quarta-feira, 5 de março de 2014

Uma moeda na fonte


Todos os dias, uma moedinha.

Já fazia várias tardes que eu observava aquela menina, sempre com o mesmo gingado ao andar, e sempre jogando uma moeda na velha fonte de pedra. A moça tinha um ar angelical, com o cabelo a agitar-se melodiosamente sob o efeito do vento. Uma moeda na fonte...Que desejos perpassariam sua mente?

E assim, tentando adivinhar seus pensamentos secretos, eu a observava se afastar lentamente, até desaparecer na curva de uma esquina qualquer. Era como um ritual: ela passava, lançava uma moeda, e desaparecia. E eu? Eu observava.

Então, numa tarde inquieta, caiu sob o concreto escaldante da cidade uma dessas chuvas de verão. Abriguei-me debaixo de uma marquise, sentindo as meias encharcadas dentro dos sapatos.

O relógio, - implacável! -, fazia os minutos escorrerem rapidamente.

Ela não virá, concluí, desanimando-me.

Percebi-me como um jovem apaixonado, que espera ansioso pela namorada que insiste em retardar sua chegada. Namorada. Gostei de ter pensado nessa palavra. Namorada, repeti baixinho; inúmeras vezes, talvez para me distrair e espantar aquela aflição pueril.

Quando eu já quase desistia da espera, ela surgiu. Com um vestido azul anil, protegida por um pequeno guarda-chuva, as gotas d’água salpicando seus tornozelos delicados.

Parou um instante diante da fonte, contemplou-a, e jogou ali uma moedinha, para, em seguida, continuar seu caminho.

Suspirei. De amor ou de alívio?

E então, sorri: ela sempre vem.

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