678 reais. Concordo que há uma distância inaceitável entre estes valores. Mas aí, minha opinião destoa da maioria: são os aposentados que ganham pouco, não os vereadores que ganham demais.

E neste ponto reside uma curiosidade no comportamento do povo do nosso país: o brasileiro se indigna com os altos salários de alguns cargos públicos, mas raramente protesta contra os baixos ordenados à que é submetida a maioria da população.

Já dependi muitas vezes do trabalho prestado por funcionários públicos; como policiais, professores, e mesmo o dos vereadores. E, se nestas tantas vezes em que dependi destes serviços, se tivesse pensado em quanto eles ganham; a única coisa que gostaria é de que fossem bem pagos. Que aquele bombeiro, aquele médico, aquele prefeito, que eles estivessem motivados e satisfeitos com o seu trabalho e a sua remuneração, para que assim pudessem me prestar a melhor assistência possível.

Nesta lógica, quero que o serviço público tenha os melhores profissionais, e que os cargos públicos sejam ocupados pelos melhores políticos, os mais bem preparados e mais bem assessorados.

E os melhores, para que não se afastem dos serviços públicos, eles têm de ser bem remunerados. Porque, se nem sempre o mais caro é o melhor; é certo que o bom vale mais. Por isso, considero que tem de receber um salário à altura das responsabilidades inerentes ao cargo que ocupa.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

FÉRIAS!

Férias.

Além de época de descanso, é  também o tempo de se ler tudo aquilo que não deu tempo durante o ano. Por isso, nestes dias dourados e escaldantes de dezembro, começo os trabalhos com um clássico de Dostoiévski: Crime e Castigo.

Até aqui têm sido páginas temperadas por uma certa angústia, é verdade; mas a condução da trama é algo que precisa ser sublinhado. Há tempos não lia um romance  tão envolvente.

Depois disso...Ah, as fímbrias do Oceano Atlântico! E para o litoral catrarinense, levarei comigo Cartas na Rua, de Charles Bukowski, seguindo a indicação de um professor. Tenho certeza de que será um grande companheiro nas horas à sombra.

Afinal, não há nada como horas de preguiça aliadas a um bom livro.

Descansar o corpo, alimentar a mente...Se deixassem, acho que eu viveria eternamente em férias.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

De onde deve vir a mudança


O mundo está se despedindo nesta semana de Nelson Mandela. Um homem que mudou o mundo. Que honra extraordinária tivemos!, a de caminhar debaixo do sol inclemente, na mesma época em que viveu um dos maiores líderes de todos os tempos.

E quando digo que Mandela foi um dos maiores, não digo em termos de relevância para os livros de História. Porque isso, Hitler também foi. Não. Mandela foi um dos maiores porque foi um homem superior.

Não nasceu assim, suponho.

Mandela já lutava contra a segregação racial em sua juventude - por isso foi preso -, mas desconfio que foram os 27 anos em uma cela afastada de tudo, foram esses anos de reclusão que o transformaram em um dos maiores homens da humanidade.

Naquela ilha, isolado de tudo e de todos, contando apenas com a amizade de um carcereiro, naquele local apenas o ódio e a solidão esperavam por Mandela.

E o que ele fez? Naturalmente, há de ter sofrido. Há de ter chorado. Mas, ainda assim, mesmo sendo humilhado e afastado das pessoas que mais amava por causa da cor de sua pele, ele teve forças para perdoar. Saiu de lá muito mais forte do que quando entrou. Mostrou ao mundo que, com retidão, fraternidade e fibra moral, se fazem os heróis de verdade.

Antes de Mandela mudar o mundo, portanto, ocorreram mudanças dentro dele mesmo, transformações que o fizeram Grande. É assim que é: temos, cada um de nós, o poder de mudar o rumo de nossas vidas e das pessoas que nos cercam; mas, antes disso, precisamos buscar dentro de nós mesmos a transformação.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Os momentos que eu não vou recordar

Quando estávamos quase saindo do ensino médio, falávamos em colocar ki-suco nos bebedouros da escola. Nós não queríamos ser apenas mais uma turma de terceiro ano, nós queríamos ser lembrados. E, para isso, era preciso algo que impressionasse.

