terça-feira, 6 de janeiro de 2015

As férias e os amores de verão

As pessoas não tiram mais férias. Talvez já tenham tirado em tempos remotos, mas não mais. Agora, somos todos prisioneiros das redes sociais. Não basta que o dia esteja lindo, a vista deslumbrante ou que as companhias sejam divertidas, precisamos também de uma foto, uma imagem que comprove o quanto estamos felizes.

Há casos piores, de pessoas que levam trabalho para a beira do mar. Trocam o terno e a xícara de café por calções coloridos e água de coco, enquanto resolvem os mesmos problemas do ano todo. "Não posso me desligar", dizemos. É isso: não é uma opção. Trata-se de algo mais forte do que a nossa vontade.

Sim, as férias se foram. Aquelas em que ficávamos vários dias em uma cidade distante, e depois voltávamos ansiosos para contar aos amigos todos os detalhes daqueles dias dourados. Agora, eles já sabem de tudo em tempo real. Há outras coisas que pareciam eternas, e também se foram, como o msn, a internet discada e a Tv Globinho. Umas ótimas, outras péssimas, as coisas vão se tornado cada vez mais passageiras. Quando acabarem os amores de verão; aí sim, não haverá mais esperança para a humanidade.

Os amores de verão são a prova de que as pessoas ainda podem ser leves, cantar na chuva, morrer de amores, tomar um porre, ficar com raiva, ciúme e desejo, tudo ao mesmo tempo; e depois deixar tudo passar. Como a lembrança de um sonho agitado e bom.

Por enquanto, o certo é que não nos desligamos mais. Não diminuímos o ritmo. Estamos sempre com a cabeça em outro lugar, em outras pessoas. Já não se pode chegar sem fazer check-in. Já não se pode sair sem uma prova para compartilhar. Já não se pode mais tirar férias, esquecer do resto do mundo. Não podemos nos desligar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário