terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Refém do silêncio

Quando Álvaro viu Fernanda sair de casa pela última vez, pensou em chamar seu nome. Pensou em pedir perdão, em dizer que estava disposto a mudar, e que, finalmente; havia descoberto alguém por quem valia a pena deixar de lado aquele jeito durão.

Quando Álvaro viu Fernanda sair de casa pela última vez, pensou em dizer que a amava. Mas seus lábios permaneceram inertes. Todas as verdades jamais confessadas, por medo e fraqueza, continuaram sepultadas em seu peito. Todos os beijos que havia deixado de roubar continuaram frios em sua memória; aquelas eram recordações de momentos que jamais existiram.

Álvaro sabia que estava preso, refém não de sua solidão; mas de seu silêncio. De seu vazio, do nada que o esmagava. Ninguém poderia testemunhar a seu favor. Estava condenado a morrer de forma lenta e impiedosa, sufocado por sentimentos que não podiam mais ser derrotados por longos goles de conhaque barato.


Quando Álvaro viu Fernanda sair de casa pela última vez, engoliu o choro, abriu as janelas, e continuou sobrevivendo. Ele sabia que aquelas lágrimas nunca seriam derramadas.

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