terça-feira, 17 de julho de 2012

Lado a lado


 Sempre imagino um início de história. Avô e neto caminham lado a lado, lentamente. É a hora da tardinha. O sol está se pondo e proporciona um espetáculo alaranjado no céu.
 
 O início é sempre assim.

 Na seqüência, os dois conversam.

 - Vô, amanhã o pai vai trazê o meu play 3! – conta o menino, entusiasmado.

 Ah, esqueci! O neto tem uns seis, talvez sete anos. Detalhe importante esse, e eu o esqueci. Sou um péssimo narrador, mas vamos em frente.

 Agora o avô começa a refletir. Eu só posso falar sobre a reflexão do avô, porque não faço idéia de como pensa uma criança de seis anos, e fico com medo de escrever bobagem. O curioso é que eu já tive seis anos, já estive no lugar da criança, e no do avô ainda não.

 O avô reflete e não compreende. Compreende que é um desses joguinhos que prendem as crianças por horas a fio em frente a um monitor ou a uma tela de televisão. Isso ele compreende. O que ele não consegue entender é porque não poderia ser uma bola, um pião, uma revistinha de figuras.

 - No meu tempo – começa o avô...

 As pessoas mais velhas precisam dizer “no meu tempo”. É certo que o tempo passado foi sempre melhor do que o atual para quem viveu nele. E é certo que sempre vai causar espanto nos mais jovens.

 - No meu tempo – diz o avô – nós brincávamos com uma bola feita de panos velhos- sua voz vai ficando mais baixa - A gente era tão feliz e não sabia...

 O olhar do velho fita o horizonte, mas na sua cabeça passeiam cenas muito mais distantes do que o horizonte. Um ar de nostalgia preenche a cena, mesmo que o neto não perceba.

 O menino franze o cenho por um instante. Vai perguntar algo.

 O que será?

 Mas então, se distrai com um cachorro que passa cheirando tudo o que encontra no caminho.

 E esquece o que iria perguntar.

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