sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O sonho

Marcos acordou no meio da noite, sobressaltado. Afrouxou lentamente a pressão exercida sob o travesseiro, que momentos antes representava Natália, a ex-namorada, com quem acabara de sonhar. Era certo que não se arrependia de ter acabado o namoro. No auge dos 20 anos, a vida de solteiro tinha muito a lhe oferecer. Noitadas, bebedeiras, amigos, histórias.

Com Natália, nada disso seria possível. Marcos lembrou da dificuldade em terminar o namoro. De um lado, todas as vantagens da vida de solteiro. De outro, deixar de passar momentos inenarráveis com Natália. Natália com suas coxas grossas, e aquela bunda de parar a avenida. Marcos arrepia-se enquanto lembra. E sua lembrança sobe para os seios, pequenos, mas obtusos. Para a boca carnuda.

 E então, ele começa a lembrar do sonho.

Natália estava linda em um short branco e uma blusa de regata, azul clara como o céu primaveril. No sonho, ela lhe dizia que não tinha mais nada com Fernando, que começara o relacionamento com ele para esquecer Marcos, mas que era impossível esquecê-lo, e ela permitiria que ele fizesse as suas farras, e até mesmo que tivesse outras mulheres, mas não poderia viver nem mais um segundo longe dele. Então, e ela foi chegando perto, seus lábios carnudos se aproximavam cada vez mais, Marcos já podia senti-los...

Quando acordou.

Como todos os sonhos bons, aquele havia sido interrompido na melhor parte. Mas agora, às quatro da manhã de sexta, Marcos estava pensativo. Seria aquele sonho um sinal? Será que Natália e Fernando não estavam mais juntos mesmo? A curiosidade instalava nele um nervosismo, mesmo sabendo que nada mudaria, e a vontade de saber se Natália estava realmente solteira outra vez inquietava, tirava-lhe o sono.

Como fazer para descobrir? Lucas, um de seus melhores amigos, era também amigo daqueles dois. Poderia perguntar pra ele.

Mas não, Lucas era muito burro. Na certa, deixaria escapar o que Marcos perguntara. Natália ficaria achando que ele havia se arrependido, Fernando iria querer briga.

Então, teve uma ideia.

Na manhã seguinte, ligou cedo para Lucas.

Lucas? E aí cara, beleza? Brother, eu tô te ligando pra saber se ta tudo bem aí contigo, com o Juan, a Natália... Por quê? Por nada não, cara, eu tive um sonho ruim essa noite, que vocês três tinham sofrido um acidente...”.

A estratégia era simples. Com o pretexto de um pesadelo envolvendo os três, Marcos pediria como eles estavam. Se houvesse alguma novidade, Lucas certamente contaria.

Porém, a reação não foi a esperada.

Cara, não brinca com isso. Sério isso? Meu Deus! A minha mãe me disse agora pouco no café que também teve um sonho ruim comigo. Puta merda velho, eu não acredito muito nessas paradas, mas agora to gelando aqui...”.

Marcos passou o resto da ligação tentando acalmar o amigo.


E desligou sem saber como estava Natália.

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