Daí a ideia do suco.

Por fim, acabou que não fizemos a brincadeira, mas desconfio que, mesmo que a tivéssemos concretizado, isso não mudaria muito a lembrança dos outros com relação àquela nossa turma de 2010.

Mudaria, isso sim, as nossas próprias recordações.

E as recordações que carregamos conosco são muito importantes. Afinal, o presente se esvai a cada instante, e o futuro é sempre algo inalcançável. O passado, porém, é algo concreto. O passado é imutável, é nosso; está guardado nas nossas memórias, e dali não pode ser roubado.

Nesta reta final de ano, me peguei pensando na história do suco. E em todas as outras coisas que deixei de fazer, ou mesmo nas coisas que fiz, mas de que me arrependi.

Uma palavra dita na hora errada, a ira não contida, o passo que - pusilânime -, deixei de dar. Bastavam pequenas resoluções, pequenos gestos, e tudo poderia ter sido diferente. Mínimos detalhes que teriam feito minhas lembranças mais alegres ou mais amargas. 


Refletindo sobre tudo isso, o que posso esperar para este 2014, que já está batendo à porta, e o que desejo a todos que me leem; é que os deslizes sejam cometidos aos montes, que as pequenas falhas sejam toleradas, mas que você não olhe para trás e se arrependa de não ter se arrependido de errar.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Elogio e crítica


Na tarde de ontem, saí com a minha namorada – que é de Dois Irmãos, - para exibir, orgulhoso, a decoração do Natal Solidário de Igrejinha (que ficou realmente muito bonita!). 

O problema foi que, ao atravessar a rua, o que era orgulho se transformou em vergonha. Ali, a Praça da nossa cidade estava mais suja do que jamais vi na vida, assemelhando-se a um galinheiro. É uma comparação ruim, eu sei, mas juro que foi a palavra que me veio na cabeça quando procurei um banco para sentar.

Fiquei triste em ver nosso cartão postal nesta situação. Sei que não há apenas um motivo. As pessoas, em geral, têm alguma dificuldade para encontrar a lixeira. É assim aqui, em Dois Irmãos, e em qualquer outro lugar. 

Mas, mesmo com toda essa falta de consciência, há também as folhas que caem das árvores, e toda aquela areia ao redor dos bancos... Aí, bom, não se pode mais apenas culpar as pessoas, os outros. Aí, a responsabilidade da conservação (quem sabe uma vassoura de vez em quando) é da PREFEITURA.

E não me parece uma demanda assim tão difícil de ser resolvida.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Logaritmos e exponenciais


No meu tempo, quando as pessoas ficavam nervosas, elas roíam as unhas... – disse o pai, erguendo os olhos do jornal para encarar a filha.
- Já roí todas, agora só me resta essa caneta – respondeu a garota.
- Ansiedade nessas horas só atrapalha...
- Mas faltam só cinco dias, pai!
- E daí? Tu é tão inteligente...
- Mas é a UFRGS. E Medicina ainda!
- Exatamente – disse o pai, paciente – Apenas uma prova, Mariana. Não é fim do mundo.
- E se eu não passar? Imagina pai, ter que passar por isso tudo outra vez! E aí garanto que todos os meus amigos passam, só pra eu ficar pior... Vou me sentir uma burra, e sei que o senhor vai ficar decepcionado. Aliás, mais decepcionado do que aquela vez que o Inter perdeu pro Mazembe...
- Isso não é verdade, filha. E tu tem que ter pensamento positivo. Tu vai passar!
- E se eu passar e descobrir que não é isso que eu quero?!
- Hoje não dá pra argumentar contigo – desanimou o pai.
- Imagina – continuou Mariana – vou acabar virando uma desempregada, uma sem-teto. Imagina, pai, se eu entro pro MST? O senhor odeia esses movimentos...
- Já pensou em tomar algum calmante?
- Calmante não...mas e se eu tomasse um desses remédios que dizem que aumenta o raciocínio? Imagina pai, se eu tomo uma dessas pílulas e tiro o primeiro lugar? Poderia até escrever um livro!
O pai suspira. E tenta mudar de assunto:
- O que tu vai querer jantar?
- Logaritmos e exponenciais! – exclama Mariana.
- Ahn?
- Quer dizer, quero só uma salada....

