quarta-feira, 4 de junho de 2014

Certa rua sem saída

Vi ontem uma cena que me deixou nostálgico. Foi quando a tarde já estava caindo, cedendo lugar à noite fria, e dois meninos jogavam com uma velha bola, numa rua sem saída. Ali, naquele instante fugaz, nada mais parecia importar: as guerras, as eleições, o aumento da conta de luz. Nem mesmo o frio enregelante de junho era capaz de arrefecer a vontade com que os meninos travavam aquela disputa.

Sei bem o que sentiam aqueles garotos, porque eu também já abri a costura de muitos pares de tênis em jogos de fim de tarde. Já esfolei o joelho, sem dar muita atenção pra isso; e incontáveis vezes voltei para casa, todo sujo e suado, pronto para ouvir o ralhar da minha mãe. Sei bem o que se pensa nestas horas, e sinto saudade de quando eu era imbatível, porque sabia que nada poderia valer mais do que fazer a bola perpassar a linha imaginária da goleira feita no improviso.


Por um instante, quis que fosse essa a imagem que o Brasil vai passar ao mundo durante a Copa que se aproxima. As arenas, os estádios de aço e concreto que foram erguidos de norte a sul, eles são grandiosos e pulsantes; mas em nada se comparam ao grito de gol daqueles meninos correndo; e sequer conseguem chegar perto da beleza que irradia da cena singela que é o futebol na rua, os pés descalços, o sorriso de duas crianças.

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