quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Os vilões de Santa Maria


Que mal nos fizeram os contos de fadas que ouvimos e lemos quando éramos crianças!

Ali aprendemos que a vida se divide entre mocinhos e vilões, e que se combatermos esses vilões que são simplesmente maus, o mundo estará bem.

O problema é que a vida de verdade não é tão simples.

A tragédia em Santa Maria mostra isso.

Esses manifestantes que foram às ruas ontem clamando por punições a torto e a direito, eles acreditam que a história teria um desfecho menos trágico se acabasse com alguns vilões na cadeia.

Procurar culpados antes de se apurar causas é um erro. Erro compreensível. As pessoas acham que podem amenizar sua dor vendo o vilão pagar pelo que fez.

Mas será que o vilão existe?

Talvez seja o dono da boate, que não se preocupou com saídas de emergência no seu estabelecimento.

Talvez seja o vocalista da banda, que acendeu um sinalizador em um ambiente fechado.

Talvez sejam os bombeiros que fizeram uma má fiscalização do local.

Talvez seja o Poder Público que não cria leis rígidas para garantir a segurança dos cidadãos.

Talvez sejamos todos nós que nunca nos preocupamos com esses detalhes quando fomos curtir uma festa. Fomos imprudentes com nossa própria segurança durante toda a vida.

E agora exigimos condenação.

Não sou a favor da impunidade, jamais serei.

Mas quando a polícia age sobre pressão popular, ela age mal. Pune por punir, pune para saciar a sede de justiça das pessoas.

É tão cedo para se concluir tanta coisa...

Tão cedo, e já foram escolhidos os vilões da história. 

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A necessidade de dizer não


Em geral as pessoas detestam os atendentes de telemarketing.

É como ser juiz de futebol, uma profissão ingrata por natureza.

Já eu sinto pena dos pobres atendentes, mesmo que eles me deixem angustiando, porque odeio dizer “não”, e em geral as propostas que me fazem por um novo plano de telefonia não me interessam.

Eu fico imaginando alguém que ganha pouco mais do que um salário mínimo por mês ligando para centenas, talvez milhares de pessoas por dia, e sendo quase sempre desprezado nessas ligações. Talvez ele tenha metas impostas pela empresa, talvez ele precise de um número mínimo de pessoas a cada dia que aceitem o plano da operadora para continuar no seu emprego.

Imaginar isso tudo é muito triste.

Afinal, o que é ruim não é a pessoa que me liga, é o plano que ela oferece.

Mas ruim, digo ruim mesmo, é ter que dizer “não”.

Tenho ímpetos de interromper a voz já cansada e dizer: “Eu aceito! Cara, eu sempre quis esse plano! Adoro ligar para as pessoas entre meia-noite e seis da manhã. Aliás, acho que nasci para ser chato e acordar o mundo inteiro. Talvez eu até aprenda japonês, porque lá na Ásia eu não precisaria acordar ninguém se quisesse ligar para as pessoas nesse horário”.

Bom, pensando bem, algumas propostas são mesmo inaceitáveis, e o jeito é dizer “não” e pronto.

Por isso, se eu fosse um gestor, distribuiria “nãos” quando julgasse necessário, mesmo que isso me desagradasse. É justamente o que deveriam fazer com algumas torcidas organizadas. Quando uma Organizada se torna mais importante para um determinado grupo de pessoas do que o próprio time que eles deveriam apoiar, é hora de dizer chega, e extinguir o problema.

Às vezes, por pior que possa parecer, o “não” é a única coisa a se fazer.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Como é ser assaltado


Ser assaltado é bem diferente do que dizem, pelo menos na primeira vez – e espero que seja a última.

Você não sente medo na hora. Eu pelo menos não senti. Fiquei muito surpreso quando fomos abordados (“cara, isso não ta acontecendo!”) e depois o que senti foi raiva. Muita raiva.

O medo só vem depois.