O pai resolve voltar a ler o jornal.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Pratas da Casa

Tive uma manhã aprazível no último sábado, quando participei do Sarau Letras e Sons - Pratas da Casa.

Foi uma troca de experiências muito bacana, sem contar que música e literatura sempre fazem muito bem para a alma.

Parabéns para a organização do evento pela bela iniciativa!


sexta-feira, 22 de novembro de 2013

A pior coisa que existe


Entreouvi um trecho de uma conversa telefônica, ontem, entre pai e filha.

Foi atrás de mim, na volta da faculdade.

O pai dizia que estava com saudades, e que a amava. Até aí, nada de mais. Aliás, acho louvável que os pais digam sempre que amam seus filhos, afinal as crianças precisam se sentir amparadas neste mundo implacável e rasteiro.

Mas o que me chamou atenção naquela conversa foi o trecho seguinte. 

Após um hiato de alguns segundos, o pai tornou o falar: "ô filha...não precisa chorar. O pai te ama muito, tá?".

Com a voz já embargando, ele repetiu mais algumas vezes que a amava.

Por fim, após desligar o telefone, o homem comentou com a pessoa que estava do lado:

- É foda... A pior coisa que existe é ouvir o choro da tua criança.

E suspirou.

Fiquei pensativo depois daquilo.


Afinal, a lembrança dos bons momentos entre eles de nada servia para aplacar a saudade que lhes oprimia o peito. Provavelmente, essas lembranças até aumentem a dor alimentada pela distância. Lembrei, então, de uma frase que li nesta semana, de George Lord Byron: a recordação da felicidade já não é felicidade; mas a recordação da dor ainda é dor.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Mensalão: o PT não está perseguido

É claro que o Brasil evoluiu muito nos últimos anos, e que foi sob a gestão petista que a desigualdade social diminuiu significativamente no nosso país. Hoje, as oportunidades existem mais do que em qualquer outra época.

Mas não posso concordar com aqueles que acreditam que o PT é perseguido por uma parte da imprensa, nem que seja este o último partido guardião da ética e da moral na política.

E não são mártires os mensaleiros condenados: são criminosos, como o são todos aqueles que -sendo de qualquer partido -, usaram dá máquina pública para locupletar-se no poder, e escaparam da justiça. Aliás, fico muito surpreso e decepcionado quando algumas pessoas por quem tenho apreço defendem esses criminosos.

A desonestidade não está neste ou naquele partido, está nas pessoas. E, infelizmente, há corruptos em todos os partidos, em todas as empresas, e em todos os segmentos da sociedade. 

Porém, não podemos esquecer que há também aqueles que são bem intencionados. É nisso que temos que acreditar, para que, com um voto mais qualificado, possamos construir um Brasil melhor nas próximas eleições.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Sem lua nem poesia


Era uma noite sem lua nem poesia. No ar parado, reinava um silêncio de morte. Sentado em um banco encardido, incrustado naquela praça quase vazia, eu observava uma figura a poucos metros de mim.
                
Era uma mulher. Estava escorada em um muro vulgar, o cigarro pendendo entre os dedos finos. De tempos em tempos, ela levava o cigarro aos lábios, e depois soprava para cima uma fumaça branca e preguiçosa, dando àquele gesto ares de ritual.

Na penumbra, seu rosto parecia decidido, endurecido pelo tempo, mas, ainda assim, de feições delicadas. Tinha um ar de cansaço, de derrota talvez.  Estava com roupa demais para ser uma puta. Estava solene demais para ser incomodada.

