quinta-feira, 16 de maio de 2013

O pedido


 O anel posto sobre a mesa, entre os dois, exigia uma resposta.

 E agora?

 Fernanda gostava de João, claro que sim, mas...casamento? Casamento era um passo muito grande, significava transformar duas vidas em uma só. O namoro no início era um misto de contentamento e irresponsabilidade, mas há muito aquele relacionamento já havia perdido a cor, e só agora, com um anel reluzindo à sua frente, ela se dava conta disso.

 Sentiu falta dos tempos em que a vida era mais simples. Dos beijos roubados no corredor, do filme que passava esquecido na televisão enquanto eles transavam no chão da sala, das primeiras carícias, de dividir aquele pão de queijo, da voz rouca que sussurrava sempre alguma bobagem engraçada, do perfume que ficava na gola da camisa, de ler o mesmo livro que João estava lendo, de não conseguir comprar uma roupa sem antes pensar, “o que será que o ele vai achar?”.

 E naquele dia em que Fernanda sentiu falta de todas essas coisas, no dia em que sentiu falta de quando seu coração acelerava com a simples lembrança de uma cara de sono mal barbeada, no mesmíssimo dia em que foi pedida em casamento; Fernanda recusou o pedido.

 Foi para casa e deitou abraçada em um travesseiro qualquer.

 Esperou que as lágrimas sem sofrimento viessem, mas elas não vieram; e Fernanda censurou-se por isso. E assim, sentindo-se fria e ao mesmo tempo tão calma, tomou um banho e saiu de novo para a rua. 

 Saiu para um novo dia.

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