Medo da possibilidade. Eis o que faz uma pessoa sentir medo: saber que é alta a possibilidade de que algo ruim aconteça, e posso garantir que esse sentimento se torna mais palpável depois que você fica na mira de alguém que está armado e mal-intencionado.

Um pouco de medo não é ruim, pois assim você toma precauções, você se previne, você enxerga o mal onde o mal existe. Mas medo demais paralisa.

Então, como combater e reduzir o medo, se aquilo que o homem teme é a POSSIBILIDADE de que algo aconteça?

Simples: reduzindo essa possibilidade.

Isso se faz com policiamento ostensivo. Viaturas, muitas viaturas nas ruas mostrando que a polícia está atenta ao que acontece em todos os cantos da cidade e que irá agir com rapidez e rigor caso haja necessidade.

Com câmeras de segurança que efetivamente FUNCIONEM.

Vigilância.

Leis mais duras com marginais.

É isso que deve ser feito.

Enquanto isso, vamos aprendendo a conviver com o medo, não só pela nossa própria segurança - mas acima disso, pela segurança das pessoas que amamos.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

"Eu estava preocupado com ela"



Incrível e triste uma história que aconteceu ontem em Dois Irmãos.

O cara estava completando 37 anos de idade e resolveu comemorar a data com a namorada, então marcaram de almoçar juntos em um restaurante - tempos atrás seria engraçado alguém ter uma namorada de 46 anos –, e os dois iam aparentemente felizes por volta do meio-dia, quando...


Um homem armado surge, anunciando assalto.

A mulher foi deixada no início de um matagal, e o homem, um empreiteiro, foi levado pelo criminoso até o meio do mato, onde eles não poderiam mais ser vistos.

O ladrão ordenou que o homem virasse de costas.

Aproximou-se com o revólver calibre 32 e encostou o cano gelado da arma na nuca do pobre aniversariante.

Era o fim.

Então ele apertou o gatilho. Não uma; mas cinco vezes.

E por cinco vezes a arma não disparou.

Era um milagre. No dia em que completava 37 anos, o homem ganhava de presente a oportunidade de recomeçar, depois de tudo parecer perdido, depois de ver-se na iminência da morrer após ser assaltado.

Mais tarde, ao prenderem o matador azarado, a revelação:

O homem que renasceu descobriu que o criminoso era amante de sua namorada. Descobriu também que sua morte fora planejada pela própria companheira.

Afora os elementos fortes presentes nesta história incrível, que são crime, medo, sorte, traição e até um final relativamente feliz, me chamou a atenção a decepção do homem que sobreviveu, apunhalado por uma das pessoas que mais amava.

Ao ser perguntado sobre o que sentira na hora que o assassino colocou a arma na sua nuca, ele respondeu apenas:

- Eu estava preocupado com ela, que havia ficado para trás.

Incrível. Seu último pensamento seria preocupar-se com a mulher que arquitetara a sua morte.

Quantas vezes isso acontece todos os dias? Quantas vezes nos preocupamos com quem não merece?

Pensando bem, talvez seja melhor nem saber...

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Como é bom ser homem


Comecei o dia com uma notícia que me deixou aliviado. O ator que assumiu ser bissexual na semana passada é o José de Abreu, e não o José Mayer, como eu havia entendido.

Menos mal.

Porque se o José Mayer admitisse que gosta de homens, se ele que é o um dos maiores garanhões do país se rendesse à lascívia com indivíduos do mesmo sexo, então homem algum em nenhum canto do país poderia ter 100% de certeza da sua heterossexualidade.

Afinal, se o José Mayer, que é o José Mayer...

Enfim. Menos mal que foi um engano. Assim podemos voltar a não duvidar de nós mesmos, nós que somos caretas, nós que gostamos de mulher e não temos a menor intenção de variar o cardápio, nem por mera curiosidade.

..............................................................................................