E eu, pobre diabo, observava a cena com miradas indiscretas. Eu poderia ser um estuprador, um ladrão, um maníaco; e nada disso faria com que a minha presença deixasse de ser dolorosamente ignorada. A cada baforada, eu tinha mais certeza: a mulher sabia que eu não era ninguém.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Violência: de quem é a culpa?

Igrejinha, uma cidade tão calma, tão pacata, volta e meia é agitada pela violência urbana. Desde assaltos “pequenos” a homicídios horrendos, cometidos em plena luz do dia, esses crimes ocorrem cada vez com mais frequência.

Por quê? 

Houve um tempo em que se acreditava que o problema da violência era causado pela miséria. Porém, a miséria no Brasil diminui a cada ano, desde a implantação do Real, e a cada ano as cidades se tornam ainda mais violentas.

Logo, não é apenas o abismo social que alimenta o crime.

Há algo mais. 

Será a impunidade? Serão governos negligentes, que mais se preocupam em remediar o mal depois de feito, do que a secar-lhe a fonte? 

Temos muito a refletir.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

O que deveria ser ostentado


Vi o tal vídeo do Rei do Camarote.

E, bom, nada contra quem ostenta luxo, dinheiro e glamour; embora eu considere isso uma forma pouco útil de se marcar uma existência.

Mas, o que quero mesmo dizer sobre isso tudo, é que eu gostaria que as pessoas ostentassem outras coisas.

Coisas mais importantes.

Pense em uma roda de amigos. Alguém poderia dizer, por exemplo, que é ótimo em preservar amizades. Ou em conseguir manter uma conversa inteligente com a colega mais cobiçada da faculdade, aquela que balança o pezinho como ninguém, enquanto ouve o professor explicar a matéria.

A lista seria longa. Algum engraçadinho ostentaria uma outra qualidade fundamental: ser bom em contar as histórias de bebedeiras dos amigos. No meio da conversa, alguém lá na ponta da mesa poderia gabar-se por conseguir fazer uma pipoca que fica praticamente igual à do cinema.

Haveria aquele amigo que é ótimo em ligar para marcar uma caminhada descompromissada, mesmo que já sejam duas horas de uma madrugada amena. E, em resposta, teria também aquele que, mais orgulhoso ainda, contaria aos quatro ventos que tem o hábito de aceitar esse tipo de convite.

Meu avô, se participasse da conversa, diria que é o melhor em geografia, mesmo sem nunca ter completado a escola. E que é uma das poucas pessoas a saber que Sidney não é a capital da Austrália. Uma das poucas pessoas fora da Austrália, claro.

Já o meu professor de Filosofia na faculdade, ele contaria que poucos poderiam superá-lo no quesito entusiasmo durante uma aula sobre Existencialismo. Aliás, foi numa dessas aulas que descobri algo interessante. O filósofo Sartre diagnosticou, certa vez, que a origem da angústia humana reside no fato de o homem NÃO QUERER ser livre. Afinal, é o próprio homem que se deixa aprisionar à fama ou a riqueza.


Penso que, se as pessoas percebessem que podem ser incríveis, apenas com o que elas já têm dentro de si, não precisariam buscar FORA uma felicidade que, justamente por ser buscada nos lugares errados, é uma felicidade que nunca chega.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O sonho

Marcos acordou no meio da noite, sobressaltado. Afrouxou lentamente a pressão exercida sob o travesseiro, que momentos antes representava Natália, a ex-namorada, com quem acabara de sonhar. Era certo que não se arrependia de ter acabado o namoro. No auge dos 20 anos, a vida de solteiro tinha muito a lhe oferecer. Noitadas, bebedeiras, amigos, histórias.

Com Natália, nada disso seria possível. Marcos lembrou da dificuldade em terminar o namoro. De um lado, todas as vantagens da vida de solteiro. De outro, deixar de passar momentos inenarráveis com Natália. Natália com suas coxas grossas, e aquela bunda de parar a avenida. Marcos arrepia-se enquanto lembra. E sua lembrança sobe para os seios, pequenos, mas obtusos. Para a boca carnuda.

 E então, ele começa a lembrar do sonho.

