segunda-feira, 30 de julho de 2012

A vida é injusta


Lembro bem da primeira e única vez em que apanhei na minha infância. Eu tinha uns sete ou oito anos e estava assistindo TV quando a minha mãe veio em minha direção, furiosa.

Alguns dias antes eu havia pegado um de seus utensílios de cozinha para brincar, não lembro o que era. E agora o objeto havia sumido, mesmo que eu tivesse certeza que o tinha guardado no lugar. Sem nada temer, resmunguei:

- Eu guardei onde estava.

E então, para minha surpresa, levei duas rijas palmadas na bunda. Lembro bem o que minha mãe falou:

- Eu não to te batendo porque o objeto sumiu, mas porque tu mentiu. Mentir é muito feio!

Bem assim ela falou. 

E eu lá, segurando as lágrimas. Doeram as palmadas, mas a injustiça doeu mais.

Não conto essa história por mágoa ou algo assim, nada disso. Sei que de um modo meio torto, minha mãe naquele dia quis me ensinar um valor, um princípio muito importante, que é até raro nos dias atuais.

Mas o resultado foi um pouco diferente do planejado: naquele dia eu aprendi que o mundo é injusto. Mesmo que você esteja certo, mesmo que você fale a verdade, é possível que as coisas dêem errado, é possível que o julgamento que façam de você seja ruim.

Aliás, existem situações em que é melhor nem falar a verdade mesmo. 

Se uma mulher lhe perguntar se está gorda, ou quando ela entrar naquela discussão interminável sobre o futuro do relacionamento, ou ainda quando ela quiser saber o que você acha de ela mudar o cabelo e fazer umas mechas; desconverse, mas jamais dê a sua opinião.

As mulheres falam mais do que os homens, falam quase o tempo todo, e isso acaba as expondo mais àquilo que elas pensam. E nós homens pensamos que sabemos mais do que elas, que temos sempre todas as respostas, o que também acaba nos expondo ao que pensamos, mesmo que de modo mais imperceptível.

Ou seja: elas não querem opinião, querem ser ouvidas. Se quisessem opinião sobre um cabelo novo, não perguntariam para nós, que usamos o mesmo corte a vida inteira. Falar a uma mulher aquilo que se pensa é tiro no pé. Melhor mesmo é falar o que elas querem ouvir.

 Isso evita brigas, evita choros, evita dor de cabeça e evita que você durma no sofá.

Pode parecer errado, mas é a lei da sobrevivência 

Agora, se preferir falar a verdade, prepare-se: a vida é injusta.

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