segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O terror de Luzia

Luzia entrou silenciosamente na sala, andando na ponta dos pés. Havia muito que estava decidida a fazer o que faria, mas naquele instante seu corpo inteiro tremia. No momento em que colocou o pé delicado no primeiro degrau do lance de escadas pensou em desistir, em recuar, mas como se fossem independentes, suas pernas ignoravam esses pensamentos pusilânimes.

Um leve ranger de madeira na forma de um estalo sucedeu seus primeiros passos na escada, em ruídos quase imperceptíveis. Imperceptíveis para quem estava ocupado em fazer coisas melhores e mais importantes, concluiu Luzia com raiva.

Havia decidido que aquele seria o dia do basta. Fazia dois meses que havia descoberto as infidelidades do marido, e a forma como a traição acontecia lhe doía mais do que o ato em si. Todas as quartas-feiras, no início da manhã, o quarto do casal se transformava na alcova de sexo entre Marcos e amante.

A pior parte da descoberta de Luzia fora descobrir que a amante de Marcos era Ana, sua melhor amiga. A traição dupla a fizera sentir-se desamparada no primeiro instante, apunhalada pelas duas pessoas em quem mais confiava. No entanto, esse sentimento foi rapidamente substituído por um frio desejo de vingança.

Luzia queria pegá-los no flagra. Queria humilhá-los, mostrar aos dois tudo o que o relacionamento adúltero deles tinha de sórdido, vergonhoso e traiçoeiro. Com as batidas do coração ecoando em sua cabeça, chegou ao fim da escada girou a maçaneta da porta de seu quarto, que estava apenas encostada.

A cena que viu a seguir causou um estremecimento em Luzia. De quatro na cama, com o corpo já totalmente despido, Ana tinha a cabeça mergulhada no corpo de Marcos, provavelmente fazendo sexo oral. Luzia já sabia o que poderia ver naquele flagra, mas era como se registrar aquelas cenas impressas em suas retinas tornasse o ato mais real, mais nojento.

Perdendo o que restava de seu sangue frio, Luzia avançou com ódio em direção à cama. Marcos a viu primeiro, num arregalar assustado dos olhos. Ana reagiu mais rapidamente, apanhando as roupas que conseguia e correndo até o corredor, como se pressentisse a presença indesejada da amiga . Não importava. Mais tarde Luzia se entenderia com a falsa amiga.

- DESGRAÇADOS! – bradou Luzia, alcançando com suas longas unhas o rosto do marido e arranhando-lhe a pele. Enquanto a raiva de Luzia aumentava sua força, a surpresa de Marcos parecia torná-lo frágil, fazendo-o capaz apenas de defender-se das investidas do joelho de Luzia contra seu baixo ventre, enquanto as furiosas unhas de Luzia desfiguravam seu rosto.

Quando finalmente conseguiu afastar a mulher com um empurrão, Marcos deu dois passos para trás, sem saber o que fazer ou dizer. Sentiu que havia deixado a grande janela aberta quando seus pés não sentiram mais o chão firme. Antes de desabar, ainda viu a expressão de horror no rosto da esposa e a formação de um grito que jamais saiu.

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