Natália estava linda em um short branco e uma blusa de regata, azul clara como o céu primaveril. No sonho, ela lhe dizia que não tinha mais nada com Fernando, que começara o relacionamento com ele para esquecer Marcos, mas que era impossível esquecê-lo, e ela permitiria que ele fizesse as suas farras, e até mesmo que tivesse outras mulheres, mas não poderia viver nem mais um segundo longe dele. Então, e ela foi chegando perto, seus lábios carnudos se aproximavam cada vez mais, Marcos já podia senti-los...

Quando acordou.

Como todos os sonhos bons, aquele havia sido interrompido na melhor parte. Mas agora, às quatro da manhã de sexta, Marcos estava pensativo. Seria aquele sonho um sinal? Será que Natália e Fernando não estavam mais juntos mesmo? A curiosidade instalava nele um nervosismo, mesmo sabendo que nada mudaria, e a vontade de saber se Natália estava realmente solteira outra vez inquietava, tirava-lhe o sono.

Como fazer para descobrir? Lucas, um de seus melhores amigos, era também amigo daqueles dois. Poderia perguntar pra ele.

Mas não, Lucas era muito burro. Na certa, deixaria escapar o que Marcos perguntara. Natália ficaria achando que ele havia se arrependido, Fernando iria querer briga.

Então, teve uma ideia.

Na manhã seguinte, ligou cedo para Lucas.

Lucas? E aí cara, beleza? Brother, eu tô te ligando pra saber se ta tudo bem aí contigo, com o Juan, a Natália... Por quê? Por nada não, cara, eu tive um sonho ruim essa noite, que vocês três tinham sofrido um acidente...”.

A estratégia era simples. Com o pretexto de um pesadelo envolvendo os três, Marcos pediria como eles estavam. Se houvesse alguma novidade, Lucas certamente contaria.

Porém, a reação não foi a esperada.

Cara, não brinca com isso. Sério isso? Meu Deus! A minha mãe me disse agora pouco no café que também teve um sonho ruim comigo. Puta merda velho, eu não acredito muito nessas paradas, mas agora to gelando aqui...”.

Marcos passou o resto da ligação tentando acalmar o amigo.


E desligou sem saber como estava Natália.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

O travesti e eu

Como diria o eterno Barão de Itararé, de onde menos se espera é que não sai nada mesmo. Mas, a verdade é que nem sempre é assim. Domingo passado, por exemplo.

Já passava das onze da noite, eu estava parado próximo ao portão de saída da Oktoberfest, não havia mais nada de relevante que pudesse acontecer naqueles últimos instante de festa, até que...

Alguém sussurra no meu ouvido, ironizando: “Olha só, que gatas!”.

Olhei na direção apontada. Franzi o cenho, demorei para perceber. Eram dois travestis. Na verdade, eram dois baita travecos, desses que só se veem na televisão.

Aqui, preciso fazer um registro importante: não tenho nada contra travestis, ou qualquer opção sexual que fuja dos padrões. Quem me conhece, sabe disso. Aliás, se há algo que não me incomoda, é a felicidade dos outros.

Mas, voltando aos travestis. Não tinha como não olhar por um instante, afinal, aquelas eram pessoas...diferentes. Não posso imaginar a expressão que eu fiz; o que sei é que um dos travestis reparou no meu, digamos, “estranhamento”, e se ofendeu com isso.
O homem (ou a mulher, nunca sei), puxou o companheiro pela mão, e veio na minha direção, com o dedo em riste.

Fique paralisado. E agora?

Vou ser espancado!?

Então, o travesti chegou bem perto, e disparou:

- o guriiiii...

Bem assim ele falou. Sabe aquela voz forçadamente fininha, puxando as vogais? Pois é.

E eu ali, paralisado. Só olhando.

- O guriiii...- continuou o travesti – tu é feio.

E saiu, pisando firme.

Eu continuei lá, parado.

As pessoas lembram o que faziam quando dois aviões atingiram as torres gêmeas, ou o dia em que o Brasil ganhou a Copa do Mundo, pois eu sempre vou lembrar que, em outubro de 2013, um travesti me chamou de feio.


