sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O que me falta para ser um advogado


 - Eu faço Letras – digo orgulhoso quando me perguntam o que eu estudo na faculdade.

As pessoas parecem não entender bem:

- Huum... Mas... e daí tu vai trabalhar com o quê? Professor?

A profissão mais nobre que se pode exercer em uma sociedade, sendo encarada como se eu dissesse:

- Meu sonho é ser catador de lixo!

Lamento que os professores sejam mal pagos e desvalorizados nesse país tão desigual como é o Brasil, mas serei uma vítima consciente dessa desvalorização.

Sobretudo porque sou um tolo, e acredito em coisas que há muito se perderam, como valores éticos acima de vantagens pessoais obtidas de forma inescrupulosa.

Eu penso que talvez a minha vida tenha mais sentido se eu contribuir para que o mundo em que vivo seja um lugar melhor, sendo também uma pessoa melhor, ao invés de apenas ganhar dinheiro como um engravatado. Nunca terei ambições óbvias, porque compreendi muito cedo que a realização profissional e pessoal pode ter muitas formas.

Eu sei, sou um ingênuo, mas é nisso que acredito.

E sou também um fraco, porque deixo a minha consciência me dominar. Não me permito deslizes morais, e quando os cometo me sinto constrangido, porque sou sempre flagrado nesses momentos.

Não por outras pessoas, que se há algo que pouco me importa é a opinião das outras pessoas sobre os meus deslizes. Sou flagrado por mim mesmo; e aquilo que eu penso sobre mim, isso sim me importa muito, e pode até me fazer perder o sono.

Por causa de toda essa fraqueza, por não saber vencer a minha consciência e querer fazer sempre tudo certo, não poderia jamais ser um advogado. Não me falta inteligência ou poder de convencimento, me falta a capacidade de conseguir dormir tranqüilo depois de agir errado para me beneficiar ou beneficiar outra pessoa.

Olhem esse caso do José Genoíno, que ontem tomou posse na Câmara dos Deputados. Não existe uma vírgula na lei que o impeça de assumir sua cadeira no Parlamento, mesmo sendo um condenado da Justiça, já que a sentença já foi proferida, mas ainda precisa ser publicada. E por isso ele assumiu o cargo sem peso algum na consciência, para incredulidade nacional.

Já eu fico pensando que nesse caso a questão não é legal; é ética. Um país em que um condenado representa seu povo é um país capenga, sobretudo moralmente. Como também pensa outro petista, Olívio Dutra, que critica a atitude de Genoíno, na página 7 da Zero Hora de hoje.

É bom ver que não estou sozinho, mas isso não me faz sentir menos tolo.

Realmente, nasci para ser professor.

Um comentário:

  1. Você tem idéias muito boas e uma escrita envolvente! Um bom professor sempre será reconhecido! Acho que está falta de reconhecimento da importância dos professores, as vezes vem dos próprios professores. Ser professor exige empenho, pena que nem todos se comprometem com a sua carreira. Talvez seja pelo desestímulo, como fala... talvez.

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