terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Elogio e crítica



 Eu sei que em ano eleitoral é muito delicado elogiar ou criticar, mas eu preciso fazer uma colocação justa: essas academias ao ar livre implantadas em Igrejinha são uma das melhores coisas que foram feitas nos últimos tempos.

 E olhem que a ideia original não surgiu daqui, o que mostra que além de tudo, também é preciso saber o que pode e deve ser copiado de outros lugares. Quando se investe no bem-estar das pessoas, mesmo com coisas aparentemente tão simples, se cria um lugar melhor para se viver, e isso não tem preço.

 Agora, um aparte: estive no hospital Bom Pastor dia desses cuidando de um amigo. O hospital segue sendo um dos melhores - talvez o melhor - da região, mas possui suas limitações. Limitações essas que poderiam ser compensadas com profissionais dedicados e comprometidos, mas percebi que nem todos o são.

 Problemas todos temos, mas quando se escolhem profissões em que se vai lidar com PESSOAS, deve-se saber de uma coisa: elas não têm culpa. Não têm culpa do seu baixo salário nem das suas condições ruins de trabalho. E quando descontamos as frustrações em quem não merece, estamos sendo culpados também.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O que as pessoas temem


 Essa brincadeira do Facebook do “Desafio dos 50 Dias”, em que cada dia você coloca a foto que corresponda ao tema proposta para aquele dia envolve algumas questões interessantes.

 No 17º dia você é desafiado a colocar uma foto que represente um medo. O medo, você sabe , é uma condição presente em todos os seres humanos, que muitas vezes evita que façamos besteiras e que outras vezes faz com que percamos oportunidades, que coisa.

 Mas enfim, o desafio não fala daquele medo que carregamos intimamente, porque esse medo jamais será exposto publicamente. Então, passamos para um segundo tipo de medo: o medo coletivo.

 O medo coletivo é um medo temido por quase todas as pessoas de uma sociedade, por isso pode ser admitido sem maiores problemas. E o que a grande maioria das pessoas coloca como sendo o seu medo no Facebook? 

 A solidão.

 As pessoas têm uma consciência coletiva que comprova aquilo que eu disse no meu discurso de Formatura: nada do que vivemos vale um centavo se não tivermos com quem compartilhar. Então, quando nos damos conta de que o que realmente importa são os Outros, surge o medo de que de repente eles não estejam mais ao nosso lado.

 Achei curioso esse medo ser tão forte justamente agora que existem tantas redes sociais. Quer dizer, todo mundo está conectado o tempo todo, e num contraponto paradoxal, as pessoas se sentem mais solitárias.

 Acho que consigo compreender o porquê. Não precisamos tanto assim de Facebook, Twitter, MSN... Precisamos mesmo de olho no olho, pele na pele, do riso fácil, quem sabe de um beijo inesperado. Enfim, precisamos de todas essas coisas que o isolamento de um monitor não permite. 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Desânimo e desabafo

 O desaparecimento do menino Juan me quebrou ao meio. Não só por compaixão aos familiares, que certamente estão desesperados, mas o que mais me abalou foi o fato de que isso aconteceu aqui no nosso bairro Viaduto, um bairro que eu sempre considerei tranqüilo, e em Igrejinha, que também deve ter sido tranqüila um dia.

 Eu mesmo, quando tinha a idade do Juan também era coroinha. O desaparecimento desse menino é um tapa na nossa cara. Pela forma como ocorreu. Às 6 da tarde, com sol alto, passeando com seu cachorro, que é o que todas as crianças fazem no horário de verão.

 A sensação que eu fiquei é de que não há saída, a não ser esperar sempre o pior. Não existe mais a Liberdade de se viver com tranqüilidade. Um pai não pode ter a Liberdade de dormir sossegado sem medo de que sua casa seja invadida por ladrões e uma criança não pode ter a Liberdade de brincar serenamente na rua, pois uma voz nos diz que o Mal está em todos os lugares e pode se manifestar a qualquer instante.

 Nesse estado de coisas em que a nossa sociedade se encontra é difícil achar lugar para a esperança. É preciso mudar tudo. Investir em Educação, formar cidadãos dignos que não busquem o caminho da criminalidade, enfim, criar um lugar melhor para se viver. Mas essa Liberdade o Estado Brasileiro não proporciona.

Por quê? Eu já não sei mais. Queria ter uma fórmula pronta para resolver todas essas questões, mas dessa vez me rendo ao desânimo de pensar que talvez as coisas nunca mudem.

 Concluo o desabafo rezando para que o Juan seja encontrado, que tudo tenha sido um susto, e que possamos, um dia, viver em lugar melhor, com pessoas melhores e crianças brincando livremente.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Antes de seguir em frente

 O ser humano é insatisfeito por natureza. Não é a toa que a melhor hora de dormir é sempre a hora que o despertador toca. O ser humano quer essencialmente aquilo que não tem, para que depois de conquistado, possa desdenhar de si mesmo e pensar que, afinal de contas, aquilo nem era tão bom assim.

 Essa é uma característica muito importante, porque garante que não haja acomodação. A invenção da luz elétrica é uma resposta ao desconforto, a do avião é fruto de uma insatisfação com a distância.

 E, de insatisfação em insatisfação, vamos evoluindo. Já chegamos ao Blu-Ray e só Deus sabe onde vamos parar. Ou nem Ele sabe.