O Barão de Itararé não contava com o inusitado, o surpreendente. Concluo que deve ser porque ele não teve a oportunidade de conhecer a Oktoberfest de Igrejinha.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Certa noite de inverno

Fazia frio, fazia muito frio naquela tarde longínqua em que chegamos à cidade de Esperança. Uma névoa densa e muito pesada tomava conta dos altos morros que protegiam o povoado, tornando o ambiente ainda mais cinzento. Eu estava triste, disso lembro bem. Aliás, vivia triste. Como alguém que ama o que faz pode viver triste? Pois é, eu vivia. Todos os dias, as palavras de meu pai ecoavam na minha cabeça: “Palhaço de circo? Tu és um desgosto, Raphael!”. 

Perdido em devaneios, nem me dei conta quando paramos. Ia começar toda a trabalheira de novo. Era assim toda vez que chegávamos em uma nova cidade, o cansaço da viagem se misturava com a necessidade de deixar tudo pronto. 

A trupe numerosa, mas silenciosa. Era bom aquele trabalho braçal, porque impedia que a mente se ocupasse de coisas ruins. O frio, penetrando o tecido da roupa, trazia uma sensação de desamparo ao entrar em contato com a epiderme. 

Ao cair da noite, era chegada a hora do espetáculo. Todos os sentimentos ruins se dissipavam. Eu queria guardar os sorrisos das crianças, assim aqueles instantes fugídios se tornariam eternos. Eu queria guardar os aplausos, queria guardar aquela paz. Eu queria congelar o que sentia nessas horas, mas era em vão. 

Sei bem o porquê de lembrar dessa noite, de lembrar dessa cidade. Foram tantas! Mas aquele lugarejo traria algo diferente. Na saída da última sessão, as pessoas andavam apressadas, protegendo-se do frio cortante e ansiando pelo calor de suas casas. Tudo isso eu acompanhava, espiando por uma fresta da imensa lona, enquanto lembrava, com leve melancolia, dos tempos em que eu também tinha um lar aconchegante e uma família para me receber quando as noites fossem geladas. 

Já me preparava para voltar ao convívio da trupe, quando aconteceu. Um menino, - de uns oito anos, não mais do que isso -, sendo conduzido pela mão de sua mãe, olhava para trás, relutante em deixar o local. 

  - Ô mãe...- disse ele, com ar decidido, - eu já sei o que eu vou ser quando crescer. 
  - E o que é? - perguntou a mulher, com ar curioso. 
  - Quer ser do circo! – exclamou.  

  Ela parou um instante, parecendo surpresa com aquela decisão repentina. 

  - Quero ser domador de leão – completou o menino, com olhar sonhador. 
  - Ia ficar lindo – disse a mulher, ajeitando uma mecha rebelde do cabelo do garoto.

Eles seguiram, mas era como se aquele diálogo continuasse se repetindo diante de mim; dez, vinte, trinta vezes. Só bem mais tarde é que resolvi entrar, quando a escuridão invadiu de vez a pequena cidade.


Era uma noite em que fazia frio, fazia muito frio.


"LEITORINHOS"

A Feira do Livro de Campo Bom está acontecendo nesta semana. Lá, antes do evento a Administração Municipal entrega VALE-LIVRO nos seguintes valores:

R$5,00 – para cada aluno da educação infantil
R$10,00- para cada aluno do ensino fundamental
R$20,00- para cada professor da rede municipal

Ações como essa precisam ser elogiadas; e mais do que isso, copiadas. Assim se formam novos leitores, assim se constrói uma Educação sólida e uma sociedade com mais dignidade.

Não é com retórica, e sim com AÇÃO.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

O que um salto alto nos ensina

Agora, um desabafo: não gosto de salto alto. Mesmo com todo esse papo de que ele deixa a mulher mais atraente, com o andar mais sensual; mesmo com toda a unanimidade a favor do salto alto, ainda assim prefiro mulheres usando calçados baixos.