Uma vez, no desfile da gincana, eu me vesti de mulher. Vestido apertado, peruca, cílios postiços... Cílios postiços, francamente!


Saí de lá ainda mais convicto: é muito bom ser homem.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O que me falta para ser um advogado


 - Eu faço Letras – digo orgulhoso quando me perguntam o que eu estudo na faculdade.

As pessoas parecem não entender bem:

- Huum... Mas... e daí tu vai trabalhar com o quê? Professor?

A profissão mais nobre que se pode exercer em uma sociedade, sendo encarada como se eu dissesse:

- Meu sonho é ser catador de lixo!

Lamento que os professores sejam mal pagos e desvalorizados nesse país tão desigual como é o Brasil, mas serei uma vítima consciente dessa desvalorização.

Sobretudo porque sou um tolo, e acredito em coisas que há muito se perderam, como valores éticos acima de vantagens pessoais obtidas de forma inescrupulosa.

Eu penso que talvez a minha vida tenha mais sentido se eu contribuir para que o mundo em que vivo seja um lugar melhor, sendo também uma pessoa melhor, ao invés de apenas ganhar dinheiro como um engravatado. Nunca terei ambições óbvias, porque compreendi muito cedo que a realização profissional e pessoal pode ter muitas formas.

Eu sei, sou um ingênuo, mas é nisso que acredito.

E sou também um fraco, porque deixo a minha consciência me dominar. Não me permito deslizes morais, e quando os cometo me sinto constrangido, porque sou sempre flagrado nesses momentos.

Não por outras pessoas, que se há algo que pouco me importa é a opinião das outras pessoas sobre os meus deslizes. Sou flagrado por mim mesmo; e aquilo que eu penso sobre mim, isso sim me importa muito, e pode até me fazer perder o sono.

Por causa de toda essa fraqueza, por não saber vencer a minha consciência e querer fazer sempre tudo certo, não poderia jamais ser um advogado. Não me falta inteligência ou poder de convencimento, me falta a capacidade de conseguir dormir tranqüilo depois de agir errado para me beneficiar ou beneficiar outra pessoa.

Olhem esse caso do José Genoíno, que ontem tomou posse na Câmara dos Deputados. Não existe uma vírgula na lei que o impeça de assumir sua cadeira no Parlamento, mesmo sendo um condenado da Justiça, já que a sentença já foi proferida, mas ainda precisa ser publicada. E por isso ele assumiu o cargo sem peso algum na consciência, para incredulidade nacional.

Já eu fico pensando que nesse caso a questão não é legal; é ética. Um país em que um condenado representa seu povo é um país capenga, sobretudo moralmente. Como também pensa outro petista, Olívio Dutra, que critica a atitude de Genoíno, na página 7 da Zero Hora de hoje.

É bom ver que não estou sozinho, mas isso não me faz sentir menos tolo.

Realmente, nasci para ser professor.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Fuçar para frente


Tradições são curiosas.

Afinal, de onde surge uma ação coletiva, qualquer uma, e o que faz com ela se torne um hábito entre as pessoas?

Muito curioso.

Isso de comer carne de porco no Ano-Novo, por exemplo.

Aqui está a explicação:

 “Comer carne de porco é ótimo para o ano novo, isso porque ele é um animal que fica fuçando pra frente, ou seja, é como um estímulo para o ano que está chegando. Não coma peru, frango ou então faisão porque eles ciscam para trás”.

Confesso, não me contive e tive de rir quando li isso. Não pela tradição, que até gosto de tradições; mas porque sei que há pessoas que realmente acreditam nisso, e que talvez fiquem muito chateadas se não puderem comer carne de porco no almoço de hoje.

Sabe qual é o motivo de eu estar escrevendo sobre isso?

Nenhum.

Ou talvez seja só para poder começar o ano com a imagem de um porco no blog.

Sabe como é, não acredito em superstições, mas por via das dúvidas...