segunda-feira, 6 de agosto de 2012

A Caixa


 O homem entrou devagar na Sala, como que receando os perigos que pudesse encontrar ali. Seus olhos levaram alguns instantes para se acostumar com a penumbra do lugar, fracamente iluminado por algumas velas nos cantos do cômodo.

E então, ele a viu.

Discreta e ao mesmo tempo imponente, A Caixa repousava sob uma pequena mesa de centro. Parecia inofensiva. Apenas uma caixa.

Mas não era.

O homem tinha consciência disso. Ele sabia que o seu conteúdo poderia mudar sua vida daquele dia em diante. E que não havia garantias sobre o que aconteceria depois disso.

Ali, dentro da pequena caixa estava toda a história da vida do homem. Fotos, bilhetes, recortes... Tudo. Desde o seu nascimento até o dia em que iria morrer. E nisso residia todo o seu temor.

Para abri-la e descobrir como seria o seu futuro, o homem teria que pagar um alto preço. A primeira coisa que ele veria seria uma foto sua, uma foto lhe revelando como estariam suas feições no dia em que iria morrer.

Aquilo o inquietava. A história começava pelo final. Se ele estivesse bem velhinho na imagem tudo bem, mas e se não estivesse? E se ele percebesse que morreria em breve, talvez dali a uns dez anos? Como seria viver com um contador regressivo tiquetaqueando em sua mente, se aproximando inexoravelmente do final, cada vez mais perto, cada vez mais perto...?

Mas seria um risco válido? Porra, ele poderia dar as costas àquilo tudo e voltar a sua vida normal, não poderia? E se fizesse isso? E se não quisesse saber?

Era uma curiosidade mórbida, temperada pelo medo, temperada por ser algo com uma vaga sensação de ser proibido. Ele queria saber.

Por longos minutos, o homem contemplou A Caixa. Em um momento chegou a tocá-la de leve, mas recuou rapidamente a mão, como se tivesse encostado em uma superfície muito quente. Enquanto os minutos corriam, a excitação em seu peito crescia, parecia quase insuportável agora.

Era preciso agir.

O homem resolveu ir em frente. Que diabos! O medo era a barreira a ser vencida, e naquele instante ele se encheu de coragem. Era a hora de descobrir que caminhos tomaria dali pra frente. Além do mais, se o seu rumo não fosse o que ele queria, ele poderia tentar mudá-lo...Ou será que não?

Será que a vida é um jogo de cartas marcadas?

Com um turbilhão de pensamentos e um frio arrepiante a percorrer-lhe o corpo, lentamente o homem se aproximou da Caixa e lhe ergueu a tampa.

Foram milésimos de segundo em que couberam todo o receio e toda a expectativa do mundo.

E então o homem viu a foto.

A foto do dia em que iria morrer.

Horrorizado, não teve tempo para gritar. Caiu de joelhos antes de tombar ao chão, e de sua boca escorreu um filete de sangue. O assassino ainda mirou seu corpo inerte por alguns instantes antes de fugir.

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