Sei que há ocasiões em que o salto é indispensável. Bom, então que seja usado apenas nessas ocasiões. A meu favor, posso dizer que a minha opinião tem um certo peso, afinal,sou um grande admirador de pés femininos. Sobretudo se for aquele pezinho 35, delicado, besuntado todas as noites com creme Nívea, aquele pé macio e suave como a pele tenra de um bebê.

Mas estou me distraindo. O que importa agora é o salto alto.

Já ouvi até que o salto deixa a mulher mais feminina. Que a torna mais mulher. Isso é besteira: o poder da mulher está sempre nela mesma; nunca nos acessórios. Ou seja: quanto mais natural, mais atraente.

Faço todas essas divagações apenas para dizer que, na maioria das vezes, o simples agrada mais do que o sofisticado. Que a beleza das coisas está mais na essência do que na aparência. E que sim, o grande segredo da Oktoberfest de Igrejinha, que nesta sexta-feira começa mais uma vez, o grande segredo são os voluntários. 

É o que faz a nossa festa ser diferente de qualquer outra. Por mais que essa Oktoberfest seja potencializada a um nível mundial, a sua essência sempre será o voluntariado. E, se um dia essa visão deixasse de existir, então a festa correria o risco de se tornar como uma mulher que não abre mão de um salto alto: bonita; mas um tanto artificial. 


P.S: Jets Getz Los!

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Salada de partidos

Agora sim, caiu a ficha. Finalmente compreendi o que queriam dizer os coros de "Sem partido! Sem partido!", entoados em uníssono, nos protestos de junho deste ano. Eu via aquelas cenas e pensava: "Como assim, uma democracia sem partidos?!".

Mas, como disse, agora compreendi. Hoje, a presença de um partido político, seja ele qual for, tira um pouco da credibilidade de qualquer movimento do nosso país. Porque os partidos estão uma bagunça. Há mais siglas do que os eleitores são capazes de citar.

E o pior é que esse não é o maior dos problemas. O que realmente tira a credibilidade dos partidos é a falta de sintonia entre as cúpulas nacionais e estaduais. As mesmas legendas que digladiam em nível estadual, se abraçam em Brasília. 

E vice-versa.

Houve um tempo em que haviam confronto de ideias, debates acalorados. Hoje, não. Hoje, todos defendem praticamente a mesma coisa.

 É preciso uma reforma urgente. 


Continuo convicto de que toda democracia precisa de partidos políticos, mas que sejam partidos de verdade; e não cabides de cargos públicos, feitos de parcerias puramente eleitoreiras, como o que temos visto ultimamente.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Campeonato sem graça


Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer. Quem disse isso foi Mahatma Ghandi, um gênio. Aliás, adoro usar citações de gênios, porque no caso de o texto ficar ruim; bom, pelo menos ainda há uma grande frase para salvá-lo.

Mas a frase.

Por que Ghandi disse isso? Ele não poderia ter dito que SEMPRE o primeiro passo pra a vitória é o desejo de vencer? Decerto que sim. Por que apenas nas grandes batalhas, então?

Aí que está. Ghandi sabia que um homem não pode vencer sempre, e que a derrota serve para moldar seu caráter. Além disso, é nas grandes batalhas que surgem os heróis e vilões, que se mostra quem tem fibra moral e é capaz de suportar as maiores pressões.

Por isso o Campeonato Brasileiro é tão chato. Na fórmula de pontos corridos não existe a grande batalha de que Ghandi falava, não existe uma final. E, assim como na vida, um time campeão deve se formar em grandes jogos, na tensão que emana das arquibancadas, no gol aos 49 do segundo tempo.

Ali sim, veríamos quem realmente tem espírito de campeão.

Alguém dirá que na fórmula de pontos corridos, todos os jogos são importantes. Ora, se todos os jogos são importantes, então nenhum é. Sendo assim, assistimos ao Cruzeiro levantar a taça com três meses de antecipação, em um dos campeonatos mais chatos da história, que é ironicamente disputado no país do futebol.


E eu aqui, sonhando com as grandes batalhas de que Ghandi falava. Que saudade de um campeonato com jogos decisivos!