quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Sem lua nem poesia


Era uma noite sem lua nem poesia. No ar parado, reinava um silêncio de morte. Sentado em um banco encardido, incrustado naquela praça quase vazia, eu observava uma figura a poucos metros de mim.
                
Era uma mulher. Estava escorada em um muro vulgar, o cigarro pendendo entre os dedos finos. De tempos em tempos, ela levava o cigarro aos lábios, e depois soprava para cima uma fumaça branca e preguiçosa, dando àquele gesto ares de ritual.

Na penumbra, seu rosto parecia decidido, endurecido pelo tempo, mas, ainda assim, de feições delicadas. Tinha um ar de cansaço, de derrota talvez.  Estava com roupa demais para ser uma puta. Estava solene demais para ser incomodada.

E eu, pobre diabo, observava a cena com miradas indiscretas. Eu poderia ser um estuprador, um ladrão, um maníaco; e nada disso faria com que a minha presença deixasse de ser dolorosamente ignorada. A cada baforada, eu tinha mais certeza: a mulher sabia que eu não era ninguém.

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