 Mas o problema surge quando a insatisfação cega não nos deixa perceber tudo aquilo que temos, tudo aquilo que foi tão duramente conquistado. Aí a vida parece ser pior do que ela realmente é.

 Por isso você não pode se tornar obcecado por melhorar, conquistar, avançar. Você deve sempre buscar o que deseja, mas sem transformar isso em razão de viver. E você deve, deve mesmo, parar de vez em quando e pensar como é bom ter conseguido tudo aquilo que você já conquistou. E só então seguir em frente.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Míseros 7 bilhões

 “Construir e reformar os estádios brasileiros para a Copa do Mundo está 21% mais caro, comparado ao primeiro orçamento anunciado pelo Governo Federal em janeiro de 2010. O custo total estimado para as obras dos 12 estádios já alcança a cifra de R$ 6,69 bilhões.”

  Assim começa a reportagem de Bianca Zanella e Rodrigo Müzell para o jornal Zero Hora. Os meus olhos se detêm por um breve instante na inacreditável cifra de quase 7 bilhões de reais, enquanto eu tento absorver com calma esses valores todos.

  A Copa do Mundo no Brasil está mostrando que somos o país do futebol, não da organização. Já não seja o absurdo de se investir em estádios que não irão abrigar grandes jogos após o Mundial (como na Amazônia e em Brasília), as obras já estão 21% mais caras do que a previsão inicial.

 A questão é: de onde sai tanto dinheiro público para se fazer estádios? Vejo os gastos com infra-estrutura como legítimos do Estado, já que vão melhorar a vida de toda a população. Mas e os estádios, servem a quem? De quem será o lucro depois de prontos?

 É inadmissível que haja tanta irresponsabilidade com o uso do nosso dinheiro. Quando se fala em melhorar o SUS, reformar a Educação ou aumentar o salário mínimo, os demagogos falam em “responsabilidade fiscal” e surgem mil burocracias. Mas para a Copa, o dinheiro sai a rodo.

 Mas devemos esquecer desse e de outros problemas, já que daqui há alguns dias começa o Carnaval. Viva o país do futebol.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O que os olhos vêem

 Eu tinha separado esse post para compartilhar com vocês as fotos do almoço de hoje na Fundação Cultural, quando a gente reuniu toda a equipe para comemorar o meu aniversário. Mas não vou fazer isso. Sabem por quê? Porque o degas aqui esqueceu de tirar as fotos.

 O que é uma pena, pois essas fotos um dia seriam fotos antigas e despertariam a nostalgia de um dia que foi muito bom. Tudo bem, as lembranças ficam como um registro mais preciso, já que fotos não guardam cheiros por exemplo, e não captam sentimentos, apenas registram o que os olhos vêem.

E o que os olhos vêem quase sempre é muito pouco. Porque o que realmente importa não se passa por fora, mas é aquilo que carregamos dentro de nós. Em "Parerga e Paralipomena" Schopenhauer escreveu que "em igual ambiente cada um vive em um mundo diferente".

Ou seja, são as nossas emoções e o que estamos sentindo no momento que determinam o que o que é bom, ruim, ou mais ou menos. Mas chega de filosofia. O meu dia está sendo realmente muito bom. Por ora, é o que importa.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Pelo amor de Deus

  - Pelo amor de Deus!

 Você está lá, no momento crucial em que o criminoso aponta uma arma para você e um simples aperto no gatilho pode pôr fim à sua vida, quando tudo o que lhe resta é implorar:

 -Não! Pelo amor de Deus, pense bem!

O "pelo amor de Deus" é o último e desesperado argumento de qualquer pessoa em uma situação em que não há mais o que argumentar. O "pelo amor de Deus" deve ser algo realmente forte, algo que pode fazer com que o criminoso repense  a sua atitude.

 Porque afinal, quem não quer o amor de Deus? Nós já descobrimos que não viveremos para sempre, então, para dar um tom de legitimidade a tudo o que a gente vive, pensa e sente, concluímos que deve existir algo após a morte, algo além do apodrecimento da carne e do fim inexorável. E nisso tudo há um juiz: Deus.

É isso que faz com que todos queiram o tal amor de Deus, já que a eternidade aparentemente dura bem mais do que uma existência humana aqui na Terra. Todos precisamos disso para respirar aliviados e pensar: "ufa, que bom que eu não vou 'acabar' um dia...".

O problema surge quando a necessidade do "amor de Deus" faz com que algumas pessoas percam a lucidez. Na Idade Média pessoas à beira da morte arrependiam-se de seus pecados e pagavam fortunas a religiosos para "comprar uma parte do Céu". Como hoje somos um pouco menos ingênuos, as técnicas são mais apuradas.

Mas elas estão aí. Por isso, desconfie sempre. Questione. Os Livros sagrados podem ser questionados em qualquer religião que não pregue um deus arrogante. Pense: "será que isso é assim mesmo ou pode ser interpretado de outra forma?". Acreditamos por milhares de anos em verdades consideradas absolutas que caíram por terra, então por que não duvidar do que nos é apresentado?

Quando finalmente houver mais lucidez, talvez possamos viver em um mundo melhor, com menos divisões religiosas, menos preconceitos e mais aceitação. Talvez hajam argumentos mais consistentes para se defender uma ideia. E talvez, talvez nunca mais se ouça falar em crimes cometidos pela coisa mais idiota que existe, que é o fanatismo religioso.